AF

53 6 1
                                    

Me sentia como se a qualquer momento o céu fosse cair em cima de mim, ou que abriria uma cratera no chão e eu cairia num loop infinito. Meus sentimentos nunca pesaram tanto dentro de mim, a única coisa que eu mais desejava era conseguir parar de sentir. O que eu perderia por não sentir? Nunca havia visto um lado bom em amar, já que a melhor experiência que eu tive foi também a que mais me feriu. Contudo, Steven me dava a falsa sensação de que eu conseguiria amar alguém de novo, como se ele fosse um tipo de escapatória para tudo o que eu sentia e queria me libertar. Haviam momentos em que eu me perdia no seu olhar, como se existissem diversos universos escondidos dentro de sua alma, e eu podia sentí-los toda vez que o abraçava. Ele era o motivo perfeito para voltar a ter esperança.

Já haviam se passado duas semanas desde o dia em que Steven havia aparecido em meu apartamento e me levado ao passeio de moto mais incrível e simples que eu havia ido. Desde aquele dia nós nos falamos pouco, porém trocamos alguns olhares durante as aulas e provavelmente também no intervalo, já que eu tinha a estranha sensação de que alguém me observava de longe. Estava vivendo de uma maneira que eu não desejava para ninguém, eu levava a vida enquanto tentava não me sufocar com meus problemas. Minha mãe não tinha notado minha mudança de comportamento porque vivia nos plantões do Hospital, e quando nos víamos eu fazia questão de sorrir, de maneira que ela jamais conseguiria notar a dor que eu carregava. Estava absolutamente sozinha e, a medida que o tempo passava, eu inconscientemente transformava isso em uma verdade cada vez mais dolorosa.

Cursar Relações Internacionais me fazia querer desaparecer o mais rápido que eu pudesse. Me mudar para um país no outro lado do mundo foi se tornando um sonho que eu não tinha a pretensão de não realizar. Talvez fosse a forma perfeita de fugir de todos os fatores sufocantes da minha vida.

Após ao término da aula, guardei rapidamente meus materiais, coloquei os fones e uma boa música para tocar e então saí. Steven veio até mim, o que me deixou surpresa e ao mesmo tempo feliz.

- Oi - eu disse baixo com uma voz que saiu um tanto rouca.

- Oi - ele sorriu tentando segurar o riso - quero lhe fazer um convite.

- Bom, faça - tentei dizer num tom que não parecesse que fui grossa.

- Quero que vá comigo ao show do Arcade Fire no Air Canada Centre, o ACC. Vai ser dia 10/10, às 19h30. O que acha? - ele disse segurando dois ingressos.

- Eu acho incrível! - falei sorrindo animada - Eu amo essa banda! Como conseguiu?

- Bom, digamos que eu tenha um amigo que trabalha na ACC, mas isso não importa. Topa?

- Claro! Com certeza, obrigada Steve, de verdade - falei enquanto fitava seus olhos.

- Então dia 09 organizamos direito para irmos ao show.

- Okay.

Ele foi embora, mas desejei que ficasse. Steven estava usando a mesma jaqueta de couro preta que usou no dia em que nos conhecemos no bar, o que me fez lembrar daquele dia, só que minhas lembranças haviam se tornado diferentes pois agora colocava nelas meus sentimentos por ele que, de fato, haviam mudado. Talvez eu não conseguisse separar minha carência do que eu sentia por ele, mas ainda me sentia atraída por ele. Era como se eu tivesse 12 anos novamente e qualquer sentimento novo fazia me sentir estressada com todos os outros fatores da minha vida.

Quando anoiteceu, fui para um parque que ficava perto da minha casa, me deitei em seu gramado e então olhei o céu. Pensei sobre os universos que supostamente Steven guardava por trás de seus olhos, então me questionei sobre o que eu talvez carregasse dentro de mim. Talvez fosse dor, ou algo muito negativo que acabava com tudo ao meu redor, mas eu ainda não sabia bem o que era. Fechei meus olhos por alguns segundos e então pensei sobre como seria boa a vida se eu soubesse lidar com meus próprios problemas.

- O que faz no gramado às 21h00, Lexia? - disse uma voz que ria baixinho. Quando me virei para ver quem era, Brian sorriu e então sentou ao meu lado. Por que eu simplesmente encontrava meu passado em qualquer esquina justamente quando eu mais precisava ficar longe dele?

 Por que eu simplesmente encontrava meu passado em qualquer esquina justamente quando eu mais precisava ficar longe dele?

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Prazer, Steven HarrisOnde histórias criam vida. Descubra agora