Full gás.

2.5K 220 97
                                    

O clima no consultório muda em um instante. Soraya acaba desconversando e assiste Simone recebendo algumas orientações, já o médico acaba se sentindo um pouco deslocado notando os olhares das políticas depois de trazer o tema da eleição presidencial para a conversa. Depois do susto, Thronicke e Tebet saem da sala do clínico geral e, após finalizarem a devida burocracia, vão em direção ao carro da mais nova. A loira continua vigilante, observa cada passo da mais velha e mantém um braço passando por seus ombros o tempo todo. De repente, quando a mais nova está presa em devaneios, Simone começa:

— Você não havia me contado aquilo, Soraya. — Simone diz com um tom de seriedade inerente à personalidade da morena, enquanto se distrai mexendo em uma das mangas de sua camisa social branca.

— Vai me punir? — pergunta com um sorriso de canto e percebe a feição séria da outra quando Tebet se vira para si — Não estamos mais tão próximas e não pensei que fosse algo tão importante...

— Mas é. — Simone fala e olha para o lado.

— Não, Simone. Eu não te contei porque soube ontem, tanto que me assustei com o fato de já terem iniciado a campanha nas redes sociais... — Soraya tenta remediar a situação — Você está chateada comigo?

— Ah, é que você parece conversar sobre esse tipo de coisa com o Senado inteiro e... Esquece.

Soraya entende o que era aquilo.

— Com ciúmes, Simone Nassar Tebet?

Simone revira os olhos e Soraya fica afônica visualizando aquela cena anômala. Depois de alguns segundos ínfimos, Tebet torna a olhá-la nos olhos.

— Pensei que nossa relação de anos permitisse que me contasse. Satisfeita?

"Nossa relação?", a mais baixa pensa e sorri.

— Você aparenta estar sempre meio ocupada ao telefone, além de ficar falando com aquela senadora esquisita da Paraíba e eu detestaria atrapalhar a dupla dinâmica.

— Com ciúmes, Soraya Vieira Thronicke? — devolve e sorri sem querer.

— Ganhei! — a mais nova recebe um olhar confuso de Simone. — Agora está sorrindo de novo.

— Você é tão infantil. — tenta disfarçar o sorriso bobo.

— E você gosta, não gosta?

Tebet fica em silêncio e é transportada para alguns anos antes; é um perfeito clichê. À época, Soraya estava entrando em sua sala de aula pela primeira vez. Os fios loiros caíam no tronco da mais nova e os olhos observavam tudo de forma categórica, até que esbarraram com os da professora mais rígida da instituição. Foi algo histórico. O tempo parou para que se admirassem. O ar, por sua vez, fugia dos pulmões de Simone e ricocheteava na brisa leve que entrava pela porta aberta e batia nos fios claros da mais nova. "Bom dia!", foram as primeiras palavras trocadas e, depois de alguns poucos minutos de aula, Simone e Soraya já estavam discutindo pela primeira de muitas vezes. A professora se lembrava de ter perguntando para que tanta imposição e de ter sido respondida com: "imagino que admire isso, não admira?". Parecia, até, que o tempo não tinha mudado nada porque aquele sentimento difuso ainda dançava nos salões da mente de Simone, e a década não significava grande coisa.

Simone encara Soraya e o recado daquela lembrança é transmitido. Parece telepatia. Um sorriso tímido e fugaz estampa o rosto da mais velha por alguns segundos.

Chegam ao carro.

— Vamos? Eu não quero perder o almoço hoje. — Tebet diz com Soraya quase deitada sobre a porta do veículo, prendendo-a.

Back to you, love | Soraya x Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora