Back to you, love | Soraya x Simone Tebet

Eu e a brisa.

A manhã pós vitória é, talvez, uma das mais eufóricas da vida de Simone. Ela se deixa contemplar doces sensações e se diverte o suficiente durante a noite para se preparar para o que fará na semana seguinte; na verdade, o que realmente toma os seus pensamentos é com quem fará. A senadora pelo MS ainda cumpre mais alguns dias de apoio efetivo ao candidato escolhido por ela no 2º turno, tanto que chega a viajar com ele e o restante da comitiva para o DF.

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O nome de Soraya está esculpido em tudo que Tebet toca. A loira está inscrita na vida da senadora e, definitivamente, não haveria de ser diferente. A emedebista tem a colega de cargo como o Sol alaranjado que está despedindo, ou um vagalume no meio do breu de uma floresta de pinhais. Thronicke, depois de tudo que passaram juntas, se tornou não apenas uma pilastra como também o teto de Simone.

A sul-mato-grossense não está mais entre a cruz e a espada, ou em uma disputa interna, pois permitiu que sua balança de decisão pendesse para o lado de sua ex-aluna. Ela, contando com seus mais de 50 anos de experiência, tem noção de que o destino é incognoscível — uma porta aberta —, mas não se importa mais em velejar por águas turvas em um céu tempestuoso se tiver a companhia de certa colega parlamentar.

É como se os sentimentos de Simone por Soraya tivessem sido esculpidos em Carrara — comuna italiana da região da Toscana, a qual é referência em mármore desde a Roma Antiga — de tão similares e polidos.

Para a ex-prefeita, a coragem é mais que uma âncora ou uma direção, na verdade, ela trata tal conceito abstrato como seu objetivo de vida. Todavia, as circunstâncias, óbices e confusões ao lado da amante lhe trouxeram a perfeita antítese para o seu propósito. Lidar com o acanhamento e com a covardia eriçou até o último dos fios de cabelo negro de Tebet, mas conviver com a presença da ausência de Soraya era demais.

Enfim, a maior das derrotas de Simone não fora anunciada ao público ao fim do 1º turno, e sim ocorreu de maneira privada durante as semanas que coabitou, junto de um vão enorme, a inópia sentimental que a outra deixou.

[...]

O cântico sublime dos pássaros embala os tímpanos da primeira-dama, os do presidente eleito da República Federativa do Brasil e os da professora e profissional do Direito. Os três estão se despedindo. Luiz e Rosângela têm agendas a cumprir, já Tebet vai se conectar a redoma pessoal. Eles estão em um imóvel pertencente a Lula, o qual fica em Brasília e conta com corredores cheios de árvores e um enorme portão branco que conta com escolta do lado exterior.

A morena se limita ao "Até logo.", recebe um abraço carinhoso de Janja e um aperto de mão caloroso do marido da socióloga. Ao que a emedebista dá meia volta, a que usa óculos puxa o senhor pelo antebraço.

— Nunca vi a Simone assim. — ele comenta e a outra concorda. — Vai ser difícil vê-la tão feliz de novo. — a mulher sorri de um jeito cúmplice e o dirige para o interior da propriedade. — Creio que nem um Ministério é capaz de colocar um sorriso desses na face da Tebet.

Eles dão as mãos, aos risos, como sempre fazem. Lula direciona o olhar para a saia longa, arroxeada e florida de sua mulher e pensa no quanto combina com ela. Os dois são daquele tipo de casal que não guarda segredos e que combina uma busca engajada para que as partes possam ser comparsas em tudo.

— Se você soubesse, Luiz... — Rosângela solta e suspira, fazendo com que o petista busque por seus olhos com uma expressão curiosa. — Mas eu não vou te contar! Você é muito fofoqueiro. — ele junta as sobrancelhas enquanto a de fios claros sorri. — Não fica chateado... — o fita com um olhar de cão pidão. — Simone disse que logo, logo, o Brasil inteiro vai tomar nota e isso te toca.