Derretendo satélites.

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Os olhos de Soraya se arregalam como os de quem teve uma enorme surpresa. Para completar a situação inoportuna para a mais jovem, Simone cessa o contato visual olhando para um canto aleatório atrás da loira e volta a tocar o próprio cabelo de maneira impaciente e ritmada.

Em um momento de muita coragem, poucos segundos depois da pergunta direta da mais alta, Thronicke recobra a própria consciência.

— É, nas condições que estabeleceu, eu realmente não me envolveria. — ao que a outra parlamentar a olha nos olhos, declara e mantém uma expressão de cinismo.

— E eu não sou uma mulher, Soraya? — o tom é, no mínimo, inquisitorial. — Você não tem vergonha de mentir para si?

— Teria se eu estivesse fazendo isso, senadora. — Simone percebe como, seja ela de bom tom ou não, Thronicke sempre tem uma resposta na ponta da língua.

— Ah, e eu não conto? Não está se envolvendo comigo? — pergunta com uma insegurança subsequente transparecendo enquanto deixa o estresse tomar conta de si, e se arrepende imediatamente depois.

— Você não me deixou completar. — o sorriso petulante estampa a face da mais baixa. — Com mulheres, no plural, não. Apenas uma me interessa.

Tebet semicerra os olhos em discordância e não sabe se está muito irritada ou com vontade de rir da fala da outra. Rapidamente, Thronicke gargalha da expressão da amante, fazendo com que a mulher de cabelos escuros se irrite definitivamente.

— Eu deveria te esganar, Soraya. — a ameaça sai em tom de brincadeira.

— Mas essa função é minha, Sisi. — o duplo sentido implícito em sua fala desconserta a supracitada.

— Olha... — Simone simula algum tipo de indignação, transparecendo isso tanto na forma com a qual se dirigiu à outra, quanto no dedo que decide mirar em sua face.

De maneira branda, a mais nova segura a mão da morena e a traz para si enquanto a acaricia com muito cuidado. Todo o carinho que nutrem uma pela outra foi quase que subjacente durante anos, mas, nesse momento, já não se importam mais em deixar tudo nas entrelinhas — e fora delas, também —, restando apenas um sentimento mutualista de cuidado e paixão.

— O que, Simone Tebet? — provoca.

— Nós... Ah, bom, precisamos conversar. — a ex professora de Soraya ainda tenta falar seriamente, mas a expressão vitoriosa da mulher que a está confrontado e sua costumeira voz trêmula a impedem. — Você contou ao Carlos César que tem casos extraconjugais, então?

— Sim. Acho que, diferente do idiota do seu marido, escolhi contar antes que ele descobrisse sozinho. E... — suspira. — não sei se deveria te falar isso, mas só mantenho uma "relação" fora do casamento.

— Eu não sabia disso. — responde ruborizando, quase sem querer. — Eu também.

— Jura? — indaga. — Quando o enfrentou mais cedo, pensei que tivesse o costume de, bem, estar com várias pessoas. Não achei mesmo que eu fosse a única.

— É sério... Até, digamos, alguns meses atrás, sequer havia passado pela minha cabeça a possibilidade de trair o Eduardo. — uma confissão é extraída enquanto a loira escuta atentamente e concorda com a cabeça, hábito que Tebet sempre admirou em silêncio. — Mas bala trocada não dói, não é?

— É, não dói mesmo. Com o jeito que falou, até me senti algo além que uma ficada de uma noite, Simone. — constata em um leve tom descontraído, mas a ex prefeita sente a vulnerabilidade presente na brincadeira da mulher de fios claros.

— Porque você é. — reponde com uma sinceridade que beira a grosseria. — Qual é a dificuldade que tem em acreditar nas coisas que te falo?

Contrariando o que geralmente faz parte de sua própria natureza, a menor fica em silêncio, porque, de fato, não sabe como responder a candidata do MDB. A morena se desvencilha da mais jovem e, sem falar mais nada, sai em direção ao próprio quarto, sendo seguida por Soraya em passos apressados.

Back to you, love | Soraya x Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora