Capítulo 12

126 17 0
                                    


Ayla adentrou o corredor escuro e cheirando a mofo. Sentiu seu coração acelerar. Temia encontrar animais peçonhentos naquele lugar, mas continuou a caminhar, tateando nas paredes de pedra. Os únicos sons que escutava era sua respiração retumbando em seus ouvidos e os saltos repicando no piso. Suas pernas retesavam a cada passo, como se internamente ela soubesse que não deveria estar ali. Que não deveria pisar naquele lugar. Mas, sua curiosidade quanto a Erik era muito maior. E isso a moveu até chegar ao fim do corredor.

Ela encontrou uma escada de pedra e uma luz fraca, iluminando o lugar. Ela desceu e teve a visão de uma espécie de rio ou lago. E ao lado, uma casa. Era uma casa no lago, ela reconheceu com espanto. Então, era ali que o fantasma vivia. Por isso, ele conseguia se esgueirar com facilidade. E sabia tudo que aconteceu no teatro. Ela desceu as escadas e logo encontrou seu maestro a fitando com um ar irado. Ela retesou, mas, tentou não demonstrar medo.

- O que faz aqui? – ele esbravejou, avançando sobre ela – Ninguém pode descer aqui. Ninguém!

Ela sentiu Erik apertar seus pulsos com força e uma dor intensa percorrer seu braço.

- Pare, está me machucando. Eu apenas queria falar com você – ela disse, com a voz tremula – Não me machuque.

Ele soltou, abruptamente. Andou de um lado ao outro, enquanto Ayla massageava o pulso dolorido. Que homem temperamental, Deus!, ela pensou, indignada.

- Você não deveria estar aqui – ele disse, parando no lugar e a fitando com raiva – Por que veio bisbilhotar? Está pensando em me denunciar? É isso? – ele avançou sobre ela e parecia se agigantar. Como se a força da sua irá o fizesse mais perigoso. Ele levantou as mãos e depois abaixou, apertando os punhos – Depois de tudo que fiz para você, é assim que me agradece? Me traindo?

Ela o fitou, pasma. Ele parecia enlouquecido, como se fosse um crime descobrir onde ele residia.

- Acalme-se Erik, por favor – ela pediu, tentando tocar na mão. Ele afastou com um safanão – Erik, por Deus. O que há com você? Eu não vou contar para ninguém que você vive aqui. Acha que eu faria tal coisa? Me conhece tão pouco assim? Nunca lhe trairia.

Ele a fitou, desconfiado. E começou a caminhar mais uma vez, como se esse movimento pudesse extravasar suas emoções enjauladas. Ayla queria pará-lo, mas temia que isso o irrita-se ainda mais.

- Erik, pare, por favor – ela pediu, mas isso não o fez se acalmar – Erik. Confie em mim. Acha que se eu fosse trai-lo, já não teria feito isso? Estamos há um bom tempo se conhecendo. Eu poderia ter mencionado sobre você. Mas, nunca o fiz. Jamais fiz isso.

Ele parou e a fitou receoso. Era visível que estava com medo. Mas, ela pensou que ele poderia calá-la, se fizesse algo errado. E isso ela temeu.

- Se disser algo, Ayla, eu não poderei ter misericórdia de sua vida. No momento em que colocou os pés aqui, está no inferno – ele disse, de forma soturna – E eu comando esse lugar. Sou dono e reino aqui. E você não é nada aqui. Ouviu? Nada!

As palavras deles eram cortantes e machucavam Ayla profundamente. Ela acreditou que eles tivessem uma ligação, mesmo que de amizade. E sentiu seu peito afundar. Como era tola. Logo sentiu algo úmido em seus olhos. Não poderia acreditar, estava emocionalmente ferida. E as lágrimas não cessavam.

- Está chorando? – ele perguntou, aproximando-se dela e toque seu rosto.

Ela o fitou, com amargura.

- Não vou verter qualquer lágrima por ti, senhor – ela disse, se afastando.

Ela estava voltando pelo caminho por onde veio, mas Erik a alcançou, segurando-a pela cintura. Sua boca estava colocada ao ouvido dela. Ayla sentiu seu corpo amolecer ao toque do músico.

- Desculpe-me, Ayla – ele sussurrou – Me perdoe. Eu tenho medo. Estou confiando minha vida a você. E não costumo confiar em ninguém. Preciso proteger esse lugar e evitar que alguém desça aqui. Entende isso?

Ela se virou, o fitando com mágoa.

- Pode confiar em mim. Eu jamais faria qualquer coisa para machucá-lo. Não precisava usar palavras tão duras.

Ele suspirou. E tocou o rosto dela, com hesitação. Estava a tremer. E ela achou curioso aquele fato.

- Peço mais uma vez seu perdão, Ayla. Eu fui injusto em julgar você como se fosse igual aos outros que me repudiaram. E que me excluíram.

Ela percebeu sua dor. Os olhos dele transmitiam isso. Culpa, sofrimento e um passado que ela de fato não conhecia. E deixou sua cabeça recostar na palma da mão dele. Sentiu seu coração acelerar e pode ver o olhar dele se tornar intenso. E Ayla se sentiu confusa a respeito do maestro. Não sabia mais o que sentir. Se no início teve medo, agora sentia confiança em sua presença. E ao mesmo tempo, acalento. Sem perceber, ela beijou a face dele, livre da máscara e de cicatrizes, sentindo seu coração palpitar. Quando ela se afastou, fitou o assombramento dele, diante do gesto. E isso foi o suficiente para inflamar o que existia dentro do dois. Ele beijou os lábios dela, hesitante. E eles teriam continuado, mas escutaram passos ecoando. Ele a afastou, colocando-a para o lado, como se pudesse assim protegê-la de algo.

- Erik – a voz de Persa o chamava –Precisamos conversar. Sei que está aí.

O fantasma ficou calmo. Assim como Ayla, que soltou a respiração.

- O que eu faço? – ela sussurrou.

- Pode ficar aqui. Ele sabe que dou aulas a você – Erik respondeu, sem fitá-la e avançar para perto da escada.

Ayla ficou confusa. Como Persa sabia sobre ela e Erik? A não ser que Persa fosse amigo do músico. E confidente. Ela achou aquilo interessante. Logo o administrador apareceu e ficou surpreso ao ver a bailarina nos subterrâneos.

- Ahn, Erik – ele disse, receoso – O que ela faz aqui?

- Isso não vem ao caso. Vamos entrar em conversar lá dentro – ele pediu, com o tom baixo – O que quer tenha a dizer, não deve ser dito aqui.

Ayla fitou os dois com os instintos aguçados. Sabia que os dois estavam escondendo algo. Persa a cumprimentou e entrou na casa. Erik foi até ela, segurando a mão da bailarina, depositando um beijo.

- Eu peço um instante, Ayla. Preciso conversar com meu amigo agora. Em breve estarei contigo. Pode me esperar? – Sua forma de falar era cortes e ao mesmo tempo parecia flertar – Quero levá-la de volta em segurança.

- Sim. É claro que sim. Mas, não posso ouvir? – ela perguntou, um pouco chateada.

- Não. Espero que entenda – ele disse, sério. E beijou a testa dela.

Ela sentiu seu coração acelerar, quando o viu se afastar e entrar na casa.

- Quem é você e o que fez com o fantasma? – ela se perguntou, em voz alta, com seus sentidos inebriados pelo quase beijo que havia recebido.

Um assassino em Paris - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora