Capítulo 37~ Você não é frágil.

61 10 3
                                    


Pov'Meredith.


- quem?

- é uma longa história... Vamos fazer um acordo?

- qual?

- eu não te forço a falar da sua dor, e não falamos da minha - ele pediu.

- combinado...

Edgar entrou em uma rua e parou o carro na segunda casa do lado direito.

- morei a vida toda aqui, mas em outra casa, na parte menos nobre, depois mudei para Seattle, comprei esse apartamento depois que entrei para a corporação - ele falou saindo do carro, o imitei, entramos juntos e o segui por dois lances de escada, ele parou diante de uma das quatro portas daquele andar e abriu - bem vinda.

- valeu - agora me sentia sem jeito, não que eu achasse que ele faria algo errado, mas nós não chegavamos a ser nem colegas de trabalho, que dirá amigos, peguei meu celular e liguei, ia ligar para Alex quando vi sua chamada.

Ligação on.

- onde você tá?

- Alex! Eu estou bem.

- onde você está? Vou te buscar - ele mandou.

- não vou falar onde, mas estou bem, estou segura e quero ficar sozinha...

- Meredith esse não é o momento pra sumir, eu sei que tá difícil.

- sua esposa morreu Alex?

- não.

- então não sabe, eu não quero brigar... Só preciso pensar, assim que estiver pronta para encarar tudo eu vou pra casa.

- Meredith a mamãe tá preocupada.

- eu estou bem, meu celular vai ficar ligado, te amo Alex.

Ligação off.

- você joga sujo - Edgar comentou me entregando um copo água - qual a última vez que comeu?

- acho que ontem no jantar - bebi toda a água de uma vez.

- vou fazer alguma coisa - ele foi até a cozinha, o apartamento de Edgar era pequeno, a sala conjugada era dividida por um balcão, só se via mais duas portas ali, mas era tudo muito arrumado e limpo.

Pensei em falar que não precisava da comida, mas acho que estava com fome, fiquei andando pelo apartamento olhando tudo, ele me seguia com o olhar, deveria estar incomodado com minha presença, eu estaria, mas ele sentia pena também da "viuvinha" parei de andar ao ver a foto de uma mulher linda olhos cor de mel, pele branca e cabelos castanhos, parecia estar grávida.

- Tânia - ele respondeu a pergunta que eu não fiz.

- esposa?

- sim - ele concordou.

Então fez sentido ele me ajudar, ele entendia o que estava sentindo, ainda não explicava ele ser machista e preconceituoso, mas explica ele me ajudar, também não era da minha conta.

- nós fugimos quando ela estava com 18 anos, eu tinha 22... Os pais dela não aceitavam nosso namoro... Por eu ser negro - virei para olhar Edgar - fomos para Seattle, comecei a trabalhar duro para cuidar dela e manter a vida que estava acostumada a ter... Não foi fácil, nem consegui dar a metade do que ela estava acostumada, mas éramos felizes... Casamos em uma cerimônia simples só nos dois.

Só concordei, sem querer falar algo errado.

- um anos depois do casamento descobrimos que ela estava grávida, também estava com câncer no útero... Eu tentei no início, mas não deu certo, foi quando liguei para os pais dela e contei... Ele foram até lá conversamos, eles prometeram cuidar dela e do nosso filho... Eu acreditei que eles me deixariam estar perto dela, me convenceram a ficar em Seattle trabalhando.

Edgar parou de falar, olhou para os ovos que preparava.

- combinamos que viria para New York uma vez por mês, mas na primeira vez que vim... Descobri que tudo o que falaram era uma mentira eles não me deixaram ver ela... Quando invadi a casa... Foi a última vez que a vi, grávida de seis meses, ela contou que era um menino, se chamaria Antony como o meu pai... Eles chamaram a polícia, me denunciaram por invasão de propriedade privada.

- céus - arfei.

- não tinha dinheiro para um advogado, esperei um servidor público, só consegui um, um mês depois, quando sai descobri que ela havia morrido, o tumor estourou... Os dois morreram.

- Edgar? - meu coração batia tão forte que chegou a doer.

- eu entendi quando falou que preferia lembrar dele sorrindo, dizendo que te amava... Eu pensi nela assim.

- sinto muito, nossa - sentia um no na minha garganta.

Agora fazia sentido o fato dele odiar pessoas brancas.

- isso foi a quase dez anos, entrei para a polícia três anos depois.

- porque deixou ele ir? - perguntei.

- quem?

- o marido de Emilly!

- foi ele que me ajudou a sair da cadeia... Quando se deparou comigo, me cobrou o "favor" eu passei noite sem dormir depois daquela foto que colou na minha mesa.

- que bom, a intenção era essa - sorri um pouco.

- você tem um modo pesado de impor sua opinião - ele também estava rindo.

- eu sei! Eu não imagino como deve ter sido o que passou.

- foi foda pra caralho - Edgar falou me entregando um prato com ovos e bacon pegou suco na geladeira e nos serviu.

- por isso me ajudou?

- porque eu entendo sua dor?

- sim!

- talvez - ele deu de ombros - mas você tem sorte, tem uma família pra te apoiar, eu tive que fazer isso sozinho.

- eu sei que tenho, mas eles são muito emotivos, o menos pior é o Alex...

- não faz mal sentir isso Meredith, é bom... E você deve.

- você sentiu?

- não no início, sentia tanto ódio... Mas chegou o momento que foi difícil não sentir... A dor quase me matou, eu perdi o controle da minha vida, e foi pior não sentir.

- não vou chorar na sua frente - o adverti.

- que alívio, odeio ver pessoas chorando - ele sorriu - come, depois tenta dormir.

- vou pra casa depois.

- pode ficar no sofá, ele é sofá cama... Te arrumo um cobertor.

- no próximo plantão vai usar isso pra me fazer parecer frágil?

- você não é frágil - ele falou e encheu a boca de comida.



👮🏼‍♀️👮🏻‍♂️🎯


Eu não tô chorando com a história dele, vocês que estão.


Um Amor Inefável Onde histórias criam vida. Descubra agora