Capítulo 22

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Em tempos difíceis, deve se tomar decisões ainda mais difíceis. Ayla já tinha escutado isso em algum lugar. Ela tomou a decisão mais difícil da sua vida, quando resolveu aceitar a proposta para ser bailarina em Paris. Conhecer um lugar estranho, pessoas diferentes e estar fora do seu conforto eram algo novo para ela. A proposta havia aparecido no momento mais difícil da sua vida. Quando se enganou com o filho de lorde Hamilton. E agora, naquele instante, em que ouvia outra proposta, mas dessa vez, para se casar, não sabia se estava disposta a mergulhar nessa experiência. Imaginou que se casando, poderia ter uma vida tranquila. Até mesmo cogitou Raoul, mas percebeu o quanto ele era fútil e com atitudes desprezíveis. E agora que tinha conseguido o papel de Marguerite e conquistar a critica e publico, estaria bem em sua carreira como cantora de ópera. Não havia mais um assassino rondando Paris. Tudo estava bem, mas seu coração estava despedaçado. Ela sentia que não iria conseguir respirar direito. E apesar disso, estava se acostumando ao vazio. Era melhor do que sonhar com tolices.

Fazia dois meses que Erik a havia rechaçado. Dois malditos meses em que ele havia dito a ela que iria embora de Paris. Que começaria uma vida nova em Londres. Ela desejou a ele sorte. Desejou que ele fosse feliz, mas por dentro estava sangrando. Partida ao meio, sentindo seu mundo ruir. Seu coração estava estilhaçado em cacos de vidro e toda a vez que ela tentava juntar, se cortava. Era uma dor que custou a ir embora. Mas, finalmente fora. Depois de longos dias chorando sem dormir. Sem ter paz. E logo veio o vazio, a aceitação de que nunca iria conseguir alcançar Erik. E enviou cartas a ele. Diversas cartas. Ele respondia com certo entusiasmo. Tornara-se seu amigo. Contudo, parecia que cada vez que escrevia, mais arrancava uma parte de si, deixando gravada a si mesma com a tinta sobre o papel. Com as palavras que dedicava a ele. E isso não estava lhe fazendo bem. Resolveu cessar a comunicação. E parece que do lado dele também fora decidido o mesmo. Era melhor assim, ela pensou. Melhor do que alimentar esperanças vãs.

E naquele momento, escutava a proposta de casamento. A mais estapafúrdia e extravagante. Em que duas pessoas poderiam se juntar em matrimonio, pois tinham semelhantes personalidades. Aquilo era uma inverdade, ela pensou. Ela não era parecida com ele. Nem de longe. Ela era como fogo que se alastrava, sem deixar nada pelo caminho, apenas cinzas. E ele era como uma brisa leve de verão. Que toca, mas não produz nada, a não ser quem sabe alivio. Ele era um bom amigo. É claro. Um ótimo amigo, que a incentivava a continuar sua carreira. E que estava presente enquanto Erik resolvia se manter afastado. E cada vez mais silencioso.

Não, não era uma boa ideia. Pensou consigo mesma. Não seria uma boa ideia. Ela andou de um lado a outro do telhado, sentindo a brisa gelada do outono tocar sua face. Como desejava que Erik estivesse ali. E não na maldita Londres, onde ela jurou que nunca mais ia colocar os pés. Se fosse tão sem orgulho, iria pegar um trem e o encontraria, imploraria que ele a amasse. Faria tal coisa, sem pensar duas vezes. Mas, para quê? Para ela a rechaçar? De jeito nenhum. Ela tinha seu orgulho a manter. Sua dignidade. E se ele não poderia ama-la, então, que outro a amasse. Que outro a beijasse, que outro fizesse amor com ela. Ela ruborizou ao pensar nisso. Nunca chegara a vias de fato com nenhum homem. Era casta. A não ser por toques inapropriados, mas ainda era virgem. E queria entregar-se ao homem que iria ama-la verdadeiramente. Não um cavalheiro que somente a via como objeto de prazer. Ah, isso nunca! Mas, pensando bem, a proposta dele não fora tão ruim. Ele não pedia que ela o amasse. Apenas que o respeitasse. E que o amor iria nascer, conforme eles se conhecessem melhor. E que ele tinha uma admiração por ela, gostava dela. E que somente a tocaria se ela desejasse. Que ela seria respeitada, quanto à carreira de cantora de ópera, pois afinal, ele amava música. E fora isso que o demovera a pedi-la em casamento. E disse que eles eram tão parecidos. Ela riu sozinha, ao lembrar-se disso. Nunca seriam parecidos. Ela desejava paixão e ele lhe dava uma vida de casados monótona.

Um assassino em Paris - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora