Parte 1: O Antes - Capítulo 1

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PARTE 1: O ANTES

Nenhum aluno dormiu durante a aula de hoje.

É um progresso.

Principalmente para um professor de História, como eu. Sabemos mesmo antes da faculdade, até mesmo quando éramos alunos, que a nossa área de formação não é exatamente a matéria favorita da maioria dos estudantes, então, quando nenhum aluno dorme em uma aula minha, é um grande progresso. Isso me faz sentir um bom professor — bom o suficiente para fazer com que esses pré-adolescentes terríveis não fiquem entediados com o meu trabalho.

Gosto disso.

Quando era mais novo, mais tímido e inseguro, dar aula na frente de todas essas pessoas terríveis em formação seria horrível. Provavelmente eu teria um ataque de pânico ou coisa parecida, sairia correndo e nunca mais teria coragem de voltar. Ninguém me ouviria ou me levaria a sério, faria papel de bobo. Mas agora eu sou ouvido, porque trabalhei duro para conseguir esse feito. Meus alunos não dormem na minha aula, não fingem que não estou falando com eles e interagem por vontade própria. Mas eles são praticamente crianças, meu grande desafio será na faculdade, quando conseguir uma bolsa de doutorado e me tornar professor universitário como meu pai. É o objetivo.

O caminho até lá, porém, é... Difícil.

Encaro o relógio no meu pulso, vendo que falta pouco mais de dois minutos para o final da aula. Olho para os meus alunos e tento encerrar rapidamente:

— Resumindo, antes de darmos tchau por hoje, quero que façam a lista de questões que dei para vocês sobre a Segunda Guerra Mundial e o papel que o nosso país desempenhou nela. Também quero um resumo, valendo meio ponto.

Eles resmungam, desanimados por terem que trabalhar fora da sala de aula, mas eu sorrio.

— Não dá pra ser perfeito o tempo todo. — Zombo. — Sinto muito.

— E qual será o nosso prêmio desta vez, Sr. Hawkins? — George, um dos alunos do fundo, pergunta.

O sinal bate e eu agradeço silenciosamente por ser salvo. Me ergo depressa e começo a guardar minhas coisas, já atrasado para o meu promisso depois daqui.

— Sinto muito, meninos. Mas isso terá de ficar para a nossa próxima aula. — Digo.

Nenhum deles se levantou para trocar de sala ainda, como a maioria costuma fazer para fugir de uma matéria chata. Não consigo não sorrir com isso, porque significa que prendi a atenção deles.

— Nenhuma pista? Dá última vez o senhor nos avisou antes. — George, insiste.

— Em breve, George. — Respondo, jogando a alça da bolsa sobre a cabeça e apoiando-a no ombro. Agarro minha outra pasta embaixo de um braço e pego meu copo de café quase vazio com a mão livre. — Não esperem uma recompensa tão grande desta vez, sou apenas um professor de história. Meu salário é limitado.

Todos riem, mas consigo ouvir alguns suspiros de desapontamento. No último semestre a turma toda foi tão bem que decidi presenteá-los com um café da manhã farto de guloseimas — por sorte, nenhum pai ou mãe reclamou —, e agora eles estão mal-acostumados. Em outro semestre o presente foi um tour ao museu local, em outra prova fora um dia de esportes... Estou ficando sem ideias.

E sem dinheiro.

— Que tal chocolates? — Sugere uma das meninas, mas não pude identificar qual porque já estou correndo para fora da sala.

Paro apenas por um segundo, e respondo:

— Passo. — Sorrio comigo mesmo ao ter uma ideia. — Que tal uma sessão de filme?

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora