Capítulo 9

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  As ruas parecem malditamente iguais, os becos são pequenos labirintos e ele sente que está começando a perder sua noção, Norami costumava dizê-lo para seguir em frente e em algum momento ele achará a saída e se não achar faça sua própria saída.

Escalar os telhados lhe pareceu boa ideia, as teias eram residentes e ele não era tão pesado assim, os imbecis do ministério ainda estavam atrás dele como verdadeiros caçadores atrás de um animal, uma oportunidade encurrala-lo e estaria morto com uma bala em sua cabeça. Cheng sabia para onde tinha que ir e lembrava-se do caminho, entretanto não colocava os pés naquelas ruas sem sentido a anos, tanto tempo parado tentado viver uma vida normal tinha estragado seu instinto e podia facilmente se sentir como um ex-militar aposentado voltando a ativa de surpresa, mas sem o fato de estar em boa forma apenas contado com a sorte e sua profissionalidade, se bem que sua última experiência trabalhando ainda com alguma espécie de forças armadas terminou com ele se jogando no mar e sendo salvo milagrosamente por Wei, aquele não era exatamente um bom momento para se lembrar daquilo de qualquer forma, tinha que chegar a parte alta e cruzar aquela porta antes de ser pego e morto.

Suas pernas estavam doendo, não tinha mais onde se esconder a não ser em cima do telhado onde encontrava-se agora, tinha pouco tempo para achar uma saída ou fazer a sua própria, respirando calmamente por alguns segundos pode lembrar-se da rua que levava direto para a cidade alta, apenas alguns becos a sua frente, dois para ser exatos, e estaria lá sã e salvo ou não, precisava descer e lançar-se na rua correndo como se não houvesse amanhã, nunca parando para olhar para trás apenas a sua frente.

Norami poderia estar bem ou não, tinha que torcer para que sim, não voltaria para buscá-la, mesmo que isso significasse que ela fosse morrer, a grande ironia é que ele voltaria. Mas alguns segundos ali e Cheng está nas ruas novamente, correndo pelos becos antes de atingir a avenida principal, não precisava olhar para trás para saber que o ministério estava em sua cola gritando alto enquanto jurava que iria mata-lo, os tiros soando perto e batendo contra os carros causam caos rapidamente e de repente a várias pessoas correndo, a fronteira entre a cidade alta e a cidade baixa está alguns minutos de seu campo de visão assim como aquele maldito lugar brilhando lindamente em vermelho, suas pernas vão ceder a qualquer momento e ele estará morto se parar antes de seu objetivo, um momento incoveniente para se pergunta como Wei e Norami estão, só precisava correr e pensar depois.

Um tiro passa realmente perto e Cheng cai por alguns segundos, suas roupas rasgando quando batem contra o asfalto, um pouco de sangue em seu cotovelo e em sua mão, mas não a como se importar com aquilo agora. A cidade alta está sobre seus pés agora e ele só precisava ser ainda mais rápido jogando-se contra aquela imensa porta de madeira, fazendo um baque surdo ecoar pela pancada e um coral de murmúrios surpresos ser entoado, logo em seguida som de passos suaves seguidos de silêncio, Cheng permanece caído no chão vendo os malditos dos ministérios aproximarem-se sedentos por pegar sua presa que encontra-se já sem força, porém eles são obrigados a parar ao perceber onde estão e quem está olhando calmamente para aquela situação ridiculamente incomum e inconveniente.

— Você passa um total de oito anos fora de casa, aparecendo quando bem lhe convém, sumindo logo em seguida — a voz feminina murmura — Para simplesmente surgir diante de mim assim, tão lamentável? Sinceramente irmãozinho, eu já esperei mais de você.

Cheng solta uma sonora gargalhada, ele ama o sarcasmo daquela bela mulher e sentiu verdadeiramente falta daquilo, permite-se relaxar mesmo que aquelas armas ainda estejam apontadas para sua cabeça apenas alguns metros de distância. Mas agora que ela está ali sendo tão respectivamente sarcástica, não tem muito com que se preocupar.

— Cavalheiros — sua voz soa docemente fria — Acredito que é melhor baixarem suas armas, isso é deselegante. E devo lembrá-lo que aqui, o ministério não dita as leis e sim eu.

— Senhora Jiang, esse homem é um procu...— um deles tenta uma justificativa, que é interrompida.

— Esse homem é meu irmão, então vamos fingir que vocês do ministério cometeram um engano — sorri — Vão se retirar e todos nós vamos esquecer disso. Afinal, não querem ter problemas por esses lados — os cavalheiros no salão movimentam-se acenando em um claro sinal de ameaça.

O ministério poderia mandar onde quisesse entre a cidade alta e cidade baixa, ditar sua leis, criar suas punições e até mesmo caçar seus inimigos, mas ali naquela terra antes esquecida e deixada para trás, um pequeno paraíso no inferno entre ambas cidade, apenas uma pessoa ditava as leis, Jiang Yan Li a dama da casa de Lótus ou a casa Carmesim, como havia ficado conhecida após algumas mortes de homens enviados do ministérios e de outros territórios terem acontecido ali, todas executadas pela própria Yan Li.

— Sejamos inteligentes, apenas recuem — sinaliza para que as portas sejam fechadas — Eu perdoarei vocês, mas se ainda insistirem, não haverá perdão — suas palavras saem como um sussurro antes que as portas finalmente se fechem, seus olhos agora estão sobre seu irmão — Metendo-se em confusão como um homem sem classe faria? Típico.

Passa por ele, ordenando que a música seja tocada novamente e as bebidas servidas. Um cavalheiro aproxima-se para ajudá-lo a colocar-se de pé, as roupas claras e sorriso gentil de sempre ainda são os mesmo de alguns anos atrás.

— Senhor Jiang, deselegante como sempre — o cavalheiro murmura — Na próxima tente bater, e eu abrirei as portas para você.

— Se fode Xiao XingChen — rir, sendo guiado para sala no andar de cima — Ainda por aqui durante todos esses anos? Pelo visto sozinho dessa vez, onde está o imprestável de seu maridinho de merda?

— Yan Li me pediu para ficar e ajudar cuidar da casa, aqui é mais movimentado do que aparenta — o coloca sobre um dos sofás em uma das salas privadas — Xue Yang saiu por aí, eu ouvi notícia deles recentemente por algumas pessoas, sabe como A-Yang é, sempre aventurando-se. E onde está seu irmão e a bela moça de olhos brancos?

— Estou torcendo para que nesse momento estejam vivos — murmura, vendo sua irmã adentrar a sala.

— Bom, os deixarei sozinhos, lhe trago uma bebida depois, Lótus — sorri afastando-se.

Yan Li agradece XingChen antes de sentar-se ao lado de seu irmão segurando um kit médico, silenciosamente ela trata seus ferimentos enquanto ele queixa-se pela dor. Cheng observa a face de sua irmã, agradecendo internamente por ela estar tão bem e bonita naquele vestido vermelho chamativo demais para seu gosto, mas aquilo é apenas seu instinto de irmão chato falando mais alto.

— Posso saber em que se meteu dessa vez? — enrola o ferimento perto do cotovelo em uma faixa — Sempre que nos vemos você está assim, quebrado e fugindo de alguém, normalmente Wei está ao seu lado assim como ela mas hoje se encontra sozinho.

— Não escolhi uma boa vida, gosto da emoção — suspirou — Nós fomos visitados por velhos amigos do ministério como pode ver, Norami está por aí em algum lugar e reze para ela chegar aqui.

— O que diabos vocês fizeram? O ministério é o pior tipo de gente para se estar envolvido — se levanta após terminar os curativos — Podem ficar por aqui, eu não me importo, mas pensem bem no que estão fazendo, não preocupo com o ministério em si e sim com Lan Wangji, aquele homem é bem impiedoso.

— Não se preocupe irmãzinha, não vamos morrer tão fácil — manda um beijo no ar para ela — Obrigado pela ajuda.

Ela apenas faz um breve sinal de que está tudo bem, retirando-se da sala após pedir para que XingChen cuidasse de Cheng. Yan Li segue para seu escritório logo em seguida, ainda é noite e a casa está movimentada, ela abre a porta e não deixa de notar o pequeno presente que a espera, um sorriso subindo em seus lábios enquanto move sua mão em direção ao decote de seu vestido vagarosa e delicadamente, puxando uma adaga vermelha para empunhá-la, virando seu corpo em direção as mãos que são colocadas em sua cintura fortemente.

— Te assustei — a voz rouca e levemente cansada murmura, sorrindo mesmo sentido a adaga contra seu pescoço — Bela como sempre, Senhorita Jiang.

— E você, ousada — ri, ajeitando sobre o colo da outra — É bom vê-la novamente, Senhorita Akatsuki.

Norami permite-se rir mesmo que esteja completamente fudida.

Youngblood - WangXian.Onde histórias criam vida. Descubra agora