Prazer, Steven Harris

Noite de outubro

Mal podia acreditar que já era outubro. Ao sair de casa me deparei com boa parte das casas decoradas, várias abóboras com rostos diferentes nos gramados, teias de aranha nas portas, zumbis, espantalhos e etc. Eram mais ou menos sete horas da noite e decidi aparecer no apartamento de Steven de surpresa para levar alguns doces que sabia que ele gostava. Segurei a grande sacola laranja em uma das mãos, ajeitei minha bolsa vinho no ombro e então andei até a parada de ônibus mais próxima. O clima era agradável e úmido, além disso gostei de admirar a decoração de Halloween das casas próximas, o que me fez ponderar sobre o que eu mesma faria para enfeitar minha casa. Aguardei por mais ou menos vinte minutos sem ver nenhum sinal do ônibus, até que alguém se aproximou de mim. No início não consegui ver porque estava um pouco escuro, mas então o sobretudo preto e os cabelos escuros me fizeram ter ideia de quem era, Adam caminhou lentamente até mim em silêncio. Ele me lançou um olhar tranquilo e então parou ao meu lado sem dizer uma palavra.

— Boa noite. — falei sem muita emoção, não agiria como se não o conhecesse.

— Boa noite, Alexia. — o tom de sua voz era neutro, não havia mais aquela empolgação que costumava existir quando éramos mais que só estranhos.

Ficamos em silêncio por mais ou menos uns dez minutos. Não sabia o que dizer, se realmente existia algo que pudesse falar a ele. Então, sem pensar muito sobre o que estava fazendo, comecei a falar.

— Eu te perdôo, Adam. — Uma lágrima desceu de um dos meus olhos. — Provavelmente na época você não tinha noção do que suas ações poderiam causar. Não sei se consigo voltar a ser sua amiga, mas não carrego mais o ódio que sentia por você. Quero que se livre desse peso que sei que também sente.

— É estranho, Alexia. Estranho olhar para você e não te ter como antes. Estranho saber que o que era apenas uma brincadeira se transformou na morte de uma criança. É estranho viver dentro de mim e não saber quem eu sou. Mas fico verdadeiramente grato por seu perdão, acredito que agora vou conseguir aos poucos me curar de tudo o que aconteceu. Nunca vou deixar de te amar e tenho certeza de que mesmo que eu ame outra pessoa, nunca vai ser tão profundo quanto o amor que sinto por você. Esse sentimento me mata um pouco mais todos os dias, porque sou completamente incapaz de matá-lo dentro de mim.

Caminhei até ele e o abracei. Senti suas lágrimas em minha blusa após ele apoiar a cabeça em meu ombro. Ele me abraçou com força e então após um momento dei um beijo em sua testa.

— Nunca vou deixar de te amar, Adam. Sei que a paixão que sentia por você não existe mais, porém você nunca vai deixar de ser o meu primeiro amor. Tudo o que vivemos juntos jamais será apagado da minha mente. Encontre a paz que precisa para entregar todo esse amor a alguém que retribuirá de coração. Desejo verdadeiramente que seja feliz.

Adam sorriu e secou as lágrimas. Ele não disse nenhuma palavra após o que falei e seu ônibus chegou apenas alguns minutos depois. Ele entrou e então me encarou com um sorriso de leve através da janela. Senti seus olhos me dizerem "obrigado", logo depois o ônibus partiu.

Muitas coisas passavam em minha mente. Realmente tinha dito a Adam que o perdoei? Estava tão orgulhosa de mim mesma e de meu progresso. Sentia que agora conseguiria finalmente dar a Steven todo o amor que ele merecia e, após muito tempo, permitir que esse amor me curasse. Estava pronta para amar.

Meu ônibus chegou, então segui para o apartamento de Steven. Apreciei a lua pela janela e coloquei MGMT para ouvir. Fechei meus olhos por alguns segundos e pude sentir toda a paz que achei que nunca mais sentiria, era muito gratificante saber que uma parte difícil de minha vida foi superada. Era como se eu tivesse voltado a me amar. 
Ao chegar, desci do ônibus com cuidado para não derrubar a sacola e então liguei para Steven.