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Fechei a cara para o seu rosto perfeito. Os olhos dele estavam de um amarelo mais intenso, puxando para tons de laranja, como se fossem pinceladas descuidadas de um artista ousado. Eu me prendi por um segundo na ferocidade de seu olhar, mas depois abaixei a cabeça para reagrupar os meus pensamentos embaralhados.

Ruggero era bom em mexer com as minhas emoções. As emoções boas e as ruins. Ele me levava aos extremos.

— Acho que tem razão. — Resmunguei, engolindo em seco a minha zanga. — Você é realmente um insano, um antipático e grosseiro. De verdade não preciso estar aqui. Por isso, adeus.

Dei passos decididos, remoendo fortemente a minha atitude. Eu não podia dar o meu braço a torcer. Não era porque ele havia se tornado um mar feroz dentro de mim que eu permitiria que me afogasse.

Se Ruggero queria realmente me ajudar e me proteger como dizia, teria que demonstrar isso com ações e não com sua rebeldia sem pé e nem cabeça. Eu não ia ficar à mercê de suas mudanças de humor e suas ordens.

Em mim ninguém manda.

E por mais que o idiota do meu coração se partisse um pouco a cada passo dado para longe dele, justamente pela tarde linda que tivemos no penhasco, ainda assim não parei.

Eu sobreviveria com o coração quebrado se fosse preciso.

— Karol, espera.

Empinei o queixo ainda mais e prossegui o meu caminho, cruzando o pátio, seguindo para o prédio. Emmett estava mesmo parado do lado de fora, esperando por mim.

Seu olhar era atento na minha direção.

— Será que você pode esperar?! — Ruggero resmungou, assombrosamente perto. — Karol!

Sacudi a cabeça, negando.

— Fique na companhia da sua arrogância.

— Dá para me ouvir?

— Já estou ouvindo e continuo com a mesma opinião.

— Teimosa! — Praguejou. — Malcriada!

Meu pulso foi agarrado e eu fui puxada. Girei sob os calcanhares, colidindo contra o peito dele. A pancada foi mais leve do que eu esperava. E imediatamente mergulhei na sensação absurda que sua presença exercia sobre mim.

Prendi o ar, mas mantive a expressão séria, fitando-o nos olhos.

— A única coisa que estou querendo é que tome cuidado. — Sibilou para mim. A voz era um poço de amargura, não havia um traço de amabilidade. — Não seja absurda ao ponto de acreditar e confiar cegamente nos outros.

— Até mesmo em você?

Especialmente em mim.

Titubeei, puxando ar para estabilizar meus batimentos atropelados.

— Como posso acreditar em você se a cada hora me passa uma impressão diferente? Qual é o seu verdadeiro eu, Ruggero? Aquele cara gentil de ontem ou esse... esse homem grosseiro que está aqui agora?

Não sei se foi o meu tom de voz ou o receio estampado no meu rosto, mas ele afrouxou as mãos que me seguravam e de pouco em pouco sua expressão foi suavizando até que a máscara de irritação caiu de vez, revelando uma alta dose de pesar em seus olhos solares.

— Estou tentando me entender. — Balbuciou, abaixando a cabeça, aparentando uma grande confusão interna. — Não quero te assustar.

— Parece o oposto.

— Karol...

— Ruggero, eu não quero sentir isso. — Eu me adiantei, buscando seu olhar. — Não quero ficar brava com você, especialmente depois de ontem. Porém, como quer que eu reaja se se comporta assim comigo por causa de uma bobagem? Olha... — Segurei seu rosto, fazendo com que me encarasse. — Eu sei que você pode ser diferente. E eu quero aquele cara gentil perto de mim, não esse. Não foi com ele que eu vivi aquele momento lindo.

O Príncipe LoboOnde histórias criam vida. Descubra agora