O olhar indecente da morena faz um declive suave para a pele aclarada do colo da outra senadora; ela não consegue, mesmo depois de vê-la despida algumas vezes, decifrar a venustidade da ex-aluna. É como se tivesse Afrodite, a deusa do amor, acanhada em seu corpo, fazendo com que tudo em si desague na mais pura das admirações.
A presidenciável do MDB pensa que Thronicke é como um mar de águas cristalinas; linda, transparente e inconstante. Ela é límpida como um espelho que duplica a versão favorita de si.
Soraya, que observa a maior se perdendo enquanto encara o vale de seus seios, tenta desprender-se da espécie de estupor. Em sua concepção, não pode deixar-se cair no subterfúgio que sua mente criou para não ter de lidar com a vida real. Ela, indo contra seus próprios princípios, sorri sem querer ao não sentir ou ver uma aliança nas mãos da antiga docente.
— A maleta. — exige, colando as palmas sobre o peitoral da outra candidata.
— Tem um preço. — Tebet responde, agora, olhando fixamente para o semblante carregado da loira enquanto morde o lábio inferior.
— Eu sequer pedi por isso, e agora quer que eu te pague para matar a minha curiosidade, Simone? — indaga com a expressão nublada, fechando um dos punhos levemente, e a mulher em sua frente assente afirmativamente com a cabeça. — Sua desonestidade me assusta.
— E a sua antipatia me deixa... — suspira, tirando a mão do queixo da de fios claros e pousando em sua cintura, enquanto dá para a outra a visão de suas bochechas pálidas ganhando um tom salmão. — apaixonada.
É a primeira vez que Tebet usa a palavra. A reação de Thronicke é, como sempre, uma surpresa: seus olhos enchem-se d'água e ela bate com o punho fechado em Simone. Há poucos meses atrás, a ex-prefeita teria se assustado, mas ela somente sorri.
— Ofendida? — a mais velha pergunta, mantendo o contato visual.
— Fora do meu camarim, Tebet! — ordena, ainda agredindo a outra, mas a citada não a leva a sério.
Nesse instante, a maior puxa Thronicke para mais perto e a proximidade lhes retira o ar. Pela primeira vez, as mãos de Soraya acariciam o corpo da parlamentar. Ela nota, somente então, como o vestido azul marinho da morena cai bem em sua tonalidade pálida e isso a faz respirar pesadamente. As cores são um contraste perfeito, assim como as duas senadoras.
Inesperadamente, a mais velha impulsiona seus lábios contra os da amante, que rapidamente cede passagem para a língua da maior. De forma desajeitada, Simone coloca a maleta na penteadeira que está atrás da parlamentar da UB e a empurra para prensar a outra contra o móvel.
As duas estão arrepiadas por conta da fricção, em completa sintonia. Soraya toma a liberdade de parar o beijo, tendo como intenção única gravar a imagem das duas coladas uma na outra em sua mente. O rosto rosado de Simone, os pulsos fechados fazendo menção a um protesto por estar ali, os fios negros que já querem colar na testa da amante e a peça azul-marinho que modela o corpo claro como marfim da ex-professora a tiram do plano.
— Você quer mesmo que eu pare? — Tebet indaga em um sussurro ao ver os globos castanhos de Thronicke de encontro aos seus.
— Eu só... — começa em um fio de coragem. Soraya quer se declarar, quer dizer que a morena a leva ao chão e a suplanta desmedidamente há mais tempo do que consta o calendário. — Você me tira o fôlego, só isso.
A mais velha ruboriza um pouco mais. O rosto de Simone parece uma aquarela de tons rosados. Ela não consegue acreditar que, levando em consideração que suas ações impensadas haviam magoado a menor, ainda consegue ter esse lado de Soraya para si. Seus olhos se apertam, olhos esses que não deixam de fitar a segunda mulher.
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Back to you, love | Soraya x Simone Tebet
FanficUma década; dez anos; 3650 dias e incontáveis horas separavam a jovem Soraya Thronicke do plenilúnio recôndito em brumas de olhos castanhos e cabelos negros que lhe dera aula nos anos de faculdade. O nome daquela força da natureza que habitava os pe...