Capítulo 38 - Minha Bolsa

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Camille

Depois de conversar com minha irmã não conseguia parar de pensar em como seria conversar com minha mãe, ela me magoou muito, doeu muito e agora ela quer conversar como se nada tivesse acontecido, não sei se isso vai ser uma boa ideia, mas o que minha irmã disse tem um pouco de verdade. Eu não queria que tivéssemos brigado e não quero ficar pensando em coisas ruins quando minha filha estiver nascendo quero estar com meu coração em paz.

Por que essas coisas de família são tão difíceis? Se minha irmã não falasse dela talvez eu nem lembra-se, mas não ela tinha que pegar e falar dela... Eu não sei se estou preparada para esse momento. Eu queria ter essa maturidade que todo mundo tem para perdoar as coisas, mas eu prefiro muito mais a minha sanidade do que perdoar quem me fez mal..

- Ei? Tá pensando em que? — Felipe deitou do meu lado e suspirei.

- Nada. — acariciei minha barriga.

- Se fosse nada você não estaria com essa cara. Você sabe que pode falar comigo né? — porque todo mundo fala que a pessoa está com X cara?

- Eu sei... — olhei para ele. - Minha mãe quer me ver para conversarmos.

- Sério? — assenti. - Você vai? — dei de ombros. - Sabe que não precisar ir. — suspirei e senti sua mão acariciar minha barriga.

- Não atiça ela, já está tarde. — ele sempre faz isso, vontade de socar ele.

- Nem fiz nada. — um sonso.

- Aham, você fica mexendo com ela e depois vai dormir e eu que fico com a passista Mirim sambando na minha barriga. — reclamei e ele riu.

- Prometo não ir dormir. — bati nele. - Aí, vai me deixar roxo desse jeito.

- Você merece, deixa ela quietinha. — senti Ally começar a se agitar. - Eu vou te matar.

- Vou cantar para ela dormir. — o olhei e o mesmo se aproximou e começou a cantar uma música agitada e me a mexer na minha barriga.

- FELIPE! SAI DAQUI. — que maldito.

- Desculpa. —  ele levantou da cama rindo. - Fica calma, faz mal ficar nervosa assim.

‐ Agora você se preocupa com isso? Você vai dormir com os cachorros. — na hora que falei senti uma colica leve e já fiz careta. Odeio colica.

- O que foi? — ele veio todo preocupado até mim.

- Nada Felipe. — bufei e me cobri. - Vou dormir que amanhã eu tenho uma longa viagem até a casa da minha mãe.

- Como nada? Tá sentindo algo? Me fala, não me deixa preocupado. — reclamou sério e o olhei.

- Foi só uma cólica, nada demais. Você sabe que as vezes vem, isso é normal...

- Tem certeza? — assenti.

- Vamos dormir amor, por favor. — pedi e ele se deitou, me abraçou e eu me aconcheguei.

- Tá bom, quer que eu vá com você amanhã?

- Não precisa, eu dou conta.

- Certo. Te amo. — ele segurou meu rosto e me selou.

- Também te amo. — retribui o beijo e me aconcheguei mais em seu peito.

Que as coisas se resolvam da melhor forma possível amanhã..

[...]

Me sentei no sofá que eu não sentava a meses e sentia tanta saudade de estar ali. Observei cada detalhe a minha volta sentindo uma nostalgia tomar conta de mim, meus olhos se encheram de lágrimas e me minha mente se inundou de lembranças.

" Camille, onde você estava? Com quem você estava? Você mora debaixo do meu teto, me deve satisfação."

" Sai desse quarto e vai comer"

" Abaixa esse som, quero ouvir minha novela."

" O que esse homem tá falando não tô entendo nada. Não sei como vocês conseguem ouvir isso."  Toda vez que eu escutava alguma música em outra língua ela reclamava.

Quem diria que eu sentiria saudade de levar bronca? Sequei meu rosto e respirei fundo.

- Fiquem a vontade eu vou pegar água. — minha mãe falou preocupada e me deixou na sala com minha irmã.

- Você está bem? Está sentindo algo? — respirei fundo olhando minha irmã me olhar preocupada.

- Eu tô bem. — falei quase inaudível, sentia um nó na garganta.

- Aqui a água. —  minha mãe entregou o copo de água e bebi o mesmo.

- Obrigada. — agradeci o gesto.

- Eu vou deixar vocês sozinhas, mas vou estar no meu quarto. — minha irmã se levantou e quase a segurei.

- Não precisa sair. – nossa mãe disse e minha irmã nos olhou.

- Vocês precisam conversar sozinhas, ninguém vai se bater né? — nós duas rimos anasalado. - Foi o que pensei. Eu vou estar lá em cima. Talvez eu desça para pegar comida, porém me ignorem.

- Vai logo garota. — reclamei e ela subiu rindo.

Um silêncio ficou no ar e confesso que se eu não tivesse dificuldade para me levantar eu acho que teria fugido, eu acho.

- Obrigada por aceitar vir. — pegou o copo da minha mão e colocou sobre a mesa de canto.

- De nada. — dei um pequeno sorriso.

- Como você está? — a olhei surpresa pela pergunta, fazia tempo que ela não fazia a mesma.

- Estou bem. E a senhora, como está? — perguntei curiosa.

- Não muito bem, estou solitária e com muitas saudades de vocês duas. — suspirei. - Eu sei que eu agi de forma horrível e vocês não mereciam isso, me arrependo todos os dias do que fiz. Você é minha filha e eu te amo muito.

- Não parecia que você me amava quando me mandou embora. — falei ressentida.

- Sinto muito. Eu estava com os olhos fechados e o coração perdido, envolta em problemas alheios que absorvi. Sei que não justifica o que fiz. Você é minha filha e eu prometi te amar e proteger todos os dias da minha vida. Me perdoe por não ter feito isso, por ter me deixado levar por outros e não confiado apenas em mim mesma e no meu amor de mãe. — ela tentou segurar minha mão e afastei a mesma.

- Eu tinha tantas coisas para dizer, eu passei muito tempo pensando em dizer coisas horríveis, tantas respostas, mas depois decidi que não merecia uma resposta, apenas deixei para lá, não queria senti a dor que sentia no meu peito ao lembrar de tudo então apaguei da minha mente. — suspirei.

- Eu sinto muito minha filha, me perdoa. — minha mãe praticamente suplicou.

- Eu preferia que nada disso tivesse acontecido Mãe, perdoar é uma palavra muito forte, mas eu não quero mais essa coisa entre a gente isso só faz mal.

- Mas.. — fiz sinal com a mão para que ela esperasse eu falar.

- Eu senti muita raiva, muita tristeza e guardei tudo para mim, mas eu não queria passar isso para minha filha então eu decidi esquecer isso e pensar no quão a senhora foi uma boa mãe e que eu não devia levar para o coração as coisas que aconteceram e que me disse, mas ainda não estava pronta para te desculpar ou vê-la.

Desabafei minha dor mesmo com vergonha de falar, sempre guardo as coisas para mim, mas prometi não ficar guardando sentimentos ruins, minha filha sente tudo que sinto e me sentir mal com tudo isso não valia a pena.

- Quando a Bea falou que vocês duas estavam mantendo contato senti como se tivesse levado um soco no estômago, me senti traída por ela, mas entendo que ela tem os próprios sentimentos e todo direito de decidir por si só com quem falar. Porém eu pensei muito se não era a minha hora de tomar uma decisão a respeito do que aconteceu. Embora parecesse ter sido definitivo as palavras ditas e soasse como um fim no nosso relacionamento. Nós como mãe e filha nunca fomos inimigas decretadas e sempre houve amor, carinho e conversa. — minha mãe ouvia atentamente minhas palavras. - Em parte não fazia sentindo, eu quis muito que aquele dia não nunca tivesse acontecido, mas sei que em momentos de desespero as pessoas tomam decisões extremas sem pensar. Eu amo a senhora e sempre vou amar. — sorri de forma sincera e me levantei do sofá.

Minha mãe imediatamente me abraçou e eu retribui o abraço. O melhor abraço do mundo. Senti uma sensação muito boa no coração. Por muitos dias desejei esse momento e agora estava acontecendo.

- Me desculpa minha filha, eu sentia tanto sua falta. — ela me apertava no abraço e logo a Ally reclamou.

- Tudo bem, mãe. — ri. - Agora afrouxa o abraço um pouco que sua neta está sendo esmagada.

- Ah meu Deus me desculpa. — ela se afastou preocupada e acariciou minha barriga.

- Tudo bem, chega de desculpa.  — sequei meu rosto. - Eu soube que a senhora fez umas coisas para comermos. — quando cheguei senti o cheiro do meu prato preferido de dias festivos exalando pela casa e já fiquei salivando.

- Nossa seu olfato está muito bom mesmo. — ela riu e me puxou para cozinha.

- Eu ouvi falar de comida? — minha irmã apareceu bem na hora.

- Se você ia ouvir a conversa para que saiu? — impliquei com ela

- Quem disse que eu estava ouvindo? — falou toda sonsa e eu e minha mãe rimos dela.

Terminamos de comer e ficamos conversando por horas, fui a meu antigo quarto e matei um pouco da saudade. Enquanto eu andava pelo quarto senti uma uma cólica forte.

- Camille você está bem? — neguei.

- O que você está sentindo minha filha? —

- Não sei, parece só uma cólica, mas pode ser uma contração. Será?— respirei fundo e senti outra cólica.

- Você quer ir para o hospital? — minha mãe perguntou e assenti.

- Okay, vamos. Vou pedir um carro. — minha irmã pegou o celular e descemos para sala.

- Cadê meu celular? Preciso falar com o Felipe. — pedi e minha irmã me entregou.

- Sua bolsa não estourou, fica calma. — parei por um instante, mas senti outra cólica. Não sei o que fazer, mas já estar no hospital seria melhor.

- Eu estou calma, mas estou com cólica e eu odeio cólica. E se for uma contração? Eu fico preocupada eu nunca fiquei grávida.— reclamei e coloquei o celular no ouvido.

| Oi meu amor, já estão vindo?
| Não Felipe, eu estou indo para o hospital.
| Para o hospital?
| Siiiim — senti outra cólica bem na hora.

| Eu tô com umas cólica bem estranhas.

Dei o celular para minha irmã e entrei no carro sendo seguida por ela e minha mãe.

| Depois te ligo.

Minha irmã desligou na cara dele e meu celular começou a tocar incessantemente e ela colou no mudo.

- Depois eu ligo para ele, quando a gente chegar lá.

Felipe

Estava sentando conversando com meus amigos quando meu celular começou a tocar e era ela, estava curioso para saber como foi na casa da mãe dela e quando vi a ligação mais que de pressa sai correndo com celular, atendi sem querer parecer muito curioso e fiquei foi apavorado. Depois de falar que ela estava com cólicas ela desligou na minha cara me deixando super nervoso. Será que ela entrou em trabalho de parto?

- Está tudo bem? — Bruno apareceu do meu lado e neguei. - O que houve?

- Camille. — esfregava a mão no rosto enquanto ligava sem parar para ela.

- Tá o que houve Felipe? Se você não falar eu não vou saber.

- Ela esta com cólicas. Está indo para o hospital e eu não sei que hospital. — andava de um lado para o outro.

- Ela foi ver a mãe dela? — assenti. - Vamos para lá.

- Elas estão indo para o hospital Bruno. Como vou achar elas?

- Eu sei, mas você não acha que ela está indo para o hospital mais próximo? Ela não vai vir para cá correndo o risco de parir no carro, então é melhor a gente já estar por lá.

- Tá isso que você falou faz sentido. Então vamos.

Nunca troquei de roupa tão rápido, peguei meus documentos e algo que achei que ela pudesse precisar fomos rumo a casa da mãe dela.

Camille

Assim que chegamos a maternidade minha irmã já começou a falar que eu estava com contração e logo me levaram para uma sala. O médico começou a me examinar mexendo na minha barriga e fazendo perguntas como quantas semanas eu estava, se minha bolsa tinha estourado, de quanto em quanto tempo eu estava sentindo as dores. E quando ele quis ver se eu estava com dilatação aí eu fiquei nervosa.

- Isso é mesmo necessário? — perguntei.

- Sim. Você está com cólicas, sua barriga está dura pode ser contração de braxton hicks. Seu bebê pode estar apenas encaixando, mas se for realmente contrações e você tiver em trabalho de parto eu vou ter que te internar. — não agora não.

- Eu não quero ser tocada. — reclamei e minha irmã e minha mãe entraram.

- E aí? — perguntou curiosa.

- O obstetra quer fazer o exame de toque, mas eu não quero.

- Quer que eu chame uma enfermeira? — perguntou preocupado

- Não, o problema não é quem vai fazer o problema é que eu não quero.

- Eu sei que pode ser desconfortável, mas prometo ser respeitoso e apenas fazer meu trabalho para o seu bem e o bem do seu bebê. — respirei fundo e assenti.

Me levantei da maca, tirei a calcinha com ajuda da minha irmã e voltei a me deitar, que merda. Abri as pernas tentando não ficar nervosa, mas difícil quando um estranho está vendo minhas partes íntimas. O médico colocou as luvas e de forma cautelosa abriu minha vagina e por Deus que merda estranha.

