O sorriso ladino de Soraya parece um ponto equidistante entre a felicidade e a confusão de Simone Tebet. Talvez, as palavras da menor fossem a causa da batida trêmula e sem constância do coração da morena, ou, quem sabe, o álcool seria o agente maior dessa arritmia.
A professora até pensa em contestar as palavras da jovem advogada, mas não o faz. Não vale a pena.
— Você já se arrependeu, Simone? — a empresária indaga com uma pitada de insegurança na voz.
— Nunca me arrependeria de estar com você, So. — responde com prontidão.
A emedebista solta o mais puro de seus pensamentos, contudo, Soraya se pergunta se a declaração é advinda da voz da dose de cuba libre que ela ingeriu.
— Quero que você diga que também está apaixonada por mim. — a de fios flavos praticamente ordena depois de instalarem um breve e desconfortável silêncio.
— Gosto de você por causa dessa sua sutileza, senadora. — ironiza e a gira enquanto dançam no salão imaginário. Soraya suspira, encarando-a em seguida. — Eu estou... — sorri sem mostrar os dentes e aperta a outra contra seu busto. — completamente, irremediavelmente e adventiciamente apaixonada por você, senadora Thronicke.
Simone rodopia a amante mais uma vez, erguendo sua delicada mão e se separando dela para que possam completar o passo. Ao que a outra funcionária do povo retorna aos braços da morena, selam os lábios. É um encontro de almas transcorrendo o toque da tez alva na pele esquentada pelo Sol. O beijo é calmo e quase despretensioso.
Mesmo que a candidata do padre prefira desaparecer a admitir que sentiu saudade da afiliada ao MDB, não consegue impedir o sorriso bobo se formando quando cessam um pouco a interação. O proceder sério de Soraya cai por terra quando a mais velha distribui selinhos pela extensão de seu rosto.
A faceta metódica da mais alta aparece até nesses momentos porque, quase sem querer, deixa sua mente traçar uma estratégia para demonstrar o que sente pela outra com excelência.
— Simone! — reclama entre risos, mas a citada faz pouco caso. — A minha maquiagem... Idiota!
Soraya tenta se afastar, mas a colega de Senado pende o corpo para mais perto dela e segue beijando os mesmos locais. Os carinhos de Tebet fazem com que as gargalhadas da loira preencham o cômodo.
Esse farfalhar emocional — quase melódico — que as duas consumam juntas é tão arrebatador quanto a risada da empresária que sucintamente dobra o salão da mente da morena.
— Idiota por você. — completa sussurrando depois de, praticamente, colar a boca ao ouvido da ex-aluna.
Sem quaisquer sinais de acanho, a ex-prefeita joga a outra política na cama e isso causa um aumento nos risinhos abobados de Thronicke. Seu sorriso cresce.
"É bom nos ter aqui, desse jeito, como um casal..." é a última frase ouvida por Soraya antes de se agarrarem em todos os cantos daquela suíte.
[...]
Simone acorda sozinha e ainda despida na cama de um dos melhores estabelecimentos de hotelaria de toda a zona oeste do Rio. Chega a ser exaustivo, ela pensa, mas essa abstração logo dá lugar a algum tipo de ímpeto para levantar-se do confortável móvel; quer procurar pela loira.
A advogada se enrola no lençol fino que estava cobrindo seu corpo enquanto ressonava e joga os cabelos para trás. Chama pelo nome da amante, mas não obtém resposta. Ainda de pé, vê que o papelzinho usado pela convidada de sua festinha particular para anotar o que queria na ocasião está dobrado em cima da cômoda que fica ao lado do local no qual descasara.
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Back to you, love | Soraya x Simone Tebet
Fiksi PenggemarUma década; dez anos; 3650 dias e incontáveis horas separavam a jovem Soraya Thronicke do plenilúnio recôndito em brumas de olhos castanhos e cabelos negros que lhe dera aula nos anos de faculdade. O nome daquela força da natureza que habitava os pe...