sofrimento e solidão

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Capítulo 58

# Christopher

Acordei desesperado e suado em alguns momentos da noite graças aos pesadelos com a minha esposa, morta em um asfalto. Havia sangue para todos os lados e aquela cena grotesca não saia da minha mente. Era o mesmo sonho, em horários diferentes, o que aumentava ainda mais a minha preocupação. Eu não conseguia voltar a dormir, então em algum momento daquela noite, peguei o meu carro e saí pela rodovia, entre uma imensidão de veículos a ir e vir. Eu em meu carro, totalmente alheio ao perigo e risco da insegurança que me colocava enquanto dirigia sem um destino ou propósito aparente.
Na maioria das vezes existia uma ânsia, um desespero ao saber que longe dela eu não era ninguém. Eram momentos de profunda tristeza e solidão, onde mesmo acompanhado, eu sempre me sentia só.

Ela juntou as suas coisas e foi embora, levando consigo toda a minha felicidade. Assim que meu motorista voltou, ele me entregou a chave de seu carro e disse que a minha esposa recusou manter com ela qualquer coisa que pertencesse a mim.

Fiquei olhando as nossas imagens na tela do meu celular, os nossos rostos felizes e a nossa jujuba tão inocente, que a primeira coisa que me veio na mente foi como eu pude ser tão burro. Imaginar o tamanho do sofrimento que causei a elas me trouxe uma enxurrada de lágrimas em meus olhos que pouco a pouco lavaram aquelas ideias absurdas que me perseguiam de que ela tinha me traído.

Era impossível descrever a minha dor e o meu sofrimento, mas havia uma força que me trazia de volta à lucidez sempre que a minha mente sucumbia em pensamentos tristes. A pergunta que eu me fazia todos os dias ao acordar e não encontrá-la ao meu lado era apenas uma: porque eu fiz isso?

E novamente, eu não tinha resposta. Voltei para casa de madrugada e dormi abraçado ao travesseiro dela que ainda tinha o cheiro adocicado e delicado da minha mulher. A noite estava tão ruim, que acabei adormecendo com uma garrafa de whisky na mão.

Acordei assustado sentindo um pequeno peso em cima do meu corpo e assim que abri os olhos, vi a Juliana pulando em cima de mim pedindo pra mim acordar. Cocei os olhos e os mantive abertos com dificuldade.

— Chris acorda, acorda! — chamou — Você morreu?

Fiquei atordoado quando vi lágrimas em seu rosto pequeno e principalmente porque ela não me chamou de papai.

— Meu bem eu só estáva dormindo, cadê a Ana ela veio com você?

Uma pontada de esperança me atingiu. Afinal Juliana não tinha idade para vir sozinha até o meu apartamento.

— Não, ela foi trabalhar, vim com a tia Glória. A minha Maninha não que te ver nem pintado de ouro!

— Quem falou isso pra você?

— Ninguém. Eu ouvi ela falar isso pra tia Catarina e também sei que ela tá grávida e você não quis saber do neném…— Respondeu, fazendo uma careta — Coisa feia Chris, isso não se faz!

Sorri desanimado.
Juliana era esperta, inteligente e em vários momentos isso me surpreendia. Algumas vezes ela falava tão perfeitamente e entendia tão bem as coisas que ela parecia uma mini adulta, mesmo tendo apenas cinco anos.

— Filha não foi bem assim que aconteceu!

Ela cruzou os braços irritada, fez uma careta fofa e arqueou a sobrancelha.

— Então me conta como foi!

Eu me enrolei todo tentando explicar a ela que eu estava inseguro e com medo de ser pai e que eu achava que não daria conta do recado. Tentei parecer o mais verdadeiro possível enquanto ela me olhava com aqueles olhinhos atenciosos e concentrados na minha explicação. Obviamente não disse para ela da minha desconfiança e muito menos da traição.

Um casamento da conveniência ao amorOnde histórias criam vida. Descubra agora