Ainda eram meia-noite e havia prometido a mim mesma que não voltaria para casa antes das 3h00. Motivo? Eu havia acabado de completar 18 anos. Não fazia o tipo de garota que ia ao bar com os amigos na véspera do ano novo comemorar o aniversário, não mesmo. Estava mais para o tipo que ia ao bar sozinha conhecer as pessoas lá. Isso não quer dizer que daria certo ou que voltaria com uns cem amigos novos até as 3h00, mas havia uma possibilidade de dar certo, mesmo que não fosse uma boa ideia.
O bar que estava não tinha nada de especial, parecia com os de sempre: pessoas cambaleando pelos cantos por estarem bêbadas, garotas jovens jogando charme para homens mais velhos, pessoas rindo sem nenhum motivo aparente, a televisão ligada passando jogo e homens gritando por mais uma dose do que quer que estivessem bebendo, contudo algo chamou a minha atenção, havia um garoto ruivo duas mesas depois da minha. Ele usava uma jaqueta preta por cima de uma camiseta alaranjada e olhava com raiva para o celular. Me levantei e fui até ele, sem pensar muito no que estava fazendo.
- Oi. - falei tentando algum tipo de interação normal e aceitável - Não deveria ter tanta raiva de um celular, geralmente eles não fazem nada.
- Oi... - Ele me encarou surpreso. - a raiva não é do celular, e sim da galera que deveria estar aqui há quarenta minutos atrás.
- Não se preocupe, - Dei uma risada leve. - eles não virão.
- Muito obrigada, você está ajudando muito. - Ele olhou no fundo dos meus olhos. - Afinal, quem é você?
- Sou Alexia, Alexia Davis, mas pode me chamar de Alex. - Disse estendendo a mão para um cumprimento. - E você?
- Prazer Alex, me chamo Steven, Steven Harris, mas pode me chamar de Steve. O que faz sozinha num bar na véspera do ano novo?
- Para ser sincera, meu aniversário. - Ele riu. - Queria me sentir bem mesmo sozinha. As pessoas dependem muito uma das outras para terem algum tipo de alegria.
- Provável que você tenha razão. - Ele colocou os braços sobre a mesa e aproximou o rosto. - mas você não está mais sozinha.
- Parece que não. - Me aproximei também. - O que ia fazer com essa guitarra caso sua "galera" aparecesse?
- Iríamos tocar algumas músicas, - Ele deu um sorriso malicioso - fomos contratados por alguns trocados. Mas parece que agora vou ter que inventar uma desculpa que faça sentido. Sugere algo?
- Sugiro que toque e eu me encarrego em cantar algo para você, então rachamos os trocados. O que acha?
- E você canta, desde...? - Ele me encarou desconfiado.
- Desde a bandinha ridícula que eu tinha na escola. - Ri olhando para a mesa - Sinto falta de cantar com alguém tocando ao meu lado.
- Então acho que você vale o risco, ou o mico. - Ele me encarou com um olhar atraente. - Você canta alguma do Arctic Monkeys?
- Claro. - Era por acaso minha banda predileta - Você sabe tocar Snap Out Of It?
- Com certeza. - Ele disse se levantando. - Vamos falar com o dono do bar, e ver se ele topa.
- Ok.
Fomos até o balcão e um homem careca com um bigode estranho nos recebeu. Ele parecia estar bravo e nos encarava de uma forma constrangedora, o que me fez querer desviar o olhar todo o tempo. Steve conversava calmamente com ele, mesmo parecendo que odiou a ideia, acabou aceitando e então fomos para o palco. Tentei não ficar muito nervosa e para me sentir melhor resolvi fechar os olhos. Steve começou a tocar e me deixei levar pela música. Quando vi já estava cantando sem errar a letra ou as notas. Ele tocava muito bem e tudo foi muito divertido. As pessoas começaram a bater palmas e dar assovios, isso provavelmente indicava que não havia ido tão mal. Quando terminou, descemos do palco e voltamos à mesa que estávamos, quando Steve entusiasmado disse:
- Você canta muito! Não esperava que tivesse toda essa voz escondida aí. - Ele sorriu animado. - Por que sua banda acabou?
- Eu me mudei, e com o tempo perdi o contato com meus amigos, ou melhor, meus ex-amigos. Eles encerraram a banda quando eu saí e agora estão seguindo com suas vidas, bom, espero que estejam.
- Entendendo, acho que isso vai acontecer com a minha também. A convivência com eles se transformou num estresse sem motivo. Quando vemos, já estamos discutindo por algo totalmente superficial.
- Coisas assim acontecem tão de repente que nem temos tempo de tentar mudar o que houve. E talvez devessem ser assim, para que coisas melhores surjam, ou não. - Ele riu um pouco.
Ficamos algumas horas conversando. Steve era filho único, amava a cor vermelha, lia livros de terror e, de vez em quando, alguns romances. Cuidava de um gato chamado Ed, gostava de levá-lo ao mercado (não sei como ele entrava com ele) e tinha 20 anos. Tocava guitarra de madrugada em bares e perturbava os vizinhos quando cantava sozinho em seu quarto. Comia pipoca com barbecue, ouvia desde pop a heavy metal, caminhava sozinho às nove horas da noite. Sempre estava buscando algo, que segundo ele, era "impossível de saber o quê". Confesso que ouvi mais do que falei, então quando eram 4h30 fui embora. Havia conseguido bater o horário que planejei voltar para casa e isso me fez sentir uma sensação diferente do que normalmente sentia, provavelmente liberdade.
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Prazer, Steven Harris
Teen FictionAlexia é uma garota aventureira que vive em Toronto, Canadá. Sua vida tem uma reviravolta quando conhece o misterioso Steven Harris num bar na véspera do ano novo. (História em desenvolvimento)