Capítulo 17

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O dia amanheceu nublado, assim como o humor de Ayla, que parecia remoer os últimos momentos que teve ao lado de Erik. Aquela noite no telhado, há dois dias, a fez repensar sua própria vida. Não precisava de ninguém. Sempre fora sozinha. Era isso que pensava. Se Erik dizia que iria para longe, ela deveria aceitar e desejar boa sorte. Mas, em seu intimo, não conseguia fazer isso. Lembrava-se do breve beijo que havia trocado nos subterrâneos da Ópera. Como aquele gesto ficou marcado em sua mente a ferro e fogo, como se ainda conseguisse sentir os lábios dele contra o seu. E era um gesto tímido, vindo de um homem que parecia misantropo e não gostar de contato humano. A pressão dos lábios dele fora tão leve naquele dia, que ela chegou acreditar que tudo não passara da sua imaginação. Mas, não poderia ser. Ainda sonhava com ele, valsando com ela no palco e fazendo juras de amor. Era tolice, ela sabia disso, mas não conseguia reprimir os sentimentos que brotavam em seu coração. Estava irremediavelmente apaixonada por ele. E não havia remédio para aquilo. O que poderia fazer naquele momento era continuar a lutar por seu sonho de ser a prima donna e orgulha-lo, pelo menos.

Ayla se mirava no espelho, enquanto pensava em Erik. Fitava seu vestido de cor rosa, com tecido de musselina e uma saia avantajada na parte de trás. O vestido tinha um corte de ombro a ombro, deixando seus ombros e braços nus. E a parte de trás era cheia de drapeados, a deixando muito elegante. Contudo, ela não se sentia assim. Eram visíveis as marcas de olheiras em seus olhos azuis. E precisou esconder com a maquiagem, para aparentar jovialidade e frescor. Precisava comparecer a festa promovida pelo conde de Chagny. Ele era um ótimo contato, ela pensou otimista. Se conseguisse impressiona-lo, teria seu lugar no coro, pelo menos. Naquele momento ela não estava pensando de forma ambiciosa, pois sentia que sem Erik por perto, não teria mais significado seus sonhos. E ela começou a pensar que ser a prima donna seria impossível. Ninguém iria olhar uma jovem inexperiente e dar atenção, quando tinha Carlotta, a diva. Ela tentou expulsar aqueles pensamentos autodepreciativos, mas falhou miseravelmente.

Bufou e saiu de frente do espelho, ajeitando sua franja, para que não ficasse desalinhada. E saiu de braços dados com Meg e Amélie. Elas conversavam, mas Ayla não prestava a devida atenção. Logo encontraram os outros funcionários da Ópera de Paris, no saguão e todos foram juntos para o salão que conde de Chagny havia separado para aquele evento. Ficava há algumas quadras do teatro. Logo chegaram ao lugar. Era um hotel, Ayla notou. E era o mais chique da região, o Savoy. Ayla ficou impressionada. Nunca havia entrado em um lugar tão requintado. E ela seguiu o fluxo de pessoas para o salão separado, para uso excluisvo do conde.

- Não consigo acreditar que o conde de Chagny tenha reservado esse local para nossa confraternização - Ayla deixou escapar, ao entrar no salão decorado com cortinas diáfanas nas janelas, mesas com arranjos de flores, recamier sofás encostados as paredes. Além de um grande lustre pendendo no centro do salão. E havia uma orquestra, já posicionada - É tudo tão luxuoso.

- Ele faz isso todos os anos. É para promover a si mesmo - comentou Meg, em voz baixa.

Ao total, havia cem pessoas naquele lugar. E Carlotta já estava sentada em um dos sofás de cor creme, se abanando com um leque. Ayla notou que Rosalinda, a fiel amiga da diva, não estava presente. Havia apenas duas damas do coro ao lado dela, tentando agrada-la.

- Onde está à senhorita Rosalinda? - perguntou Ayla a Amélie, enquanto elas sentavam em umas das cadeiras vagas, no fundo do salão.

- Eu não sei. Eu acredito que ela esteja a caminho. O fato estranho é que ela não esta próxima a Carlotta. As duas são inseparáveis - respondeu a jovem, fitando a porta de entrada.

Ayla ficou pensativa, tentando entender o que poderia ter acontecido, mas, seus fluxos de pensamentos foram interrompidos pela entrada do conde e do visconde de Chagny. Ela engoliu seco e as mãos estavam tremulas. Não vira Raoul mais desde o incidente do palco provocado por Erik. Raoul lançou um olhar diretamente para ela, como se tentasse decifrar algo e por alguns segundos Ayla pensou que ele viria falar com ela, tirar alguma satisfação, contudo, ele desviou o olhar. E fitou Amélie com um sorriso. Ayla fitou a amiga com estranheza. E se preocupou com ela. Pois, Amélie retribuía o sorriso de forma embevecida. Talvez, pensou Ayla, ela poderia estar em perigo perto de um homem como Raoul. Precisava a alertar o quanto antes, ou sua amiga seria a nova presa de Raoul. Se já não era, pensou com pesar.

Um assassino em Paris - O Fantasma da ÓperaOnde histórias criam vida. Descubra agora