Capítulo 7

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Vou rolando a tela do celular devagar até encontrar o nome de Nancy, então respiro fundo e aperto para ligar.

Faz algum tempo que não nos falamos, e sinto que, assim que abrir a boca, ela saberá que há algo errado. Não que minha irmã já não tenha percebido isso, mas acho que ainda não fui completamente sincera com ela. Nem comigo mesma.

Na verdade, não sei o que estou sentindo ultimamente e até acho isso meio ridículo.

Michael e eu nos vimos apenas algumas vezes nos últimos quatro anos, antes daquele encontro no telhado nem sabíamos da existência um do outro, e nunca sequer tivemos uma conversa que durou mais de dez minutos. Não tem para quê eu me sentir tão... Confusa.

Não sou mais uma garotinha desesperada por atenção do cara bonito.

Mas sinto que não é isso.

Sinto que minha adolescência complicada não tem nada a ver desta vez, e sim que é algo completamente diferente — algo novo e que me assusta. E Nancy é a única capaz de ler isso nas entrelinhas, sem que eu precise dizer nada.

Olha só quem está ligando. — Ela cantarola do outro lado da linha, após atender. — Minha caçulinha.

— Oi, tia Nancy. — Sorrio para o vazio da sala de estar barra sala de jantar do meu apartamento. — Sinto muito pelo sumiço, as duas últimas semanas foram corridas.

Está tudo bem, querida. Se estava ocupada, não me importo. — Diz docemente, o que faz com que me sinta péssima por estar mentindo. As duas últimas semanas não foram tão complicadas assim. — Algum trabalho novo?

— Alguns, coisas pequenas. — Suspiro, observando Doroteia dormir tranquilamente no meu colo. — Estou com alguns planos em mente, na verdade.

Me conte sobre eles. — Nancy parece empolgada, o que me faz voltar a sorrir.

Ela sempre é um amor e muito atenciosa comigo, coisa que minha mãe nunca foi.

— Bem, então, estou pensando em trabalhar em algo novo... Eventos e festas, talvez.

Isso é ótimo, Blake. Tenho certeza de que vai se sair muito bem, se for isso o que realmente quer fazer.

Penso no livro do Sr. Evans e no quão incrível seria acompanhá-lo em uma viagem pelo mundo, dedicando todo meu tempo à fotografia e em contar todas as histórias por trás delas.

Meu coração está ficando incomodado com esse pensamento.

— É, é um plano. — Digo, mordiscando o lábio inferior.

Tem algo incomodando você, querida? — Ouço sua voz preocupada, sabendo que dei bandeira.

Penso em mentir, mas odeio só a ideia de fazer isso. Então decido contar metade da história, sem muitos detalhes — detalhes que nem sequer eu entendo.

— Tem um cara... — Paro, pensando melhor se devo mesmo contar. Mas agora que já comecei, ela não irá me deixar em paz, assim como Layla. Tal mãe, tal filha. — Eu não o conheço muito, nós só nos vimos algumas vezes, mas... É complicado. Ele está tomando tempo demais em minha mente para ser normal, mas não sei porquê. Nós mal nos falamos, não deveria ser assim

E como você acha que deveria ser, querida?

Mordo o lábio inferior, contorcendo os dedos dos pés apoiados na mesa de centro. Doroteia se mexe, mas não acorda.

— Não sei... Mas não assim. — Olho para o apartamento vazio à minha frente, sentindo um pouco de falta da época em que morei com Layla e meus sobrinhos. — Não estou sendo emocionada demais? Não sou mais uma garotinha para me jogar de cabeça em algo raso, certo? Não deveria estar agindo e pensando sobre isso de maneira mais madura e... Cuidadosa?

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora