Um assassino em Paris - O Fantasma da Ópera

Capítulo 20

Erik estava tentando se recuperar dos últimos instantes ao lado de Ayla. A forma como ela segurou suas lapelas, o olhar intenso e azul que ela lhe lançou. Suas bochechas ruborizadas. Ele sentiu uma vontade incontrolável, quase primitiva, de tocar a face dela. De desenhar o seu belo rosto com as pontas dos dedos. Mas, seria errado. Ele tinha essa intimidade com ela. E não deveria ter falsas esperanças. Christine o olhava com a mesma admiração. Contudo, era recatada, tímida e não tinha uma personalidade efusiva. Era comedida, amena em suas ações. Até sua forma de falar era doce e Erik sempre a comparava como uma brisa que tocava a pele, quase imperceptível. Já Ayla era o oposto. Uma tempestade, a própria força do mar o tragando, sem que ele pudesse fugir. Ele temia não querer fugir e se afogar em suas profundezas. E acabar se ferindo profundamente, pois talvez, a jovem não retribuísse seus sentimentos, não quando ele escondia seu rosto ao mundo. Não quando ele tinha a face deformada, não quando sua própria mãe o abandonara a sorte. Não quando Christine vira seu rosto sem a máscara e se assustara tanto. Pobre Christine, ele pensou consigo. Ela não fazia a mais remota ideia do que ele escondia. E fugiu temerosa de seus braços. Ele fechou os olhos, cerrando os punhos, controlando a ansiedade que se espalhava em seu peito. Logo abriu os olhos novamente, escutando os passos dentro da sala. Não precisava se virar, pois sabia que era Persa.

- Então, Leon encontrou alguma pista? Algo sobre o paradeiro de Lui? - perguntou Erik, pigarreando. Ele precisava manter a voz controlada. Estava emocionalmente abalado.

- Infelizmente não, Erik - ele respondeu, com pesar - Ao que tudo indica, Lui estaria na Itália. O senhor Bianchi não conseguiu alcança-lo em tempo. Ele continua com posse da fortuna de Lê Champ, seu tutor. Mas, pelo menos, conseguimos recuperar a posse das empresas.

Era algo bom, Erik pensou. Teria sua fonte de renda novamente em suas mãos. E Leon Bianchi, seu amigo, seria seu representante. Todos já conheciam Erik, mas ele não desejava aparecer em publico. Precisa de alguém que o representasse. E nada melhor que seu amigo. Persa se recusou a tal cargo, pois já tinha um peso sobre si muito grande, ao ajudar a administrar o teatro. E Erik não iria exigir tanto dele.

- Agora que tudo está resolvido, poderíamos ir embora de Paris...Comprar o imóvel que você visitou, em Londres...- Persa hesitava, parecendo cauteloso, medindo as palavras.

Erik o fitou de soslaio, olhando o quadro de Christine na parede.

- Não é uma boa hora, Persa - ele desconversou. Ainda não. Não havia terminado sua missão. Ayla precisava dele. Quando tudo estivesse pronto, ele iria partir.

- Erik, quando será uma boa hora? Já faz tempo que as empresas estão em suas mãos. Você não precisa mais se esconder. Lui não é uma ameaça...- Persa argumentava, mas Erik não prestava a atenção. Estava tentando entender seus próprios motivos para tamanha hesitação.

- Eu passei tempo demais aqui embaixo, meu amigo. E sinto como se a ópera fizesse parte da minha mente e minha vida. Eu não saberia viver de outra maneira - ele confessou.

- Não diga isso, Erik. Você pode viver normalmente. Pode continuar compondo. Pode ser um maestro renomado. Não se esconda nas sombras - Persa andou alguns passos, tocando o ombro do amigo.

- É com facilidade que me fala isso, meu amigo. No seu caso, você sempre foi aceito. E nunca fui - Erik se afastou do toque dele e andou de um lado a outro da sala.

- Não exatamente, Erik. Eu sou estrangeiro. Não sou tão bem visto assim. E nunca vou poder ultrapassar os limites sociais. Estarei sempre a margem.

- Como se isso fizesse diferença a você - Erik zombou - E muito menos a mim também. Aristocratas são a escoria desse país. Sempre foram. A revolução veio para mudar alguns conceitos, não é assim?