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As coisas não tinham que ser assim. Nada deveria ter acontecido daquela forma, contudo...
Eu soube que estava tudo perdido no exato momento em que me antecipei ao ataque daquela coisa e consegui me defender, ganhando algum tempo.

Um tempo que, pensando bem, foi onde o erro começou.

Lembro-me de levantar e correr por entre o fogo e os escombros, usando os antebraços para proteger meu rosto dos pedaços do teto que despencavam, destruídos pelas chamas.

Vi Benjamin recuar em sua cadeira de rodas, desesperado.

Jamais o tinha visto tão fora de si. Ele tinha medo. E eu também tinha.

— O que está acontecendo? — Perguntou-me. — Karol, você está machucada! A gente precisa....

— Você tem que ir para a saída dos fundos, Ben. Agora! Vai!

— Não! Eu não vou deixar você. Quem é aquele cara?

— Você precisa se salvar. — Olhei em volta. Os pelos da minha nuca se eriçaram. Eu sabia que aquela coisa estava se aproximando. — Depois eu te explico tudo, eu juro. Mas agora, vai. VAI DE UMA VEZ!

Eu não tinha os conselhos da vovó para me guiar, tampouco sua orientação de como proceder, portanto, deixe-me levar pelo desespero que assolava o meu peito e comecei a empurrá-lo, desviando dos entulhos.

Benjamin me lançava inúmeras perguntas. Ele queria ficar e entender, mas eu não ia colocar sua vida em risco. Mais ninguém teria que morrer.

— O QUE ELE QUER COM A GENTE, KAROL?! QUEM É ESSE CARA?

Abanei a cabeça e passei na frente dele, empurrando uma estante que estava ligeiramente inclinada, derrubando-a de uma vez para o outro lado, abrindo caminho.

— O problema é comigo, Benjamin. — Murmurei, voltando a empurrar sua cadeira. — Há muitas coisas sobre mim que você não faz a menor ideia.

— Karol, eu....

— A única coisa que precisa saber é que eu não vou deixar ninguém te machucar.

— Há promessas que não se fazem, bruxa!

Um grito ficou preso na minha garganta diante do ataque feroz que me pegou pelas costas. Fui puxada brutalmente e jogada do outro lado da sala, próximo a um amontoado de madeira que era engolida pelo fogo.
A quentura era descomunal.

Eu podia sentir. Deus, e como podia! Parecia que o osso do pulso havia saído do lugar. A dor me fez urrar como um animal. Todo o meu braço latejava. Fiz força para conseguir sentar e posteriormente ficar de pé, só que fui atingida de novo, dessa vez, um chute na barriga.

Rolei para o lado, batendo com a lateral da cabeça na parede.

Imediatamente achei que fosse vomitar ou desmaiar; talvez as duas coisas ao mesmo tempo. O gosto do sangue chegou rápido à minha boca e um bocado dele escorreu pelos meus lábios, empapando o chão.

— DEIXA ELA EM PAZ! PARA! PARA COM ISSO!

— BEN, NÃO! NÃO... VAI EMBORA! NÃO!

Mas meus gritos foram em vão. Benjamin vinha desenfreado até o demônio que já se preparava para me pegar de novo. Meu amigo não fazia a menor ideia do tamanho daquele erro e das consequências que acarretaria.

E muito antes que ele pudesse tomar qualquer atitude, aquela coisa que me espreitava nas sombras e desejava me matar, virou-se, agarrando-o sem muito esforço.

Foi um segundo, a porcaria de um segundo, mas aconteceu...

Um jato de adrenalina tomou o meu corpo e eu ignorei a dor visceral que me tomava. Arrastei-me para ficar de pé, só que... era tarde.

O Príncipe LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora