-𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟏𝟕- 𝐋𝐞𝐦𝐛𝐫𝐚𝐧ç𝐚𝐬.

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  — Estamos muito longe de chegar na sua casa? — Shinichiro perguntou ofegante. — Sei que está machucada, mas você é meio pesada para ficar carregando de um lado para o outro. — Disse ele me fazendo suspirar revirando os olhos.

  Eu lembro dessa vez... foi poucos minutos depois de os três caras tentarem me bater e Shinichiro me ajudou. Mas por que essa memória de repente?

  — Pode me soltar. — Respondi envergonhada, por estar sendo carregada por um estranho, e também por ser chamada de pesada.

  — É aqui? — Perguntou parado em frente a porta da minha casa. Murmurei que sim e ele deu um olhar aliviado.

  Com uma estranha delicadeza ele me colocou no chão e apoiou meu braço em seu ombro. Pude ver de relance todo meu sangue na sua roupa. Me senti um pouco mal por tê-lo colocado nesta situação sendo que nem ao menos sabia meu nome completo.

  — Desculpa… — murmurei envergonhada, no impulso acabei me desculpando. — Ah… pela roupa, quero dizer. — Apontei para a roupa suja de sangue. Ele que tinha um olhar meio perdido, olhou para o sangue e acabou deixando um xingamento escapar pelos seus lábios.

  — Porra! É verdade! — Berrou, dando-me um susto.

  — Quer entrar para limpar? — Perguntei por educação, e também por peso na consciência, já que era tudo culpa minha, mas não esperava um "sim" como resposta.

  — Olha… eu não quero entrar na casa com uma criança, seus pais podem pensar que fui eu quem te machucou, mas… seria muito pior ter que explicar isso para a polícia… então, muito obrigada e desculpa o incomodo. — Tentou se explicar em meio a um humor, que não me tirou um sorriso sequer.

Lembro que na hora eu cogitei a ideia de ele ter algum tipo de problema psicológico.

  Vasculhei a bolsa atrás da chave de casa. Dani ficou o tempo todo me olhando com uma cara de avoado. Segurei muito a risada.

  — Aliás. — Puxou assunto assim que abri a porta. — Seus pais não vão ficar irritados? Você literalmente está trazendo um estranho para sua casa. — Eu sabia que era uma pergunta inocente.

  Claro, eu sabia que ele não sabia, mas mesmo assim… um calor subiu à minha cabeça, uma raiva enorme, qual eu sentia sobre os citados, que na mesma hora bati a porta por reflexo da raiva. Percebi o que tinha feito, depois do pulo para trás que ele deu. 

  — Eu moro sozinha. — Tranquei a porta pelo lado de dentro, tirando meus sapatos. — Não tem problema. — Acendi as luzes da casa, o deixando ainda na porta, perplexo.

  Quem se importava?

  — Sozinha? Quê!? Quantos anos você tem, guria? — Perguntou confuso, curioso e preocupado.

  Não sei porque, mas sua preocupação fez, por um segundo, um pequeno sorriso se formar no canto da minha boca. Mas sumiu assim que percebi. Isso fica entre nós.

  — Você não era uma pirralha? — Exclamou surpreso e indignado. Porém, a mais indignada era eu.

  — Quem é você para me chamar de pirralha!? — Exclamei indignada também, mas logo uma dor de cabeça se fez presente, e eu calambreei. Encostei na parede e ele correu até mim preocupado.

Suspirei e fiquei de pé.

  — Eu tenho 14, e você?

  — 'Cê não tem 14 nem fodendo. — Conversou sozinho. — Por que você está morando sozinha? Não me diga que fugiu de casa? — Seu tom indignado e suas falas incrédulas começaram a me tirar do sério, ainda mais enquanto me seguia pela casa.

𝐅𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐞, Sano ShinichiroOnde histórias criam vida. Descubra agora