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📍 SALVADOR
OUTUBRO, 𝚍𝚎 𝟸𝟶𝟷𝟿
━━━━ seis meses depois

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Elis deu entrada na emergência da maternidade assim que as contrações — após a bolsa ser rompida — aumentaram e ficaram quase que insuportáveis. Benjamin, Edna e Sérgio estavam mais nervosos, que a própria mãe em trabalho de parto. Finalmente eles conheceriam a neta e a afilhada, apesar de ela ter vindo em circunstâncias diferentes, era muito mais especial ainda assim.

Como todo trabalho de parto comum, eles estavam aguardando a dilatação correta para que o nascimento em si, iniciar-se. Elis estava confiante e muito segura de si, iria trazer sua filha — ainda sem nome —, ao mundo. Mesmo que estivesse se sentindo sozinha, sabia que tinha pessoas ao seu lado que queriam estar ali, e fizeram questão de permanecer durante os seis meses após ter sido abandonada do altar.

Obviamente, em cada fase da gravidez, ela desejou que Gabriel estivesse lá, para ver a filha que eles fecundaram juntos, uma extensão do amor puro que viveram, mesmo após tudo ter sido jogado as traças, como se não tivesse tanta importância. Mas tinha.

— Você está bem? — Ouviu seu pai perguntar, segurando sua mão e elevando até a boca, deixando um beijinho no dorço.

— Estou sim pai. — Respondeu tranquila. — Só ansiosa pra ver minha filha. — Sorriu animada.

— Você vai ligar pra ele? — Edna perguntou, também se aproximando a filha, e acariciando a barriga.

— Vou. — Assentiu. — Mas agora não, deixa ela nascer e aí eu ligo. — Suspirou fundo.

Depois de tanto insistirem, Elis aceitou que a bebê merecia o pai presente no seu crescimento, mesmo que aquilo ainda doesse nela. Apesar de tudo, nunca se perdoaria por não ter dito a verdade na última vez que se falaram, aquele dia havia sido horrível, ela chorou por horas e implorou aos céus, que de forma mágica ele estivesse lá apenas para abraçá-la.

Elis foi direcionada a um terapeuta, por uma depressão gestacional e depois de algumas sessões, entendeu, que tinha uma dependência emocional e que não necessitava de Gabriel para sobreviver, necessitava dela mesma e agora da filha. Outra contração lhe abateu, e por mais que tentasse controlar, a dor era quase que insuportável, como se sua coluna estivesse quebrando, como se as cólica menstruais se multiplicassem por dez, e algo rasgasse sua vagina. Não sabia quem havia romantizado um parto normal, mas ansiava achar e matá-lo.

— Mãe acho que vou morrer. — Choramingou, se espremendo na cama e apertando o apoio. — Eu na vou aguentar. — Disse.

— Vai sim filha, toda mulher diz isso. — Respondeu sorrindo, beijando a testa da filha e acariciando os fios ruivos.

— Toda mulher que está bem psicologicamente. — Rosnou brava. — Eu vivi muita coisa nos últimos meses, e não sei se estou pronta pra parir essa menina, que ainda por cima, não tem um nome e nem um pai. — A voz embargada, evidenciou a dor e a frustração.

— Ela tem pai sim. — Benjamin ressaltou, elevando o tom da voz por estar distante.

Sentado em uma poltrona de acompanhante, com as pernas cruzadas, ele agradeceu por ser somente atraído pelo sexo masculino, e não mulher portadora de útero. Ja estava sendo traumático acompanhar o parto de Elis.

— Pode não ter un padre, mas tiene avô e avó, tem um padrinho. — Sérgio respondeu, cruzando os braços como seu espanhol europeu carregado. Estava bravo, apesar de estar feliz por finalmente conhecer a netinha, todos queriam Gabriel ali.

Contagem Regressiva ━━ Gabigol Onde histórias criam vida. Descubra agora