- 𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟖- 𝐇𝐨𝐬𝐩𝐢𝐭𝐚𝐥

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Abri o guarda-roupa, revirei os cabides de um lado para o outro, procurando algo que me agradasse, mas no fim, — como sempre —, vesti as mesmas roupas de sempre, as que me faziam sentir confortável.

  Liguei a tela do celular, conferindo a bateria, que estava em 25%, e se haviam mensagens. 0. Desliguei a tela.

  Minha vontade era deitar naquela cama, tão atrativa, parecendo tão macia. Mais umas horas de sono não fariam mal, mas faltar era realmente inadmissível. Peguei as meias que iria vestir. Quando abaixei minha cabeça senti um latejar de dor, fiquei assim até que ficasse confortável para me mover novamente.

  Eu estava realmente acabada.

Terminei de me vestir e levantei da cama e sentei na cadeira da penteadeira. Olhei para meu rosto. Passei um contorno para tentar esconder minhas olheiras, mas quando ficou uma cor sobreposta, tirei.

  — Prefiro parecer um zumbi… — suspirei.

  Penteei meu cabelo por força do ódio. Assim que terminei desci para a cozinha com a mochila na mão. Abri a gaveta para pegar o remédio para dor de cabeça e a água na geladeira. Botei a água no copo e a tomei com o remédio.

  — Vamos lá… — bocejei enquanto jogava a bolsa nas costas.

  Apesar de passar os últimos dias apenas dormindo, continuava exausta. Eu pegou um pacote de biscoito e pôs dentro da bolsa.

  Cansada ou não, essa rotina estava acabando comigo. Dormir e chorar não está na lista de coisas mais saudáveis a se fazer. Com ou sem ele eu precisava mudar.

  Minha casa é um pouco solitária. Sou adulta agora, mas mesmo antes não tinha alguém para me repreender por ficar acordada até tarde, ou por passar o dia trancada dentro do quarto, para me pôr de castigo. A única pessoa que minimamente vinha me visitar e me dava alguns cascudos era Shinichiro, porém parou de vir quando sua vida se tornou mais ativa.

  Agora? Não tinha nem meus pais… nem Shin. Só tinha eu.

  Caminhei até a porta, onde sentei para poder calçar meus sapatos. Não antes de soltar outro suspiro. Por alguns minutos encarei a porta de ferro. Relutei um pouco em realmente ir estudar.

  Enfim, levantei do chão de madeira assim que calcei os sapatos. Destranquei a porta pela qual passei e a tranquei novamente pelo lado de fora.

  — Eu deveria ir a pé ou…? — Fiz a pergunta para mim mesma, encarando a porta da garagem. A que estava cheia de poeira.

  É de praxe usar a moto mesmo para ir à esquina, entretanto usá-la agora seria o mesmo que reviver infinitamente o dia em que saí com Sano e me declarei. Faria minha mente focar nele, e isso é injusto comigo, já que sou a única sofrendo com essa situação.

  Encarei novamente a porta. Algo em mim me dizia que eu deveria levá-la. Um tipo de intuição doida, que me faria ficar angustiada se não a levasse. A sensação ruim não foi embora até que eu abrisse a garagem e visse a moto, no mesmo lugar que a deixei.

Minha mente queria deixá-la ali, porém ao mesmo tempo queria levá-la. Meu lado que queria levar ela vencia a guerra travada em minha mente. Quando a tirei de lá, suspirei derrotada.

  — Ah! — Grunhi quando lembrei. — Meu celular! — Exclamei fechando a garagem e deixando a moto na porta de casa, corri para dentro dela e fui para meu quarto.

Quando tirei o carregador da tomada a tela ligou consegui observar a notificação: Shinichiro, aquele idiota 💕: Ei…

Quando vi a mensagem, em meio a zoada de moto, escutei um grito alto e fino de "socorro". Instintivamente larguei tudo e corri para a janela do meu quarto olhando para a rua. A única coisa que vi foram as motos virando a esquina no final da rua.

𝐅𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐞, Sano ShinichiroOnde histórias criam vida. Descubra agora