Take me back to the night we met.

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O aparelho dentro da bolsa de Simone vibra continuamente, tirando o semblante calmo da dona e o substituindo por uma face de preocupação.

— Acho que preciso atender, Soraya. — diz e se levanta sem esperar pelo aval da mais nova.

Thronicke somente acena com a cabeça e acompanha Simone com os olhos enquanto a morena vai até o local no qual largou sua bolsa, até que a mais velha pega o celular e atende. É seu marido.

"Oi, o que deseja?", Tebet diz com a voz calma.

"Ah, Simone... Eu comprei algumas coisas para você porque, durante o voo ao Nordeste, percebi como estou sendo idiota contigo.", o homem do outro lado da linha fala genuinamente.

"Está falando sério, Edu?", pergunta distraída e Soraya sente um grande desconforto.

"O que? É claro que estou. Você é o amor da minha vida e eu que errei em não tentar recobrar nós dois, querida.", após Eduardo pronunciar essas palavras, Simone se sente extremamente culpada.

"Querido... Aproveita a sua viagem e quando chegar em casa conversamos, tudo bem?", Simone diz tentando remediar a situação, mas no fundo não quer ter aquela conversa.

"Imagino que esteja chateada, amor... Esperarei pacientemente. Boa noite.", o homem diz e desliga em seguida.

Simone guarda o celular e respira fundo, ao que encara Soraya e a vê olhando para baixo enquanto tenta se distrair mexendo nos lençóis. Vai até a cama que a outra senadora está e se senta ao seu lado.

— O que foi, Soso? — a mais velha pergunta se aproximando e já sabendo a resposta.

— Não me chame assim. — responde e a fita séria.

— Você fica tão fofa fingindo estar irritada...

— Eu não estou fingindo. "Querido"... — respira fundo — É sério isso, Simone? Você apelida o seu marido da mesma forma que me apelidou?

— Foi um ato falho, Soraya. Eu nunca o chamo assim ou por outros apelidos além de "Edu". Sabe, ele estava me pedindo desculpas e... — Simone diz e para ao observar a feição da outra mulher.

— Eu entendi tudo. Por favor, saia da minha casa. — a loira diz e a outra a olha sem entender. — Brigou com seu maridinho e por isso se reaproximou da antiga aluna preferida, não é isso, Simone?

— Não, Soraya... Não tem nada a ver com meu casamento.

— Eu ouvi a sua ligação e é exatamente isso. — se vira para o lado e engole o choro. — Eu não vou pedir novamente, Simone Tebet. Saia da minha casa.

— Por favor, Soraya, me escute. — a mais velha ainda tenta uma tréplica, mas é ignorada. — Não estou usando você.

— Não é o que parece. — fala com seriedade.

— Soraya... — responde como se estivesse pedindo por algo.

— Me deixe adivinhar, vai me encher de promessas agora? — indaga antes que a outra comece. — Por favor, me poupe disso e vá atrás do seu casamento. É um favor que você me faz.

A morena respira sofregamente e para de tentar mudar a mente da ex aluna. É doloroso para os dois lados e, para a mais velha, consegue ser pior. Depois de juntar suas coisas, se vestir e pegar a bolsa, Simone olha mais uma vez para a mais baixa, enquanto está escorada no canto da porta, e implora para todos os Deuses para que Soraya a olhasse de volta, mas nada acontece.

Lá no fundo, Tebet queria poder jogar a bolsa em qualquer lugar e se colocar de joelhos para que Thronicke pensasse na possibilidade de não encerrar aquele contato ali, porém, seu lado racional a alerta para que não faça nada à contra gosto da loira.

Simone sai com as mãos dentro dos bolsos, pede para uma copeira que trabalha para a família Thronicke lhe indicar a saída de empregados e, ao sair pela entrada comum e se deparar com a cidade quase totalmente apagada e um ar cálido, se deixa chorar. As lágrimas caem e ela se pergunta sobre o que está fazendo com a própria vida. Depois de uma caminhada difícil, a mulher de cabelos negros chama um motorista de aplicativo pelo telefone e segue seu caminho para casa assim que o condutor chega. O caminho é demarcado por lembranças que iam desde a vista da varanda da casa da mais nova, até os momentos nos quais Simone conseguiu se sentir como alguém que pertencia somente à loira, baixa e mandona por quem acabou se encantando durante anos.

Simone não conversa na ida para sua residência; chega em sua casa, seguidamente depois joga-se no colchão e seus sentimentos afoitos a colocam em um sono necessitado. Não bebeu, não comeu e não terminou a noite com Soraya da forma que havia planejado antes de ser derrubada por uma necessidade biológica, e aquilo fez com que não deixasse de sonhar com a ex aluna durante as oito horas de sono.

Em sua casa, Thronicke se sente usada. Ela se vê como um momento para a crise no casamento da mais velha e chega a conclusão de que se o que sentisse fosse só a emoção que experimentou enquanto a outra se debruçava em sua cama, não estaria tão magoada. É um sentimento antigo que transpassa a atração física, ela pensa consigo. Soraya se debruça depois de ver Simone saindo de sua casa pelo janela de outro cômodo e as lágrimas escapam no ritmo dos passos apressados da outra senadora. Por alguns segundos, pensa em correr atrás de Tebet pelas ruas e fazer com que ela volte, mas o descontentamento é tamanho que desiste só de pensar que em algum momento teria de ver a mais velha do lado do marido. Soraya pensa que sonhou um pouco alto demais e se sente estúpida.

Depois de alguns minutos se desfazendo sobre a janela, a mais nova retorna a seu quarto. O vinho e as duas taças estão lá, e ela decide beber direto da garrafa; sem taças, sem restrições e, mais importante que os últimos itens, sem a companhia de Simone. A loira não costumava beber desse jeito desde que se viu livre do relacionamento com Carlos, mas nesse momento acaba por se render à própria melancolia.

A luz do abajur, o cheiro da morena na roupa, a lembrança do que aconteceu em cima e fora de sua cama e de como aquele dia se deu acabaram com Thronicke. Por ser fraca para o álcool, acaba dormindo pouco tempo depois de começar a se embebedar. Ela se sente como um acessório para Simone Tebet. Uma transgressão e nada além disso.

No dia seguinte, na semana seguinte e no mês seguinte, a mais nova ignora toda e qualquer tentativa de contato vinda de Simone dentro e fora do Senado Federal. Ela apenas manteve as aparências na frente dos colegas, mas, quando a outra tentava mandar uma mensagem ou a procurava a fim de chamá-la para conversar, não ousava sequer responder. Por conta desse isolamento, Soraya acaba descobrindo pelo jornal que uma das oponentes na corrida presidencial seria a mulher com quem teve uma noite inesquecível: Simone Nassar Tebet. O choque é tanto que quase cai para trás — na frente dos assessores — ao ler que teria um debate com a ex professora poucos dias depois.

Continua!

Back to you, love | Soraya x Simone TebetOnde histórias criam vida. Descubra agora