Capítulo 14

115 22 10
                                    

— É estranho estar indo morar com Michael, sem ao menos ter conseguido dizer para ele que o amo?

Layla ergue os olhos da caixa que está desempacotando no meio da sala do meu apartamento — que agora é de Michael também, tenho que lembrar — e responde:

— Não. — Ela usa a ponta da tesoura para rasgar a fita da tampa. — Estranho é você conseguir dizer que o ama em voz alta para mim, mas não conseguir dizer para ele.

Sua observação é tão clara que eu estremeço com a culpa que sinto.

Eu o amo, de verdade.

Eu o amo tanto, tanto... Só não consigo dizer. Não consigo encará-lo e só dizer. Tento demonstrar isso todos os dias de todas as formas que consigo pensar, e Michael parece aceitar o que lhe ofereço, mas eu sei que, toda vez que diz para mim, ele espera que eu diga de volta. E eu quero dizer. Quero tanto dizer que sinto vontade de gritar comigo mesma por não conseguir.

Quando percebo, já estou enfiando uma almofada na minha cara com frustração. Quero me afogar no meu próprio mar de amargura e gritar para o mundo o quão burra eu sou por não conseguir dizer uma frase ao melhor homem que já conheci na vida.

Um conjunto de três palavras que eu sinto, mas não consigo dizer.

— Blake, você está me assustando. — Sinto o peso do corpo de Layla afundar o sofá ao meu lado.

— Por que não consigo dizer que o amo? — Já sinto as lágrimas inundarem meus olhos.

Layla está prestes a me confortar quando ouvimos a porta do meu apartamento ser aberta. Eu permaneço com a almofada no rosto, tentando conter as lágrimas antes que Michael ou Gale as vejam. Os dois viraram super amigos nos últimos meses, mal se desgrudam mais quando nos reunimos nós quatro, e hoje ficaram responsáveis por trazer as primeiras caixas da mudança de Michael para cá enquanto eu e Layla as desempacotamos.

Espero ouvir os dois rindo de alguma piada sem graça que um contou para o outro, mas o que escuto é silêncio total. Tanto deles, quanto de Layla.

— Blake? — Sua voz soa ao meu lado depois de alguns instantes quieta.

Abaixo a almofada e olho para o rosto da minha irmã, curiosa com o seu tom de voz.

— Sim?

Layla abre um sorriso, mas não está olhando para mim. Está olhando para a porta e seus olhos estão brilhando com o que está vendo.

Sinto meu coração disparar, porque só uma pessoa na face da terra consegue fazer minha irmã sorrir desta forma além do marido. E sei que não é Gale — ele não é tão silencioso assim.

Me viro, perdendo o fôlego quando vejo quem é.

Nancy? — Encaro a mulher parada na porta do meu apartamento, carregando o seu familiar sorriso acolhedor no rosto.

Ela está usando um suéter longo de gola alta e mangas, uma legging preta e botas de cano curto. O cabelo está mais longo do que da última vez que nos vimos, mas há mais rugas ao redor de seus doces olhos e lábios finos.

Quando me dou conta, eu e Layla estamos correndo em direção aos seus braços abertos como duas menininhas.

— Minhas garotas. — Ela ri enquanto segura nós duas e nos abraça apertado. — Cresceram mais ou é impressão minha?

— Acho que paramos de crescer há alguns anos, tia Nancy. — Dou risada do seu comentário bobo, soltando-me do seu abraço ao mesmo tempo que Layla.

O amanhã do nosso para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora