Ayla voltou a ver seu maestro, as noites e de dia eram feitos os ensaios e apresentações. A ópera de Romeu e Julieta era um sucesso estrondoso. Todos apreciavam a peça de Shakespeare, mas faziam duras críticas a Carlotta. Erik planejou atrapalhar os ensaios. E interferiu, colocando soníferos na bebida de Carlotta e sumiu com seus figurinos. As vezes a diva aparecia no ensaio cansada e sonolenta. E nas noites das apresentações, que aconteciam no sábado, o fantasma fazia de tudo para que ela fosse atrapalhada. Incluindo assustá-la com ratos no seu camarim.
Carlotta estava assustada e nervosa. Não conseguia se concentrar nem ao menos cantar corretamente. Estava com a voz desafinada e no palco acabava tendo problemas com o figurino. A roupa por vezes pinicava, o que era um dos motivos para seu estresse e desempenho lamentoso.
Contudo, isso não desmotivava aqueles que vinham assistir a ópera. O público apreciava Carlotta, devido ao fato de ser uma soprano incrível e por vezes ser cômica e divertida no palco. Tudo isso causado por Erik. Mesmo com seus esforços em desmoralizá-la, a prima donna ganhava mais simpatia dos espectadores.
- Eu tenho certeza de que é esse maldito fantasma. Maldito fantasma que não desaparece! - ela gritava no camarim, sentindo uma coceira horrível pelo corpo - Eu vou descobrir a identidade dele. Ah, ele que me aguarde. Verá fúria da Carlotta Giudicelli.
- Acalme-se, Carlotta - pediu Rosalinda, tentando ajudar a tirar o figurino da prima donna - Precisa se acalmar e pensar. Alguém aqui de dentro está com inveja da sua voz. Com certeza. Não há fantasmas. Isso não existe.
A diva fitou Rosalinda com desdém.
- Se existem alguém aqui com inveja, essa é você - acusou Carlotta, com os olhos negros a fitando com raiva - Você tem a voz tão pura, como o conde disse, não tem? Talvez, você esteja me sabotando.
Rosalinda a fitou com assombro, apertando os punhos.
- Como pode dizer isso? Estou contigo apoiando-a em tudo. Em tudo que faz aqui! É uma ingrata.
Carlotta segurou o braço de Rosalinda e fitou com um olhar estranho. Era um olhar maléfico.
- Ouse tentar retirar minha coroa e padecerá nas minhas mãos. Ouse!
Rosalinda sentiu o aperto em seu braço e se soltou, correndo para fora do camarim. Carlotta suspirou fundo, fitando-se no espelho. Sentia-se impotente. Rosalinda era belíssima, apesar de ter um rosto quadrado e não oval como o da irmã, Amélie. E tinha grandes olhos claros, azuis esverdeados e cabelos loiros. Loiros como eram os de Christine Daae. Carlotta sentiu a cólera invadir seu ser. Como odiou Christine. E sentia-se regozijada por saber que a soprano havia sumido, não deixando vestígios. Diziam que havia morrido no incêndio. E a diva comemorou com a morte de Christine. Sentia-se muito bem em saber que seria por ter seu lugar de volta como prima donna. Tinha o apoio do conde. Mas, sempre surgia uma nova soprano. Uma moça mais bela que ela, a todo momento. E isso irritava demais Carlotta. Como poderia competir com elas, se estava ficando velha? Fitou-se no espelho, vendo seu rosto ainda com traços belos, mas com algumas rugas no canto dos olhos. Sentia que em breve, o frescor da juventude iria sumir.
- Senhora Giudicelli - disse uma voz familiar na porta do camarim. Era o conde de Chagny.
Ela viu o visconde e o conde adentrarem o recinto. O conde carregava um buque de rosas vermelhas, que entregou nas mãos da diva.
- Sinto muito pelo que houve, senhora - ele disse, a fitando com um ar afetado - Eu não posso imaginar o que esteja acontecendo por aqui. Mas, prometo encontrar o culpado. Saberia quem poderia estar por trás disso?
- Com certeza é aquele maldito fantasma da ópera. Ele pode ter desaparecido, mas retornou. Ele retornou! - ela respondeu, histérica, largando as rosas sobre a penteadeira, em frente aos espelhos.
- Isso não pode ser obra de um fantasma, senhora - ele disse, incrédulo - Até hoje duvidei da sua existência. Não é possível que tenha sido ele. Se for alguém, deve ser uma pessoa em carne e osso.
- Eu lhe disse, Philip. Esse maldito fantasma está rondando a nossa casa. Ele ainda me envia cartas, o tempo todo. Como se fosse culpa minha que Christine morreu - Raoul se lamentou. E estava com profundas olheiras - Se ela não fosse tão tola de acreditar nesse maldito anjo, nada disso teria acontecido. Nem o incêndio.
Philip suspirou.
- Por favor, não acreditem nessas tolices. Há alguém que está pregando peças na família Chagny e com certeza na senhora Giudicelli. E irei descobrir. O culpado será preso. Não se preocupem.
Carlotta suspirou, abraçando o conde, que retesou ao toque da soprano.
- Ó, obrigada monsieur. Obrigada por ser tão generoso - ela disse, com um ar malicioso - Precisamos conversar, em particular. Preciso de um outro favor.
Philip fez um gesto com a cabeça para Raoul que saiu do recinto. O visconde saiu com um olhar enviesado. Achava estranho seu irmão sempre conversar com Carlotta a sós. Mas, não estava se importando com nada disso. Sentia dores de cabeça terríveis e seus pesadelos noturnos não o deixavam em paz. Sonhava com o teatro pegando fogo, com Christine gritando e algumas vezes se sentia observado, na madrugada. Parecia estar sendo perseguido por algo que não compreendia. Por um fantasma, o mesmo que sua noiva falecida dizia ser o anjo da música. Parecia algo tolo no começo. Ela rendia elogios ao professor misterioso. Mas, com o tempo, Raoul notou que ela parecia obcecada.
O visconde sentia carinho por Christine, devido ao tempo que viveram juntos na infância. Iria protegê-la, mas não interromperia seu modo boêmio de viver. Apenas, cuidaria para que Christine tivesse tudo em sua vida. Somente ela se elegia como sua esposa. Era pura, casta e dócil. Todos os atributos necessários para uma noiva. Mas, ele a perdeu para um fantasma. O eco de um músico. Um maestro que havia morrido queimado na décima segunda ópera de Paris. Era o que diziam sobre o Fantasma da Ópera. E era o que Raoul acreditava.
Ele percorreu os corredores e esbarrou com alguém em seu caminho. Fitou Amélie. A bailarina. Nunca chegou a conversar com ela. Seu irmão, Philip, era encarregado de encontrar novos talentos. Era um negócio importante para a família Chagny. Investir em músicos, bailarinas, cantoras e maestros para trazer a Ópera de Paris. Todos da sua família apreciavam música. Contudo, Raoul, mesmo apreciando, tinha sua mente voltada para os prazeres da vida. Era hedonista e não se importava com ninguém, a não em satisfazer seus próprios desejos.
- Desculpe-me, senhorita – ele pediu, sem ao menos se lembrar do nome da bailarina. Quando fitou os olhos esverdeados da bailarina, sentiu ver Christine diante de si. Ficou atordoado – Eu estou muito distraído.
Ela corou, olhando para os próprios pés.
- Não há problema algum, monsieur – ela disse, sorrindo levemente.
Apesar de todas as advertências, Amélie era fascinada pela beleza dos irmãos de Chagny. Não havia como não ficar entusiasmada com a atenção deles. E notou que Raoul, o irmão mais novo, não era de oferecer suas atenções. Apenas Philip fazia isso, enviando flores a todas as moças que compunham o corpo das bailarinas e do coro. E mesmo com o fato de saber que Raoul se envolvera com Ayla, não sentia que ele fosse um cavalheiro libertino. Ela notou que ele parecia cansado. Até mesmo com olheiras. Seus olhos azuis estavam apáticos.
- Muito bem, eu devo ir – ele disse, se afastando dela, mas observando o rosto oval da bailarina. Sentiu dentro de si algo estranho, como se pudesse ver Christine nela – Qual é seu nome, senhorita?
- Amélie Duchamp, monsieur – ela respondeu, com tímida.
- Amélie – ele disse, distraído – Senhorita Amélie, gostaria de passear comigo? - Ela assentiu.
Eles percorreram o caminho para fora do teatro. Raoul a levou para passear de carruagem, do mesmo modo que fez com Christine, no passado. Naquela noite, o visconde parecia mergulhado nas lembranças distantes, lembrando-se de sua amiga de infância, não conseguindo se desligar dos problemas que o rodeavam.
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Um assassino em Paris - O Fantasma da Ópera
FanficAyla Brown buscava uma forma de ser reconhecida pelo seu talento. Sua voz de soprano era tudo que tinha e queria lutar por seu sonho: ser cantora de ópera. Com uma oportunidade irrecusável, se muda para Paris, mas descobre que apenas será uma bailar...