Eu peguei no sono lá pela madrugada. Não consegui parar de bisbilhotar o livro, muito embora não entendesse quase nada e o meu celular fosse péssimo, impossibilitando que eu acessasse a internet como deveria.
Foi uma luta criar coragem para estuda-lo, mas estava se mostrando em vão sem um dicionário do lado.
O problema era que se eu não podia vender ou me livrar daquelas coisas, então eles tinham que me servir de algo e não só como um portal para as tragédias.
Uma parte minha quis domar aqueles conhecimentos. E essa parte ficava cada vez mais forte quando se lembrava dos momentos que passou com o motoqueiro insano lá no penhasco.
Ele me disse que me protegeria, contudo, eu não queria ser um peso, tampouco indefesa. Posso não fazer ideia do que está me caçando, mas quero estar pronta para me defender. Não quero que Ruggero ou qualquer outra pessoa se machuque por minha causa. Não de novo.E para além de tudo isso, meu corpo ficou hiperconsciente do fato de um cara estar dentro do meu apartamento. Por inúmeras vezes me estiquei até a beirada da cama, espiando Emmett dormir no colchão perto da parede da janela.
Ele ficou o tempo todo quieto, a respiração tranquila, não fez um ruído sequer, contudo, todos os meus instintos se mantiveram acesos, ciente de que por mais que eu gostasse dele, ainda assim, era uma situação adversa.
Todas as coisas que aconteceram despertaram em mim uma tendência perigosa à paranoia.
Não que eu já não fosse cismada antes de tudo isso...
— Bom dia, estranha! Vamos nos atrasar.
Resmunguei, mudando de posição. Eu estava exausta ainda. Apesar de ter ido dormir bem tarde, fiquei tendo sonhos esquisitos o tempo inteiro. Cada pesadelo pior que o outro.
— Hora de acordar, Karol! — Emmett insistiu. Senti quando algo puxou o meu dedão do pé, resmunguei de novo. — Você é o quê? Um urso hibernando? Acorda!
Escutei-o rir de sua piadinha. Tive vontade de rir também, mas ao invés disso fiz uma careta e bocejei, abrindo os olhos aos poucos.
— Que horas são?
— Ah finalmente! — Ele guinchou, alegre. — Sabe, é isso que eu chamo de enfiar a cara nos estudos. Você dormiu com o rosto literalmente em cima do livro. Aposto que era uma leitura fascinante.
Droga, eu me esqueci de guardar a porcaria do livro!
Dei um pulo, sentando-se desajeitadamente. Puxei o livro para debaixo do lençol, nem um pouco sutil.
De soslaio vi o colar em cima da mesinha perto da cama. Se era mesmo uma espécie de ajuda — seja lá de quem viesse a ajuda — eu teria de voltar a usá-lo. A ideia me deu um calafrio. Era como abrir uma porta e não saber o que iria encontrar do outro lado.
— Você não dorme, não? — Desconversei, esfregando os olhos.
— Bom, eu não queria ser um convidado encostado. Sei lá, você me acolheu aqui, então... acho que seria ridículo da minha parte dar qualquer tipo de trabalho.
Franzi o cenho. Era cedo demais para um discurso de como ele estava sendo bobo ao pensar que me incomodava, mas mesmo assim senti o ímpeto de falar.
As palavras até se organizaram dentro da minha cabeça e já iam saindo pela boca quando, em espanto total, olhei em volta, percebendo que ou tínhamos sido abduzidos para uma realidade paralela (coisa que não descarto mais) ou um milagre em forma de furacão da limpeza tinha passado pelo meu apartamento caótico.
Tudo estava impecavelmente em ordem.
Minhas roupas sujas desapareceram do chão, os poucos móveis se encontravam organizados em seus devidos lugares, o piso empoeirado brilhava e um cheiro gostoso de limão — meu desinfetante que ainda estava lacrado em baixo da pia da cozinha — impregnava o ar.
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O Príncipe Lobo
Fantasía#1° Em Ficção dia 22/09/2022 ~ #3° Em Juvenil dia 22/09/2022 "Desde quando completou sua transformação em lobo aos quinze anos, Ruggero Pasquarelli resolveu que abdicaria do trono e viveria pelas florestas de Hidden, o submundo onde nasceu. Ele não...