Capítulo LVIII - Montanha Russa

1K 68 19
                                    


            A Rotina no escritório era basicamente a mesma de sempre, minha vida era a mesma de sempre, eu estava acostumado, mudava o país e o idioma, mas algumas coisas não mudavam, nem mesmo as pessoas. Tudo aconteceu de forma tão rápida, fui integrado de volta ao time que tinha saído, mas ainda assim quase não vi o tempo passar, e quando percebi já tinha se passado 4 meses desde que eu estava ali, naquela sala.

- Estou te achando um pouco triste Sergei – estávamos a mais de uma hora conversando via Skype e ele parecia chateado.

- Estou com saudades de você – respondeu de maneira direta – estou com saudade das longas conversas com meu amigo, sinto sua falta Fabrício e não estou sabendo lidar com a solidão, minha vida está tão solitária aqui em Milão meu amigo – ele suspirou – também estou preocupado com meus país em Zagreb, estão ficando velhos e tamo que meus irmãos não queiram cuidar deles – Fiquei preocupado, Sergei tinha uns 34 anos, seus pais beirando os 70 anos e já não podiam cuidar sozinhos da casa e da propriedade.

- Eu sei amigo, também sinto sua falta – suspirei e lembrei do quanto gostava de morar fora - sinto falta da vida dali, dos amigos que eu fiz e de tudo que me foi possibilitado, sinto saudade do verão, das nossas longas conversas sobre tudo – Sergei me ouvia atentamente.

- Gostaria de passar um tempo com vocês aí no Brasil, gostei muito do tempo que fiquei aí, poderia muito bem morar nessa cidade, infelizmente não gosto mais da carência – eu sabia que Sergei sentia minha falta, por que eu também sentia falta dele, não era uma relação carnal, eu ganhei um amigo do peito, um irmão, confesso que ver ele desse jeito me incomodou e após nossa longa conversa fiquei muito preocupado com ele.

----------------------------------------------------------------------------------------------------------

Olhando os parreirais de uva ao longe pela janela refleti, eu realmente estava me adaptando, não foi tão árduo assim o meu trabalho no início, então demorei bem menos do que imaginei para reorganizar os documentos e deixá-los prontos para entregar ao cliente, para a primeira grande auditoria do cliente que passaríamos, não deixaria passar uma virgula, pois era meu nome e o da empresa que estavam em jogo. Eu era esperto, cobra criada e meu chefe bem mais, não nos lascaríamos por pouco e sabíamos disso caso não tivéssemos agido rapidamente.

- Fabrício, o auditor está aqui – desviei minha atenção, Tatiana estava parada a porta e logo atrás dela estava o profissional que iria auditar minha parte dos documentos, ela parecia tensa.

- A sim – andei na direção deles – pode entrar, Tatiana, obrigado – com um sorriso apreensivo ela saiu e me deixou sozinho, mas não estava com medo.

- Podemos começar? – O auditor era um homem absolutamente sem graça, um pouco arrogante, não tão mais velho que eu e nem tinha atributos que me fariam prender a atenção nele, estávamos ali para uma demanda, para um compromisso profissional, então faríamos apenas isso, não me importei nem em pedir seu nome.

- Claro – após fechar e porta apontei a mesa onde estava todos os documentos, ele me olhou e sorriu – os documentos estão todos aqui, fique à vontade, qualquer dúvida eu estarei a disposição – me sentei na poltrona e aproveitei para analisar um documento que Valmir havia me mandado por e-mail.

A auditoria tão esperada havia terminado, após horas, deixando todos muito mais calmos e satisfeitos e com um certo alivio. Não almocei, apenas tomei um copo de café e comi umas bolachas na copa do escritório, eu estava muito feliz, sensação de dever cumprido.

Naquela tarde um pouco após o fim do expediente eu estava me dirigindo a sala do meu chefe, eu estava feliz, foi realmente corrido e estressante os dias que antecederam a auditoria documental para no fim durar em torno de umas 4 horas. O que me deixou feliz foi que o fiscal me deixou um e-mail formal me parabenizando pela minha organização documental e pelo apoio e profissionalismo e todo tempo que fui auditado. Uma única coisa me preocupava naquele momento, era encarar Valmir sabendo que ele iria me encher de elogios.

Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora