Capítulo 21

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Se havia algo que Ayla detestava era ser rechaçada. E tratada com desdém. Ou quando alguém dizia que seu comportamento era infantil e histérico. E começava a odiar os homens, com toda a sua força. Queria esganar Erik, até não vê-lo respirar. Mas, logo mudava de ideia e queria gritar com ele e dizer: "Eu sei muito bem que o senhor sente algo ao me beijar. Não pode não ter sentindo". Contudo, poderia ser apenas atração. Não amor. Era lógico que Ayla sabia dos seus atributos. O quanto era bonita e tinha a altura ideal, o tamanho do busto ideal, uma cintura fina, lábios nem tão carnudos, mas nem tão finos. Olhos azuis estonteantes, com cílios negros. E os cabelos eram perfeitos. Em tom de ébano, fazendo cachos macios e brilhantes. Ela sabia do seu poder. Do seu magnetismo. Apesar disso, jamais usou seus atributos ao seu favor. Desejava apenas ser amada pelo que era. Não por sua casca. E acreditou que Erik sentia o mesmo. Como estava enganada. Como era tola.

- Idiota, idiota! - ela disse, se vestindo com displicência.

- Quem é idiota? – perguntou Meg, entrando no dormitório, vendo Ayla se debater com o figurino.

Aquela noite seria a primeira apresentação de Fausto. E isso deixava todos dentro do teatro alvoroçados, pois Carlotta estava incontrolável. Gritava que era uma injustiça não ser Marguerite, enquanto uma jovem sem talento tomaria seu lugar e levaria o bom nome da Ópera de Paris à ruína.

Meg se aproximou da amiga, ajudando a vestir seu figurino para a peça.

- Está chateada, não está? – perguntou ela, ouvindo Ayla bufar.

- Não estou. Estou tão bem. Nunca estive melhor – ela respondeu, tentando controlar sua indignação.

Sentia ainda a cólera invadir seu ser toda vez que pensava em Erik e em suas palavras no telhado, há dois dias. Ela se recusou a vê-lo e até mesmo recebeu duas cartas malcriadas vindas dele. Mas, se recusava a ficar perto. Não queria vê-lo mais. Não enquanto ele não parasse de ser orgulhoso.

- Duvido muito que esteja realmente bem. Eu ouvi seu choro essa noite, Ayla. O que houve?

Era dificil esconder qualquer coisa de Meg. Ela era muito perceptível.

- Nada. Não aconteceu nada! – respondeu Ayla, tentando se convencer de que o melhor seria guardar para si mesma seu sofrimento.

Após a conversa, as duas foram para os bastidores. Meg falava com entusiasmo sobre a grande noite do espetáculo. E que Ayla seria uma grande estrela. Logo o primeiro ato se iniciou. Ela sentia em seu coração que não conseguiria ir adiante com aquilo. Via o grande anfiteatro lotado. As poltronas vermelhas sendo ocupadas por pessoas muito importantes na sociedade. Nos camarotes viu várias pessoas apontando seus binóculos. E seu olhar recaiu sobre o camarote 5. Estava vazio, como sempre esteve. Ela não conseguia ver se Erik estava prestigiando sua primeira vez como a estrela da noite. E se sentia temerosa de falhar. Queria que ele estivesse ali. Por mais que estivesse com raiva dele.

Apesar de tremula e querendo desmaiar, logo chegou sua vez de aparecer no palco. Contracenou com Juliani, um dos atores da companhia, que representava Fausto. Tentou demonstrar toda a ingenuidade de Marguerite. E depois, demonstrar o quanto estava apaixonada por Fausto do terceiro ato, quando os personagens dariam um beijo. E se lembrou da noite no telhado. Do beijo que trocara com Erik. Seu corpo inteiro incendiou. Parecia queimar e era uma paixão febril, quase palpável.

Quando o terceiro ato terminou, houve uma pausa de quinze minutos. Ela pode escapar do palco e se refugiar em um dos camarins. Sentia-se extenuada. Fitou seu rosto no espelho. Estava corada. E feliz pela primeira vez. Deu tudo de si com sua voz. Alcançou o coração de todos os que estavam presentes. Finalmente havia alcançado a glória. Mas, o vazio a preenchia. Ela não queria mais o brilho e reconhecimento. Ela desejava o músico, o maestro que insistia em se afastar. Seus olhos embaçaram e ela bufou, irritada, limpando as lágrimas com força, com o dorso da mão.

Um assassino em Paris - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora