Quando o aparelho celular é entregue na mão de Soraya, a feição de descontentamento surge na face das duas mulheres. Tebet acaba por, involuntariamente, é claro, formar um biquinho em seus lábios e pergunta se a mais jovem planeja mesmo atender a chamada. Percebendo a cena, Thronicke sorri, e alega que vai apenas dar um chega para lá no — em suas próprias palavras — "futuro ex marido", mas que logo estaria de volta.
A loira dá um selinho rápido em sua colega de profissão e se levanta para ir até a varanda com o celular em mãos. Em resposta, a outra senadora apenas assente e a observa andar com certo charme para o lado de fora do cômodo.
Quando atravessa o portal para o local suspenso, Soraya encosta a porta, segue andando, se coloca contra as grades seguras e foscas que circulam a estrutura e cruza os braços, com o celular que a acompanha para todos os lados na mão direita.
Um suspiro necessitado escapa, e ela sente o mundo girar em uma espécie de protesto do universo contra suas últimas ações.
Pensa, por um quarto de minuto, que estava em um relacionamento estável até ter a brilhante ideia de provocar a quedinha que tem desde que era uma jovem adulta. Instantaneamente depois, se repreende pensando que Simone não era, não é e, muito provavelmente, nunca será mais uma paixão efêmera. "São anos demais empenhada nisso, que pensamento idiota...", responde para si como se estivesse discutindo no Senado, enquanto fita o céu escuro.
Por um lado, está feliz por estar encaminhada para longe do que a prendeu, de alguma forma, durante anos e, por outro, se pergunta sobre o que aconteceria quando a morena decidisse desistir daquela história absurda. Na visão de Soraya Thronicke, mesmo que não fossem duas iguais, ainda seria impossível que Tebet descesse de seu pedestal e assumisse os bons chifres que deu ao companheiro de vida e casamento. Soraya pensa que é comicamente trágico estar na posição de quem sabe que é uma situação impossível, mas, remando contra a corrente e traindo a própria consciência, ainda pensa que não desistiria tão facilmente do cenário insustentável com a outra.
Suas mãos denunciam a ansiedade e, em conjuntura a isso, também denotam o frio da noite em MS. Não é como se a temperatura tivesse ficado insuportável de uma hora para outra, muito pelo contrário, mas toda a atmosfera e a saída brusca da situação que ocorria com Simone em cima da cama corroboram para que a loira tremule cada vez mais.
— Eu... — enquanto entreabre a porta, gagueja. — Eu não quero atrapalhar seja lá o que está fazendo aí, mas, meu Deus, não poderia te deixar pegar um resfriado. Então... bom, te trouxe essas coisas e posso, apenas se desejar, te fazer um café.
Soraya se vira e olha para a outra mulher com muita ternura enquanto essa traz um casaco de lã e um cardigã, ambos brancos, para que possa sobrepor ao que a loira já está usando. Com os tecidos sobre o braço direito e um nítido constrangimento por pensar ter interrompido a ex aluna, Simone busca forças em si e consegue olhar nos olhos da mais baixa.
— Preferiria um bom chá. — responde descontraída e observa o rubor que toma conta do rosto de Tebet aumentar. — Você está linda assim. Exatamente assim.
O tom de voz afeiçoado com o qual a mais jovem se dirige à ex professora cativa ainda mais a mulher de cabelos pretos.
— Obrigada, você também está. — responde Soraya enquanto vai ficando mais envergonhada e põe a mão esquerda sobre o rosto.
— Obrigada pelo casaco e pelo cardigã. — ela sorri e se aproxima da mais velha, pegando os dois.
Tebet a auxilia a pôr as peças e, assim que terminam, segura sua mão direita e a loira dá uma voltinha, lhe arrancando sorrisos fáceis e expontâneos.
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Back to you, love | Soraya x Simone Tebet
Fiksi PenggemarUma década; dez anos; 3650 dias e incontáveis horas separavam a jovem Soraya Thronicke do plenilúnio recôndito em brumas de olhos castanhos e cabelos negros que lhe dera aula nos anos de faculdade. O nome daquela força da natureza que habitava os pe...