- Bom sem dilatação e como sua bolsa não estourou, pode ser que sejam realmente contrações de treino. Mas vamos monitorar com aparelho para poder termos certeza. — o obstetra avisou e suspirei aliviada. ‐ A enfermeira já vem para por o aparelho e o soro, qualquer coisa só chamar. — disse e saiu.

- Fala sério. — nessa hora senti outra contração de treino. - Falou com Felipe?

- Sim, ele já está vindo.

- Eu tô nervosa, mas não quero ficar nervosa se não daqui a pouco inventam de fazer cesaria e eu não quero.  — reclamei.

Por sorte minha pressão não tinha dado alterada, eu tentei meditar e me manter calma durante o percurso até a maternidade. Li muito sobre os médicos picaretas que obrigam as mulheres a fazerem cesarias alegando que o bebê está em sofrimento quando não estão.
Depois de uns minutos a enfermeira entrou e colocou um aparelho em mim chamado cardiotoco que monitorava o coração do bebê e todas as vezes que ela se mexesse eu tinha que apertar o botão.  Minha mãe e minha irmã ficaram do meu lado e isso me confortou se eu tivesse que ficar sozinha não sei se estaria bem.

Já tinham se passado meia hora e finalmente Felipe chegou super preocupado ficou fazendo várias perguntas querendo saber tudo que tinha acontecido, mas eu o tranquilizei disse que já estava melhor e que talvez não tivesse na hora ainda.

- Tem certeza. — perguntou enquanto segurava minha mão.

- Sim, Felipe. Eu tenho certeza, já não estou sentindo as contrações o G.O deve me liberar

- Fiquei com medo de não chegar a tempo. Que nervoso. — ri dele e ele me olhou sério.

- Está tudo bem meu amor. Relaxa. — apertei a mão dele.

-  Homens são muito estranhos. — minha irmã falou e olhamos para ela.

- Você fala isso porque você já estava com ela. Eu estava muito longe. Eu queria estar do lado dela caso nossa filha nascesse. — falou todo sentido.

- Ela esta implicando com você, não caia. — avisei a ele.

- Cadê esse médico que não volta? — minha irmã revirou os olhos e foi até a janela do quarto.

- Vamos manter os ânimos calmos? Já já o médico vem. — minha mãe reclamou com os dois e suspirei.

- Quero ir embora. — na hora que falei a porta abriu e o médico entrou com uma enfermeira.

- Nossa quanta gente. — ele olhou envolta e pegou o papel que saia da máquina com os batimentos da Ally. - Aparentemente está tudo bem e vocês vão poder ir para casa, as contrações pararam certo? — assenti. - Vou verificar novamente se tem dilatação. — fiz uma careta, mas se fosse para ir embora eu aceitava.

- Deixa eu tirar isso primeiro. — a enfermeira veio até mim e removeu o aparelho, mas não o acesso do soro.

Me ajeitei na posição e Felipe ficou olhando meio incrédulo.

- Nada de dilatação, vou assinar sua alta e se sentir algo retorne a maternidade. — o médico avisou.

- Pode deixar. — assenti e a enfermeira veio tirar o acesso do soro e depois saiu com o médico.

- Isso é estranho o cara te olhando. — fez careta.

- Você achou estranho? Imagina eu? — mas agora já passou. Por enquanto.

- Sinto muito. — assenti.

Ficamos esperando o médico voltar e quando finalmente apareceu aí sim respirei aliviada. Nos despedimos da minha mãe que foi para casa e depois nós fomos para casa, nem acredito que passei por um susto desses, quando via as pessoas falarem de contrações de treinamento parecia mais simples do que realmente é. É bem assustador e estranho, mas ainda não era hora de ver e ter minha filha nos meus braços ela ainda vai ficar aqui no forninho por mais um tempo.

[...]

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Cardiotoco: Cardiotografo aparelho utilizado para verificar a frequência cardíaca fetal.
G.O : Ginecologista Obstetra.

Olá queridos leitores, acho que esse capítulo ficou enorme né? E olha que eu não coloquei nem a metade do que eu queria por, mas achei que eu estava demorando demais para finaliza-lo então cortei o mau pela raiz. Obrigada por lerem e até o próximo capítulo. Bjs

Amor Por Acaso (Felipe Neto)Onde histórias criam vida. Descubra agora