Capítulo 19

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Estou pulando em um pé só pelo meu closet, procurando pelo outro par do meu sapato, pelo resto dos documentos de que preciso para hoje e pela chave do meu carro. Não estou achando nenhum, então desisto e corro para a sala, onde espero encontrar tudo isso magicamente.

Hoje é um dia importante e eu não estou nem sequer preparada para enfrentá-lo, como de costume. Não sou uma pessoa muito organizada, positiva ou focada. Sempre levei minha vida em um ritmo estranho, meio bagunçado, mas agora é diferente. Não sou mais uma garotinha, sou uma adulta casada e que acabou de abrir um negócio próprio. Tenho minha própria casa — a qual eu amo morar e cuidar, do meu jeito —, tenho uma rotina compartilhada com o meu lindo e dedicado marido, que está indo bem até agora, e tenho muitos planos para o futuro. E todo o tempo do mundo para realizá-los.

Liberdade, finalmente. Liberdade para conquistar.

Minha vida nunca foi tão boa.

Não vejo Michael na sala ou na cozinha integrada, quando chego para vaculhar os móveis e sofás e mil outras coisas que colocamos para preencher o imenso espaço do apartamento, mas posso ouvi-lo tossir pela casa. Acho o primeiro item, meu sapato, jogado perto de um dos sofás e me sento para calçá-lo enquanto olho na direção do lavabo de visitas e solto um suspiro.

— Você precisa ir ao médico, Mike. — Puxo os cordões e os amarro de qualquer jeito, varrendo o ambiente ao redor com os olhos, procurando por qualquer sinal das minhas chaves e documentos. — Está tossindo há dias.

Ouço-o resmungar enquanto continua tossindo, então a torneira é ligada e ele responde:

— Estou ótimo.

Meu Deus, me casei e ganhei uma criança teimosa como marido.

Essa é a primeira vez que vejo Michael doente, o que me deixa muito apreensiva. Ainda é estranho morar com alguém com quem eu me preocupo vinte e quatro horas por dia, depois de morar sozinha por tantos anos. Ainda mais estranho quando se trata do meu marido. É uma coisa meio assustadora.

Às vezes, no meio da noite, quando acordo e o vejo ao meu lado tão parado e silencioso, costumo verificar se está respirando e quase desmaio de alívio quando percebo que está. É estranho, mas é uma coisa que não da para evitar.

— Você também está dizendo isso há dias, mas não vejo nada disso. — Pulo do sofá e volto para a minha busca. — Vou marcar uma consulta para você quando voltar.

Ouço um barulho esquisito vindo de onde ele está, então Michael grita:

— Não!

Vejo-o sair correndo do banheiro, o rosto ainda úmido e a toalha de rosto pendurada na mão.

— Não preciso de médico.

— Você precisa sim. — Acho meus documentos, então me concentro nas chaves. — Nem consegue mais dormir de noite.

— Estou dormindo muito bem. — Ele seca o rosto, volta para dentro do banheiro, guarda a toalha e volta para a sala. — Estou me sentindo óti...

Outro ataque de tosse o impede de falar. Desta vez eu nem me dou ao trabalho de revirar os olhos, apesar de me doer vê-lo se contorcendo na minha frente.

— Estou vendo. — Murmuro.

Reviro todos os móveis da sala outra vez, mas não acho nada. Começo a ficar irritada, olhando em volta e tentando me lembrar se não as joguei sem querer na privada e dei descarga tamanho o meu estresse nos últimos dias. Ouço os passos calmos de Michael pelo cômodo, depois ouço o barulho de chaves balançando, me viro e as vejo em sua mão. Ele está erguendo-as no ar, acima do aparador da entrada, a outra mão está enfiada no bolso da calça e uma de suas sobrancelhas está erguida, lançando-me um ar arrogante.

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora