Bad idea.

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O dia bonito, o tempo acalorado e a briza que compensava um pouco da sensação térmica da capital do estado de MS tomam uma face diferente depois do incidente entre Simone Tebet e Soraya Thronicke. O céu, e a mais jovem, são envoltos em certa misantropia; percebe-se o início de uma tempestade.

Depois do ato gelado, silencioso e, da mesma maneira, omisso da morena, Soraya se fecha. A loira consegue, até, entrar no veículo de Carlos César de cabeça erguida e tronco enriste. Mas a voz dela fica entalada na garganta quando se dá conta de que o brio se desfez no último abraço trocado entre ela e a ex-professora.

Os olhos fundos de Thronicke não conseguem negar o que está ao fundo da mente da supracitada quando seu marido dobra a esquina; olhos fundos, sim, mas, naquele momento, se concentram em pontos diversos. Porém, essa dissociação se torna inútil porque está no lugar que grita o nome de Tebet a cada avenida.

Carlos se vira para checar a senadora e percebe toda aquela melancolia, pensando que, ao menos, havia tentado avisar a mulher por quem tem tanto apreço. O olhar lançado pelo mais velho consegue capturar a feição de antipatia da ex-companheira, e isso o alarma um pouco.

— Você não quer conversar, ou quer? — o senhor indaga, diminuindo a velocidade. Se passam alguns segundos, e Soraya continua calada. — Eu sei que está magoada, mas guardar isso vai te fazer mal. E eu sinto muitíssimo por vocês duas.

— Não sinta. — ela comenta, mesmo estando magoadíssisma. César sorri fraco.

— Quer que eu vá para uma das nossas propriedades, ou prefere ir para a casa daqui? — Carlos sugere quando está fazendo o retorno, tentando distrair a mais jovem.

— Tanto faz. — responde com sinceridade.

— Ainda dá tempo de voltarmos e... — o homem começa assim que sente a pontada de insatisfação na voz da advogada.

— Se Simone prefere estar com alguém que a deixa parecida com um jequitibá, que seja.

— Perdão, querida? — fica confuso. — Por que um jequitibá?

— De tanta galha. — ela responde.

A última frase de Soraya arranca gargalhadas do que dirige. Por sua vez, Thronicke sente o mundo ficando em silêncio. Ela leva a mão ao canto direito da boca, rememorando os beijos que Simone gostava de depositar ali, e seus olhos se enchem de lágrimas. Depois, pisca algumas vezes enquanto o mar em seus olhos vai se dissolvendo.

Os fios loiros impedem que Carlos César dirija a vista de modo a enxergar detalhadamente a face quase rosada de Soraya, e ela agradece a Deus por isso.

Ficam em um silêncio cauteloso enquanto um chuvisco acanhado vira tempestade. Não demora muito para chegarem em um dos motéis administrados pelo "casal", escolhendo quartos separados e, inesperadamente, não recebendo nenhuma reação adversa dos funcionários por conta disso. Por um minuto, se olham com cumplicidade, como se fossem parceiros em um crime.

O aposento da empresária é amplo, tem paredes em fúcsia e animal print em uma paleta mais puxada para os tons complementares da cor principal. Soraya se senta e, contemplando o lugar, sorri em satisfação.

"Pelo menos, no mérito de decoradora de Motel, sou insubstituível.", comenta sozinha e revira os olhos.

O sorriso triste volta a surgir no rosto da senadora quando ela decide se levantar da cama na qual havia se deixado acomodar para tentar manter-se concentrada nos elementos da suíte; ainda está usando as roupas que escolheu para se redimir com a mais velha.

É irônico para Thronicke pensar que, ao início do dia, faria de tudo para manter Simone Tebet consigo. Contudo, ela compreende que a amante decidiu pelo outro lado e o sentimento de ter sido deixada para trás a corrói.

Back to you, love | Soraya x Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora