Capítulo 5

161 20 5
                                    


Ayla, depois dos ensaios com as bailarinas, foi para o camarim, junto com Meg e Emma. Suas duas melhores amigas. E elas discutiam o próximo espetáculo. E queriam saber o que Ayla fazia todas as noites, depois dos ensaios. Elas sabiam que já havia terminado com o visconde.

- Pode dizer agora – disse Meg, arrumando os cabelos de Ayla, em frente ao espelho – Eu sei muito bem que a senhorita não está mais com o visconde. E que está voltando tarde para o dormitório. Eu vi isso ontem. Como pode esconder de nós o seu novo pretendente?

Ayla ficou vermelha. Podia ver suas bochechas corarem em frente ao espelho. Observou seu reflexo. Tinha a pela branca demais. Os cabelos negros como piche. E os olhos azuis, quase turquesas. Era bonita, sabia disso. Mas, se tratando de cavalheiros, ela nunca teve um de verdade. Apenas enamorava de um, mas nunca entregara seu corpo a nenhum deles. Gostava das atenções que recebia. Do carinho. Mas, ansiava amor. E nenhum deles parecia disposto a dar. E o único homem que amou a desonrou. E ele estava em Londres, desfilando com um dândi e casado. Era um maldito marquês, que se preocupava mais consigo mesma do que com ela. E pensar em ter um pretendente era algo que não desejava. Pensou que Raoul poderia ser um homem diferente, com seu olhar angelical e cabelos loiros. Mas, logo percebeu que seria mais um patife. Não que ela fosse uma mulher pura e casta, mas queria alguém que lhe pudesse dar segurança e um nome. E não poderia ter isso, era melhor ficar sozinha e seguir com o planejado. Ser uma cantora de ópera.

- Eu não tenho nenhum pretendente – ela respondeu, sem fitar os olhos de Meg, pelo espelho.

- Ah, por favor, Ayla. Sabemos que deve ter alguém envolvido nessas suas saídas noturnas – disse Emma, com um sorriso sonhador – Quem é seu príncipe?

Ayla não teve tempo de responder, pois a porta do camarim se abria. E pode ver Raoul, com um olhar zangado. As bailarinas ficaram tensas pela presença do visconde. Nenhuma delas gostava dele, de fato. Sabiam que ele havia enganado Christine, há anos e queria fazer o mesmo com Ayla. O visconde só se importava com seu próprio prazer. E benefícios que teria ao lado de uma dama formosa.

- Ayla, por que me evita? E quem é seu novo admirador? – ele perguntou, com a voz tensa.

- Milorde, por favor, saia agora. Estamos nos arrumando. Como entrou aqui? – Meg perguntou, com um olhar feroz.

Ele a fitou com desdém.

- Meu irmão é curador do teatro. Entro quando eu desejar – ele retrucou e se aproximou de Ayla, que o fitava com espanto – Ayla, meu amor. Não pode me deixar.

Ele tentava pegar suas mãos, mas ela se levantou da cadeira e se afastou.

- Saia daqui Raoul. Não quero vê-lo. Já não suporto mais suas cartas ou seus presentes – ela disse, com a voz tremula.

Ele a fitou com mágoa.

- Muito bem. Eu irei embora. Mas, não pense que isso ficara assim, Ayla. Não ficara. Pois, ainda será minha – Dizendo isso, ele saiu de forma irada do camarim.

Atrás dos espelhos, o fantasma escutava tudo. Ele conhecia uma passagem para aquele camarim e fora ali justamente para saber como estava sua aluna. Ayla não saia dos seus pensamentos. Não a amava, ele sabia disso. Apenas admirava ela. E queria saber como ela estava. E pode ouvir a conversa do visconde com ela. Sentiu seu coração dolorido e apertado. Parecia que tudo iria se repetir, ele pensou, amargo. Mas, dessa vez, eu irei vencê-lo, visconde. Ninguém iria tomar sua aluna.

Erik, seu nome que ele não pronunciava para ninguém, conhecido apenas por Christine e Persa, demorou muito tempo para trazer Ayla ao teatro. E um muito mais para ter sua confiança. Ele acreditava nela. E não sabia o motivo. Em um sonho, escutava Christine lhe dizer que precisava ajudar aquela jovem e ele, obediente, deu razão àquele sonho misterioso e resolveu ajuda a aspirante cantora de ópera. E pode sentir a tensão dela, ao ouvir o visconde. Iria protegê-la. Custe o que custasse. Logo ouviu as meninas saírem, mas sabia que Ayla estava sentada, em frente ao espelho, com lágrimas nos olhos. Ele podia ver pela fresta entre a parede o espelho do camarim.

- Senhorita – ele disse.

- Fantasma, é você? – ela perguntou, com a voz tremula.

- Sim, sou eu – ele respondeu, com a voz branda.

- Ó, o senhor está mais uma vez se escondendo – ela disse, com um tom brincalhão.

Ele sorriu.

- Não estou escondido. Na verdade, há uma passagem secreta aqui, senhorita. Eu apenas queria ver como a senhorita estava.

- Está me espionando? – ela perguntou, em tom de advertência – Saiba que não gosto disso.

- Ahn...eu sei que não deveria, mas, me preocupo com o seu bem-estar. Apenas isso - Erik sabia que estava tentando absolver-se da culpa, mas, estar próximo dela era gratificante para ele. Depois de tantos anos de solidão.

- Hum...tudo bem, senhor. Mas, e se eu estivesse a me trocar? Hum? Seria indecente – ela ralhou.

Ele deixou um riso escapar.

- Se estivesse, eu daria meia volta. Não sou um despudorado - O silêncio entre os dois permaneceu – Está triste, senhorita? Escutei o visconde a importunando.

- Ah, está tudo bem, senhor. Eu sei lidar com tipos como ele.

- Ah, mas deveria ficar mais atenta. Eu posso cuidar disso para a senhorita – ele se propôs. E sentia um ciúme estranho invadir seu ser. Na mesma intensidade que sentia por Christine, ao ver Raoul ao lado dela, há tantos anos.

- Bem, se puder assustá-lo, só um pouquinho – ela disse, rindo – Ou melhor, deixe isso de lado. Não quero recorrer a isso. Mas, tem momentos que esse homem é insuportável!

- Posso fazer isso para a senhorita. Espere e verá – ele disse, com satisfação.

- Não, senhor. Esqueça isso. Não leve meu pedido a sério – O silêncio se fez presente no camarim. Ayla tentou escutar algo, mas não podia mais ouvi-lo – Senhor fantasma? Ah meu Deus. O que fiz? Será que ele vai matar Raoul?

Ayla ficou tensa. Esperava que a peça que o fantasma pudesse pregar não fosse a morte do visconde. Talvez, um lustre caindo, para assustá-lo. Ou ele aparecendo como um verdadeiro fantasma, para amedrontar Raoul. Seria divertido, ela pensou. Mas, não desejava a morte daquele homem. Apenas que a deixasse em paz.

Um assassino em Paris - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora