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𝚁𝚞𝚐𝚐𝚎𝚛𝚘

Os sentimentos são danos colaterais das escolhas que fazemos, sejam elas boas ou ruins. Independentemente do que você faça na sua vida, uma emoção será despertada, e se você não domá-la, ela irá soterrar você; exatamente como acontece comigo agora.

Se eu tivesse escolhido subir ao Trono de Hidden como era o meu destino, meu pai provavelmente teria uma morte tranquila, afinal seu legado permaneceria e tudo estaria nos trilhos. Contudo, a partir do momento em que virei as costas para a minha linhagem e decidi ser um lobo sem matilha, desencadeei um sofrimento sem precedentes ao único parente que me restou. E agora ele agoniza em seu leito de morte, pois, mesmo que eu tenha a chave de sua cura em mãos, não sou capaz de usá-la.

Se eu salvo um, o outro morre.

Não parece que há um caminho justo ou correto. Qualquer escolha minha gerará sentimentos de cunho doloroso. Ou alguém vai sofrer muito aqui, ou centenas de famílias vão lamentar a morte do patrono do submundo. A balança nunca pende para um bom lado, e eu estou cansado de tentar equilibrar as coisas.

Fico de cócoras e respiro fundo, observando o mar bater contra o penhasco no qual estou. Atrás de mim, uma fogueira queimando os restos do demônio que atacou a minha bruxa. Ele que volte para seu inferno.

Seguro o camafeu pendurado no pescoço, mas não ouso abri-lo. O objeto me traz lembranças amargas, porque dentro dele está a magia que me liga eternamente à Karol.
Lord Aharis fez uma magia de sangue e agora eu carrego um pedaço de nós comigo; um doloroso lembrete da escolha que fiz.

O que eu sinto, ela sente; se eu sofro, ela sofre; se eu estiver em perigo, ela saberá. E ao contrário também.
Tudo o que se passa com ela, passa-se comigo também. Talvez por isso ela queime no calor que emana de mim e eu me sinta completamente enfeitiçado por seu cheiro. Parece que ela está o dia inteiro impregnada até na minha alma.

Quando a ataquei na rua, dias atrás, embaixo daquela chuva toda, para lhe roubar um pouco de seu sangue e levar ao Lord para a magia, eu não pensava em como as coisas se desencadeariam.

Naquele dia eu não sentia nada por ela, além do óbvio. Não senti nem pena de cortar seu pulso com a minha unha e deixa-la sangrar o suficiente para encher o vidrinho que Aharis me emprestou, tampouco fiquei mal por vê-la apavorada ao dar de cara comigo naquela rua escura; menos ainda experimentei remorso quando a levei para casa e a deixei pensar que estava delirando...

E nos dias que se seguiram, foi até um pouco cômico constatar como a magia funcionava, pois, por mais que eu quisesse me afastar, eu sempre era chamado para ela; por isso a persegui em um primeiro momento; por isso ela teve tanto medo de mim.

Nunca foi uma simples loucura; era a nossa ligação.

Mas e agora? Ainda é pela magia?

— Por aqui eles usam celulares. Você poderia ter me falado que estava aqui.

— Porque a deixou sozinha?

Ouvi o som dos passos de Emmett se aproximando, depois o barulho das asas e, por fim, seu grunhido por causa do cheiro forte que emanava do corpo apodrecido do demônio em chamas.

— Ela não quer saber de mim. O que eu deveria fazer?

— Não ser tão covarde? — Retruquei, ficando de pé. — Se fizermos tudo o que ela quer, ela vai morrer antes que possamos imaginar.

O fogo estalava e suas cores refletiam contra o rosto do cara parado do outro lado.

— Sinto muito, Alteza, mas não vou força-la a nada.

O Príncipe LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora