- 𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟐𝟐- 𝐀𝐥𝐭𝐚.

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    — Aafuuu! — Suspirei tirando todo ar de meus pulmões. O dia estava tão agradável hoje, por que que eu tinha que estar me sentindo péssima assim?

  Shinichiro passou a semana toda comigo, me acompanhando na maioria dos exames e conversando comigo no meu tempo livre. Porém, ontem, a gente acabou "discutindo".

  — Ah… — soltei mais um suspiro quando desbloqueei a tela do meu celular e entrei na conversa de whatsapp com ele. As duas últimas mensagens eram minhas.

   Vida ✓
   Me desculpa ✓

  A mensagem não havia chegado no celular dele. Cruzei minhas pernas sobre o banco que estava sentado e desliguei a tela do celular, colocando em cima da minha coxa. Voltei meu olhar para o campus do hospital, onde haviam alguns velhinhos e crianças passeando. Suspirei mais uma vez e comecei a lembrar de ontem.

  O médico estrangeiro havia entrado no meu quarto, sempre às 15:30 ele estava lá para fazer algumas perguntas de rotina. Como eu estava me sentindo e coisas assim. Mas ele começou a dar em cima de mim na cara dura. Shinichiro percebeu e se ardeu de ciúmes. Ele disse algumas coisas sobre ele fazer isso quando ele não estivesse por perto, que não tinha nem como competir. Eu ri brincando, ele ficou magoado e foi embora sem me dar tchau.

  — Oi, como você está? — Ouvi uma voz atrás de mim, mas tudo que fiz foi respirar.

  — É.

  — O que aconteceu com minha paciente preferida? — Ele sentou no banco ao meu lado e sorriu docemente. — Não está feliz que vai ter alta logo?

  — Estou, porém uma pessoa que eu gosto muito está brava comigo, eu acho. Não sei, ele saiu sem dizer nada. — Coloquei a bochecha sobre a mão, com o cotovelo apoiado na minha coxa.

  — Seu namorado? O de ontem? — Perguntou curioso.

  — Você sabia? E mesmo assim deu em cima de mim? Nossa! Que safado! — Exclamei desacreditada, com as sobrancelhas franzidas e um sorriso incrédulo.

  — Não vi nenhuma aliança no seu dedo. — Brincou.

  — É, ele não é meu namorado namoraaaado. A gente tem um lance. — Tapei o rosto com vergonha.

  — E ele ainda não te pediu em namoro?? Corajoso ele que não te prendeu. Se fosse eu a gente estaria se casando agora, ao invés de estar brigando.

  — Você não para não é? — Soltei uma risada fraca.

  — Não, mas agora temos que entrar, vamos fazer um último exame para ver se está tudo certo com você. Depois disso você dorme e amanhã vaza daqui. Se eu ficar mais tempo contigo, vou querer te sequestrar e te levar para minha casa.

  [...]

  O dia não foi tão ruim. Conversei bastante com meu médico. Emma foi me visitar e levou alguns docinhos para eu comer. Ela ficou super feliz quando soube que eu teria alta amanhã.

  Quando deu 17:00 começou a escurecer, ela foi embora e eu fui tomar um banho quente, que durou mais ou menos uns 20 minutos. Pedi para que Emma trouxesse uma camisa de Shinichiro, que foi a que eu vesti, juntamente a um short branco e uma meia rosa.

  Saí do banheiro e peguei meu celular. Shinichiro ainda não havia visualizado minha mensagem. Soltei outro suspiro e fui caminhar.

  A noite estava linda, a Lua estava cheia e o céu sem uma nuvem no céu. Estava um pouco abafado, mas ainda tolerável. Caminhei um pouco e sentei no mesmo banco de mais cedo.

  Ainda está bravo comigo? ✓✓

  Na hora em que enviei a mensagem elas começaram a chegar no celular dele. Tomei um susto e meu coração disparou. No mesmo instante comecei a ouvir alguns passos. Logo me desesperei achando ir era alguém do hospital, mas não…

  — Oi… — quando escutei sua voz rouca, vestido todo de preto, aquele magrelo de boné. Meus olhos arderam.

