Tormento

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Soraya Thronicke, a senadora do Excelentíssimo, a mãe exemplar, a esposa dedicada, a dona do sorriso mais lindo do Senado — esse último mérito lhe fora atribuído por outra senadora, mas ela não sabia disso. — e a candidata ao cargo administrativo mais alto do país, sempre foi vista como o sonho inalcançável de muita gente. Vez ou outra, Soraya aparecia como o nome mencionado em brigas de alguns casais formados por senadores riquíssimos e mesquinhos que a acompanhavam diariamente em seus respectivos cargos, outrora era mencionada como o motivo do tormento diário de sua, até então, colega e ex professora, Simone Tebet. A loira não sabia o que significava para Tebet, na verdade, nem quando conseguia sentir sua cabeça rodopiando por conta das indiretas secas de Simone durante o tempo em que a morena foi parte do corpo docente de sua universidade. Soraya jamais teve noção da proporção exata do que aqueles atos impensados provocavam na mais velha. Era um misto de sensações para a ex professora;

Há dez anos atrás, Simone teve que vê-la se despedindo na formatura da turma de direito e aquilo a impactou quase que negativamente, embora estivesse feliz por Soraya, mas, entre as duas, nada nunca era um adeus. A professora sempre a viu com olhos de quem não sabe exatamente onde colocar as mãos, com aquele ar de confusão tão alheio à persona que Tebet construiu durante tantos anos. Era de praxe para Simone, até aquele momento da formatura, encontrar Soraya várias vezes na semana e rir de nervoso com as investidas travestidas de amizade da mais nova. Para a Simone Tebet de dez anos atrás, ver a aluna era um show à parte. E para a atual senadora e candidata, Simone Tebet, também. Para a morena, sempre foi difícil escapar pela tangente de Soraya na Universidade, e era ainda pior no Senado, tendo em vista que em certas ocasiões Simone ousou até gritar com alguns colegas para defender Thronicke — o que era, sem dúvidas, algo inconcebível para alguém racional como a pessoa que Tebet apresentava para todos. — e diminuir as chances da mais jovem ser tratada com falta de decoro. Os músculos de seu rosto sempre se contraíam quando via que Soraya Thronicke, sua excelente aluna, corria algum tipo de "perigo" ou ameaça.

Naquele fim de expediente próximo ao período de lançamento de candidatos, Simone Tebet se viu sozinha com Soraya pela primeira vez em meses.

— Simone... que estranho, nunca te vi ficando até tão tarde. — Soraya diz enquanto mexe em suas mechas loiras, um hábito que tinha sempre que flertava com alguém despretensiosamente.

— Não entendi tamanho choque, Senadora... — ri fraco, está um tanto nervosa.

— E o que te motivou hoje, Senadora? — a mais nova devolve, dessa vez, no mesmo tom que a mulher de olhos negros como petróleo.

— Ah... você sabe. — olha para cima e toca o queixo, pensando — O trabalho sufoca sentimentos e coisas que não se comenta às luzes acesas.

— Que eu saiba, as únicas luzes acesas aqui são as dos nossos abajures... e são desligáveis. — ri e toca o ombro de Simone, fazendo-a gargalhar. — Adoro sua risada.

Simone trava quando constata que Soraya era a mesma garota de uma década atrás. Pior ainda, percebe que Thronicke exerce o mesmo poder de 10 anos atrás sobre ela.

— Ah, pare com isso... parece uma adolescente. — Simone responde, está completamente mexida.

— O que foi? Tem tanto tempo que não te falto com o decoro dessa forma, Simone Tebet. — sorri fraco. — Vai me dizer que não sentia saudades de ser importunada desse jeito?

— Soraya... — Simone fala baixo, da mesma forma que faz quando se envergonha.

— Se algum dos outros senadores dessa câmara te ouvisse falando assim, pode ter certeza que seria dado como louco quando tentasse espalhar para o resto... — fala enquanto massageia levemente o ombro da mais velha.

— Por quê? — indaga.

— Porque a mulher que eles conhecem nunca foi muito semelhante à que eu via nos anos de faculdade. — começa e percebe Tebet ficando mais tensa ainda. — Não estou menosprezando sua coragem ou sua avidez, Senadora, mas acredito que nenhum deles te ouviu falando baixinho assim, ou estou enganada?

— Senadora, por favor... — Simone diz tentando escapar daquela situação esquisita.

— Nenhum deles te viu vermelha como a bandeira do partido do nove dedos, ou estou enganada? — Thronicke se sentia mais vitoriosa a cada sílaba dita.

— Você sabe... sabe bem... — Tebet dizia enquanto traía cada um de seus pensamentos dúbios e ardilosos, assim como a mulher que estava a sua frente.

— Sei, seu rosto sempre entregou. — ri fraco e tira a mão do corpo de Simone, olhando-a de cima a baixo. — Eu já vou indo, Senadora. Caso queira comentar coisas na luz baixa, você sabe onde me encontrar.

Soraya dá de ombros, pega sua bolsa preta com alguns pertences, uma maleta com documentos a revisar e sorri tenra ao deixar o espaço, ao passo que Simone se encontra completamente sozinha e confusa.

Alguns minutos depois de ser deixada com seus próprios pensamentos, a mais velha decide que estava na hora de partir e ir para sua casa tomar uma boa ducha. Estava um tanto aliviada por saber que seu marido, Eduardo Rocha, não estaria em casa naquela noite porque haviam brigado feíssimo na manhã do dia anterior. O motivo era sempre o mesmo: Simone precisava de uma distância segura de seu marido, da mesma forma que precisava de uma distância segura do resto do mundo.

Tebet sai um tanto ofegante de dentro do prédio público e se dirige ao carro no qual seu motorista a esperava. Ela entra, relaxa a cabeça no video fumê e tenta pensar sobre o que acabara de acontecer. Todos os dias eram os mesmos na concepção de Tebet, exceto quando algo acontecia com sua protegida — Soraya — e ela tentava impedir com unhas e dentes. De certa forma, mesmo que separadas por uma distância que só existia na cabeça de ambas as mulheres, algo muito forte não conseguiu ser rompido com o lapso temporal de 10 longos anos. Soraya sentia falta de poder tomar-lhe em risos e tocar suas mãos de um jeito quase inocente, enquanto Simone era tomada por um saudosismo inexplicavelmente incômodo ao ver a mais nova aparecer no Senado, nas manchetes ao lado do marido, cumprimentando mulheres que ela não conhecia direito e até vendo-a online na conta profissional de Senadora.

Aquilo que aconteceu quando estavam a sós realmente impactou Simone Tebet. A atacou em seus pontos cabais; em Simone enquanto política, esposa fiel ao marido e à família tradicional que montou ao lado do supracitado e enquanto... mulher. Tebet não sabia ainda, mas algo que pensava ter perdido com o tempo ainda era constantemente tocado por Soraya Thronicke. Claro, Simone nunca se sentiu inebriada por outra mulher antes ou depois de conhecer a ex aluna, pensava ser porque não havia alguém como Soraya, ou justificava imaginando que era porque, no fundo, só se tratava de grande admiração — mas nem ela mesma conseguia explicar o que acontecia quando se encontrava em uma saia justa com sua "exceção". —, ou algo ainda mais supérfluo.

Ao conseguir retornar a si, assim que chegou em seu lavabo, Simone suspira baixo o nome de Soraya Thronicke; disse baixinho, do jeito que falou quando pôde tê-la para si por alguns poucos instantes. Ela pensa se está ficando louca e logo se dirige à sua banheira, na qual conseguiria descansar e repensar tudo aquilo.

Continua!

Back to you, love | Soraya x Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora