Capítulo 17

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Não sei quando minhas manhãs começaram a ficar tão entediantes se o que ainda faço é a mesma coisa que sempre fiz desde que me formei, deixei Hannah e vim morar sozinho.

Não. Na verdade, eu sei muito bem quando começou a ficar assim.

Acordar e abrir os olhos já não tem graça alguma quando sei que não vou ver seu rosto ao fazer isso. Tomar banho não é mais divertido sem ela aqui para desenhar no box de vidro embaçado. Tomar café é solitário demais quando não estou escutando sobre sua agenda de trabalho nova, ou sobre o quão animada está para ajudar Bea com algum trabalho no estúdio. Não vejo mais sua bagunça pela casa, ou suas fotografias penduradas por todos os cantos.

Não vejo mais cores.

E Blake só terminou comigo há duas semanas.

Não quero imaginar como será daqui a um, dois ou três meses.

Na verdade, não pretendo saber, porque jamais serei capaz de deixá-la ir. Estou dando um tempo a ela, porque algo me diz que Blake precisa disso, e estou me dando um tempo para pensar também. Porque, como Hannah disse, seja qual for a decisão que tomar, estarei abrindo mão de algo. O problema é que já tomei minha decisão. No momento em que Blake terminou comigo e eu me senti despedaçado, sem mais um coração batendo no meu peito, tomei essa decisão.

Não posso viver sem ela.

Não posso viver sem a minha Blake.

Por mais que me doa agora, e que em algum canto dentro de mim vá continuar doendo para sempre, talvez, posso lidar com o fato de não ter filhos. Mas não posso lidar com o fato de não ter Blake. E preciso fazê-la entender isso.

— Oi, mãe. — Estou andando e falando com o celular preso entre meu ouvido e ombro.

Oi, querido. Como você está?

— Estou ótimo, e a senhora? O papai e a vovó?

Estamos todos bem, meu amor. Só com saudade de você.

Dou um sorriso triste para o vazio do banco de trás do meu carro, onde jogo todas as minhas coisas da faculdade. Vim conversar com alguns dos meus antigos orientadores, atrás de saber mais sobre a bolsa que espero conseguir. Eu e Tom podemos ser grandes amigos, e ele pode ser bem influente na diretoria, mas prefiro ampliar minhas margens de chances de conseguir um emprego aqui quando terminar meus estudos conseguindo mais contatos. Sei que meus pais esperam que eu volte quando me formar para dar aula em alguma universidade de Calumbus, minha cidade natal, onde ainda moram, mas Chicago é minha nova casa agora. É aqui onde Hannah e Tom, meus únicos amigos, estão.

E é onde Blake está também.

E como está Blake? Faz algum tempo que não falamos com ela.

Meu sorriso desaparece e começo a lutar contra a onda de culpa que me invade agora por ainda não ter contado sobre o término a eles. Mas não posso, não antes de tentar de novo. Não estou pronto para desistir da mulher que amo, e não vou chateá-los com algo que ainda pode mudar. Eles já amam tanto Blake, mesmo sem conhecê-la pessoalmente, que o choque seria demais.

Então, forço minha voz a parecer normal ao responder:

— Ela está bem, só um pouco ocupada com o trabalho, mas está morrendo de saudade de falar com vocês também.

Assim que conseguirem uma folga, quero que venham nos visitar, está ouvindo? Já se passou tempo demais, meu filho. Queremos conhecê-la.

— Vamos providenciar isso. — Continuo mentindo e me sentindo péssimo por isso.

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora