Capítulo 4

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Não sei exatamente para que coloco o despertador se toda amanhã o que faço é ignorá-lo e voltar a dormir até que eu esteja atrasada o suficiente para não conseguir tomar café em casa.

É um vício horroroso que adquiri quando vim morar sozinha.

No fim, só tenho tempo para jogar meus equipamentos dentro da bolsa de qualquer forma, colocar um dos meus inúmeros vestidos e minha velha jaqueta jeans por cima. Minha câmera está pendurada com a fita de cetim roxa ao redor do meu pescoço, como de costume, e eu aproveito para encher a vasilha de ração de Doroteia — minha gata — antes de bater a porta e correr para pegar o uber.

O motorista me deixa em frente ao Grant Park, local onde eu e minha cliente decidimos tirar as fotos de seu noivado hoje. Ela e o noivo já estão me esperando quando chego, levemente ofegante e carregando um café espresso gigante do Starbuks.

— Ben, Carina. — Cumprimento os noivos, sorrindo para eles enquanto me aproximo às pressas. — Sinto muito pelo atraso, minha semana está um caos.

Tecnicamente, não é uma mentira.

Tive aqueles papéis para assinar na faculdade, para concluir meu curso, no início da semana, então a mudança de Layla e... Bem, e teve ontem. Ontem... Eu o vi de novo. Vi o estranho do telhado de novo.

E meio que atirei nele com o flash da minha câmera.

Balanço a cabeça, forçando-me a pensar em outra coisa.

— Imagine, Blake. Só foram alguns minutos e, de qualquer forma, só confiamos em você para tirar essas fotos. — Diz Carina, sorrindo feito uma garotinha de quinze anos prestes a debutar.

Ainda me lembro do quão insegura e pequena ela parecia ser quando iniciamos a faculdade de fotografia. Não se destacava muito na turma, nunca conversava além do necessário e sempre estava com a cara enfiada em algum livro de romance — o que me proporcionou fazer amizade com ela, já que sempre li bastante. Então, durante o primeiro ano, ela decidiu mudar o curso para jornalismo e se transformou completamente nessa garota extrovetida e simpática em minha frente.

Ela e Ben se conheceram no segundo ano de faculdade e ficaram noivos um pouco antes da formatura. Foram, de longe, feitos um para o outro.

E eu presenciei todo o romance de camorote.

Na verdade, além de Bea e Maurie — nosso amigo francês —, não consigo me lembrar de nenhum ex colega de faculdade que não tenha se casado, noivado ou ido morar com um namorado ou namorada após a formatura. Agora sou eventualmente convidada para um casamento ali, um noivado aqui ou um chá de panela lá. É bem legal, mas só até a parte em que eu me encontro sozinha em meio a tantos casais.

Depois disso só fica meio... Chato?

— Tudo bem. — Abro um sorriso grande o suficiente para que ninguém perceba o quão sozinha estou nos últimos meses pós formatura. — Vamos começar seu ensaio de noivado, pombinhos. 

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— Está fazendo de novo.

Sou surpreendida pela voz da minha irmã. Bloqueio a tela do celular e olho para ela, de pé do outro lado da ilha da cozinha de seu novo apartamento, me encarando feito uma onça avaliando sua presa.

— Fazendo o que? — Pergunto, fingindo indiferença.

Layla não cai no meu papinho nem por um segundo, ela apenas suspira e arqueia as sobrancelhas.

— Olhando para aquela foto como uma maluca obcecada. — Ela indica com o queixo o aparelho celular em cima do mármore ao meu lado. — Como costumava fazer todos os dias, durante meses, há quatro anos.

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora