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— O lago? O lago da floresta é o portal para Hidden?!

— E o que você esperava, um espelho mágico ou coisa assim?

Torci o canto da boca, olhando para a água que corria calmamente. Parecia sim um espelho de tão límpida, mas não exatamente um espelho mágico que nos levaria para um submundo.

— Dadas as circunstâncias, eu imaginava algo diferente.

Meu namorado riu, apesar de que isso parecesse lhe despertar mais dor. Ruggero não aguentaria mais tempo, por isso empurrei para longe meus comentários e lhe dei mais apoio, guiando-o na direção da beirada do lago.

Eu não tinha ideia do que faríamos a partir dali. Era só se jogar de cabeça? Nadar rumo ao fundo? Cavar um buraco para sair do outro lado? Evocar algo ou alguém? Que diabos!

— Por isso o livro e o colar voltaram pra mim. — Murmurei. — O lago tem magia.

— E uns seguranças bem carrancudos. Eles certamente não deixariam algo desse mundo passar só assim, ainda mais uns objetos tão poderosos.

Parei e franzi o cenho, olhando para Ruggero que tentava se manter firme.

— Seguranças?

— Não achou que um portal tão importante ficaria desprotegido, achou?

— B-bom, e-eu... até então sequer sabia da existência disso tudo. Então...

Ruggero balançou a cabeça, permitindo-se abrir um sorrisinho. Ele me deu um beijo rápido na cabeça e se afastou. Pensei em ajuda-lo, mas meu namorado logo se abaixou, passando as pontas dos dedos pela água que se agitou, como se seguisse seus movimentos numa dança silenciosa e elegante.

— Preciso de dois passes. — Ruggero murmurou para a água. — Estamos voltando para casa. Deixe-nos entrar em Hidden.

— Ruggero, eu não est....

— Shiu! — Sibilou, abanando a cabeça pra mim. — Eles gostam de silêncio e obediência. Não é qualquer forasteiro que entra no nosso submundo. Por isso, avaliam muito bem antes de nos deixar passar.

— Mas você não é príncipe ou algo assim de lá?

— Não falo por mim, bruxinha. — E ergueu a sobrancelha de um jeito sugestivo que deixava bem claro que eu era a forasteira ali.

Bufei, cruzando os braços.

Isso era tão ridículo quanto desnecessário. Estávamos apenas perdendo tempo.

— A minha mãe era humana. — Comentei, olhando em volta. — Se os guardas são tão eficientes assim, como ela passou?

— Seu pai era um Arius. Ele pode ter feito um feitiço de camuflagem ou algo do tipo. E quando perceberam, sua mãe já estava em Hidden.

— E por isso resolveram dizimar a minha família? Que bando de desgraçados!

— Mais respeito, mocinha. Nem todos nós somos cruéis assim. — A voz ecoou pelos quatros cantos da floresta antes que eu pudesse perceber de onde vinha exatamente.

Dei um pulo desajeitado para trás e esbarrei numa pedra grande, caindo de bunda no chão enlameado.

Tinha um duende barbudo com chapéu pontudo na minha frente.

Absolutamente do nada.

— Duende não, mocinha Arius. — Ele disse, claramente lendo a minha mente. — Somos gnomos. Não confunda as coisas.

Bati os cílios. Ele tinha falado no plural, mas então eu só tinha visto um. Contudo, logo uns cinco, seis, sete deles começaram a sair das águas. Todos com vestes simples e chapéus pontudos de todas as cores. As barbas enormes e as feições alegres destoavam do que o Ruggero tinha dito sobre serem carrancudos.
Contudo, eu me assustei.

O Príncipe LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora