A criatura se embrenhou pelas barraquinhas que ficavam logo depois da roda-gigante. Precisei empurrar algumas pessoas para passar. Avancei a passos largos, pedindo licença, sendo guiada pelo brilho fosco daquele olhar branco que me chamava para o fim, sem saber que eu era quem iria colocar um ponto final nessa história.
Eu já podia sentir o poder fervilhando dentro de mim, fazendo as minha mãos tremerem. Um choque gélido subiu pela minha lombar, empertigando-me. De algum lugar da minha mente pude planejar o que faria. E meu foco era que, antes de mata-lo, o faria me contar quem o estava mandando atrás de mim.
Se a vovó estava mesmo certa, esse cara era só a base de uma pirâmide macabra; e lá no topo, longe do meu alcance, estava quem de verdade tinha algo contra a minha existência.
— Deixe-me adivinhar... — Falei, olhando em volta, parando bem depois da roda-gigante, numa rua mais afastada. — A bruxa tem que morrer?! — Ri, pousando as mãos na cintura.
Um sopro de ar fétido bateu contra o meu rosto e na mesma hora os pelos da minha nuca se arrepiaram. Eu levei menos de um segundo para me virar e dar de cara com a silhueta enorme e transfigurada que me fitava por trás de uma máscara de ódio.
Ele era exatamente como o Emmett tinha descrito e como eu me lembrava. Era a figura sombria que me espreitava pela janela do prédio da escola. Alto, negro, cabeça raspada, muitos músculos e muito tamanho. Isso em outro momento teria me assustado, mas não agora. Encarei-o bem no fundo dos olhos brancos. Independente de como acabasse, eu queria me lembrar da face daquele ser.
— Arius. — Ele disse, fazendo sua voz sinistra reverberar dentro da minha cabeça. — A hibrida.
Estreitei os olhos e engoli em seco, mantendo-me o mais firme possível, apesar do tremor que essas palavras me despertaram.
— Pensei que você só sabia falar uma coisa. Pelo visto aumentou o seu vocabulário nos últimos dias. — Sorri, ainda nervosa. — Andou lendo o dicionário nos dias em que não tentou me matar?
O demônio à minha frente abriu um sorriso maldoso, exalando mais ar fedorento na minha direção. Virei um pouco o rosto, mas ele se aproximou, passando a mão asquerosa pela minha bochecha.
— Tão humana... — Grunhiu. — Tem que morrer.
Empinei o queixo, dando uma risada rouca que subiu pela minha garganta como uma dose de veneno pronto para ser desferido.
— Quem te mandou aqui? Eu quero o nome.
Sua mão, que ainda me tocava, desceu até o meu pescoço. Pude sentir suas unhas pontiagudas quase rasgando a minha pele. Eu tinha certeza de que ele podia perceber como a minha veia pulsava, imitando os batimentos acelerados do meu coração.
— Qual o gosto do coração de uma hibrida? — Falou para si mesmo, pressionando a minha veia. — Eu vou mastigar a sua vida e depois vou cuspir cada pedaço seu na frente dele. Na frente daquele lobo maldito.
Eu senti em cada célula do meu corpo como aquilo era uma verdade para ele. Aquela criatura não tinha nada a perder. Não havia nada de minimamente humano naquele ser bizarro. Ele cheirava à enxofre e morte. Meu estômago se revirou, quase me fazendo vomitar.
Mas eu não deixei que o medo me vencesse. Se eu morresse, provavelmente outras pessoas importantes pra mim morreriam também. Não era só a minha vida em jogo.
Soltei uma risadinha baixa e agarrei o pulso dele, concentrando toda a minha atenção no que aprendi mais cedo. Não pensei que não conseguiria, sequer tive tempo de pensar no mundo em volta; apenas imaginei sua pele repulsiva em chamas, dilacerando-o de dentro para fora.
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O Príncipe Lobo
Fantasi#1° Em Ficção dia 22/09/2022 ~ #3° Em Juvenil dia 22/09/2022 "Desde quando completou sua transformação em lobo aos quinze anos, Ruggero Pasquarelli resolveu que abdicaria do trono e viveria pelas florestas de Hidden, o submundo onde nasceu. Ele não...