- 𝐂𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝟗- 𝐏𝐚𝐫𝐚 𝐜𝐚𝐬𝐚.

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  Dei um passo para dentro, aquele rosto desesperado e desacreditado ao me ver. Seus olhos caídos e inchados foram como um tiro em meu peito e cinco facadas em minha barriga.

  Minha respiração estava descompassada e meu rosto escorrendo de suor, não era de se admirar pelo tanto que eu corri. Olhei para o chão e depois olhei para Shinichiro.

  Estava muito mais magro do que a última vez que o vi, seu rosto e braços estavam muito finos, quase consegui ver seus ossos transparecer à pele. Suas olheiras estavam roxas, seus olhos eram como a escuridão de uma noite sem lua… alí sentado na cadeira ao lado de seu avô.

  Aquela cena deprimente era muito dolorosa para mim, eu queria fugir, mas não consegui fazer nada além de encarar com a boca entreaberta e os olhos arregalados. A situação dele era de dar pena e com certeza era mil, não, dez mil vezes pior que a minha.

  “— O que ele faria se estivesse no meu lugar?”, pensei nisso. Todas as vezes sempre era eu quem recebia o apoio de Sano, sempre era eu do outro lado da moeda, então o que deveria fazer quando os papéis fossem trocados?

  Me senti horrível por tudo que consegui fazer fora me aproximar, fechar os olhos e abrir os braços.

  Senti o choque de nossos corpos, ele se ajoelhou sobre o chão e abraçou por minha barriga, enfiando a cara nela, seus ombros rígidos, como se não tivesse dormido há dias, ele parecia tão frágil, mas em nenhum momento chorou.

  Ele apertou o abraço e estalou a língua, senti uma fagulha em meu peito e senti meus joelhos vacilarem, cai no chão de joelhos, em frente a ele. Na mesma hora ele passou os braços por meus ombros e escondeu o rosto atrás da minha cabeça.

  Eu sabia que ele não queria ser visto naquela situação, ninguém iria querer… aquele abraço sufocante, mas ao mesmo tempo necessário para nós dois. Abracei de volta, tomei seu tronco para mim.

  “— Desculpa por não saber o que fazer nessa situação”, fiquei com esse pensamento para mim enquanto afagava a mão em seus cabelos, era algo que Shinichiro sempre fazia para acalmar meus choros.

  — Desculpa… — Murmurei.

  Me senti egoísta por querer estar aliviando minha aflição quando era ele quem precisava disso. Com certeza isso me tornava alguém horrível. Comecei a chorar.

  — Ei… — ele soltou uma risada sem graça, acompanhado de um sorriso caído. — Por que é você a chorar quando sou eu quem estou triste? — Tentou um humor, tentava falha. — Por que nenhuma lágrima sai? — Sussurrou para si mesmo, com aquela voz gentil em meio a tristeza.

  — Desculpa… — repeti, só que dessa vez, me referindo a sua fala anterior

  Por que eu tinha que chorar justo em uma situação dessas?

  Ficou difícil dissertar quem estava nos braços de quem. Eu nos de Shinichiro ou ele nos meus? Mas uma coisa era certa, um sorriso estava no canto da boca dele, eu sentia.

  — Você é realmente uma pirralha chorosa. — Sussurrou me empurrando pelos ombros, colocou a mão no topo da minha cabeça e acariciou.

  — Você que é o pirralho, idiota. — Esfreguei os olhos com a mão fechada, para me livrar das lágrimas restantes. Olhei para Shinichiro e seu rosto exausto.

  — O que foi? — Perguntou desconfiado.

  — Há quantos dias você não come e dorme direito? — Indaguei indignada.

  — Acho que 5 dias. Por quê?

  Abri os olhos exageradamente. Tudo fez sentido na minha cabeça, desde o momento em que ele saiu correndo da praia, olhei para a maca e vi que era seu avô, tinha certeza. Novamente olhei Sano.

𝐅𝐨𝐫𝐚 𝐝𝐞 𝐜𝐨𝐧𝐭𝐫𝐨𝐥𝐞, Sano ShinichiroOnde histórias criam vida. Descubra agora