  — … — Inspirei fundo. — Oi… — e ele sentou ao meu lado.

  — Como você está? — Perguntou singelo, olhando nos meus olhos.

  Demorei um pouco para responder pois fiquei um tempo encarando suas olheiras, estavam mais fundas que da última vez. O cabelo dele era sempre liso, mas dessa vez estava um pouco enrolado e bagunçado.

  — Hmm… bem, vou receber alta amanhã… não consigo dormir sabendo disso. — Comentei e ele deu um sorriso açucarado.

  — O que aconteceu que você sumiu? Você ficou bravo comigo? Eu fiz alguma coisa? — Perguntei, sem tentar parecer desesperada, porém o tempo de pausa entre minhas perguntas, me denunciou.

  — Não, não. Me desculpa minha princesa. — Ele me puxou para seus braços e deu um beijinho na minha testa. Quando encostei em seu peito, consegui sentir o cheiro forte de cigarro que ele exalava.

  — O que aconteceu então?

  — Não vou negar que fiquei com ciúmes, mas eu nunca sairia do nada assim. Eu fiquei um pouco desesperado quando vi a notícia no meu trabalho. A secretária do meu chefe me mandou mensagem.

  — Que? O que aconteceu? — Levantei o rosto para olhar para Shinichiro.

  — Ah… — ele suspirou. — Enfim, assim que você entrou em coma, Emma começou a sentir dores. A gente foi ao médico e ninguém havia descoberto o que era. Enfim, quando você acordou nós fomos mais uma vez. É algo muito complicado… não sei se quero falar… mas aparentemente ela vai ter que fazer uma cirurgia… meu avô está cuidando dessa parte.

  —Ah… — murmurei abraçando ele.

  — Eu estava trabalhando em dois lugares, pelo menos para juntar dinheiro o suficiente caso fosse muito caro, ou caso nós precisássemos de dinheiro. Mas meu chefe faleceu ontem… enfim, fui no enterro dele hoje. Era um bom homem.

  — Meus pêsames Shin… — dei um selinho dele e esfreguei suas costas. — Você sabe que se precisar de qualquer tipo de ajuda eu posso te ajudar. Emma e Manjirou são como uma família para mim.

  — Eu sei… mas eu não quero só pegar seu dinheiro, meu chefe tinha sugerido a mesma coisa, mas eu fiquei de trabalhar para ele… — ele suspirou, parecia cansado quando apoiou a bochecha no topo da minha cabeça.

  — Eu nunca disse que seria de graça.

  — Estou cansado disso tudo agora [nome], vamos conversar sobre outra coisa? Como foi seu dia? — Trocou de assunto rapidamente. Só aceitei.

  — Fiz vários exames, tomei banho, conversei com Emma e agora estou com você. A vida aqui no hospital é um tédio. E você?

  — Madruguei ontem, hoje fiquei no enterro com um monte de gente rica. Consertei algumas motos. Passei na sua casa e deixei tudo arrumado para quando você voltar amanhã. — Fiquei surpresa quando ele disse essa última parte.

  — Você não está cansado?

  — Estou, e muito, mas tenho que ir para casa fazer comida e cuidar dos meus irmãos…

  — Você não vai ficar comigo? — Murmurei manhosa.

  — Desculpa [nome]. Hoje não vou conseguir. Mas você vai fazer alguma coisa domingo que vem?

  — Não. — Respondi curiosa. — Quero dizer, eu acho que não.

  — Ótimo, então não marca nada. — Ele levantou e me puxou para um abraço.

  Segurou em minha cintura e eu tracei os braços em seus ombros, ficando nas pontas dos pés. Ele ficou nos balançando de um lado para o outro enquanto me apertava em seus braços. Escondeu o rosto no meu pescoço, e murmurou alguma coisa que eu não entendi.

  — …a…cê..

  — Quê?

  — Ele riu.

  Ficamos assim abraçados por alguns minutos, até dar coragem de voltar ao quarto de hospital e ele de ir embora.

𝐅𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐞, Sano ShinichiroOnde histórias criam vida. Descubra agora