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Emmett

Meses antes...

Aharis sabia que eu iria procura-lo, mas nem assim me poupou do espetáculo ridículo onde se fingia de surpreso por receber a visita de um dos guardas do rei.

— Eu lhe ofereceria um lugar confortável para se sentar, mas como pode ver.... — Moveu a mão vagamente, abrangendo todo o ambiente insalubre e com pouca iluminação no qual vive há anos. — Fica difícil ser cortês assim.

— Dispenso profundamente a sua cordialidade, Lord Aharis. — Resmunguei, assentindo em seguida para que o guarda que me levou até ali se afastasse. — Diga-me, é verdade que vai ajudar o príncipe?

— Ora, ora.... — Cantarolou, empoleirando-se numa pedra grande que ficava no canto da masmorra. — As notícias correm rápido por aqui, não é, menino corvo?

— Porque vai deixa-lo trazer a bruxa se odeia o rei?

— Humpf! — Pulou para outra pedra. — O jovem príncipe lobo me deu algo muito importante em troca. Além do mais, o rei não me interessa, tampouco acredito que vá suportar tanto tempo. A única coisa realmente significativa nessa história é que a bruxa virá para Hidden.

— Porque precisa da hibrida?

— Não é da sua conta!

— Tudo bem. — Balancei a cabeça e cruzei os braços, observando-o capturar uma mosca com a língua e leva-la até a boca, mastigando-a em seguida. — Eca. — Pigarreei, desviando o olhar. — Bom, é.... de todo modo...

— O que quer de mim, menino? — Sua voz me rodeou como uma nuvem densa e logo ele estava atrás de mim, sussurrando por sobre o meu ombro. — Você não veio até aqui por nada.... correto?

Afastei-me, respirando fundo, abrandando os meus sentimentos.

— Preciso de um feitiço.

— Um feitiço?

— Sim. Quero dizer, eu preciso de dois.

— Dois... — Murmurou, correndo a língua nojenta pelos lábios. — Para qual finalidade?

Olhei em volta, mas estávamos definitivamente sozinhos. Até mesmo os presos mais perigosos ficavam um andar acima do Lord. Só ele ficava na parte mais obscura e precária do castelo.

— Quero um feitiço que me ajude a manobrar os demônios do Vale dos Esquecidos e....

— E...?

— Mata-lobos. — Olhei-o. — O mais eficaz que você já produziu.

— Hi, hi, hi! — Guinchou, saltitando até outra pedra. — Não foi o suficiente o veneno que você produziu durante todos esses meses com as ervas maledicentes do lado amaldiçoado da floresta?!

— Como você....

— Como eu sei? Oh meu doce menino corvo.... Quem você acha que plantou aquelas ervas? — Seu sorriso nojento se ampliou até se tornar sinistro. — Sei de tudo de ruim que rasteja por Hidden, assim como sabia de você antes mesmo de te ver pessoalmente. Eu posso... farejar o seu ódio.

Não sei porque, mas dei um passo para trás, esbarrando com as costas nas grades.

— Eu tenho motivos.

— Para vir envenenando o rei desde que o seu pai morreu? Sim, eu imagino. Sempre fui muito sentimental. Posso entender o ódio de um garotinho que ficou órfão por culpa de um soberano mesquinho.

— Por culpa dele o meu pai está morto!

— E agora você vem tentando mata-lo. Esplêndido! — Guinchou, rindo. — Posso imagina-lo esperando calmamente enquanto o veneno se alojava nos órgãos de Sua Majestade... Deve ter sido prazeroso vê-lo sucumbir pouco a pouco, ruindo.... Ah, que deleite!

O Príncipe LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora