Guilherme me fez relembrar uma fase da minha vida que eu não via com saudades, mas como um aprendizado, uma fase complicada.
Novembro de 2008
- Mano...posso entrar? – Perguntou Guilherme todo acanhado, olhei para ele e demonstrei indiferença.
- Pode... – dei de ombros.
- Obrigado – disse ele com um sorrisinho sem graça. Ele sentou e esticou as pernas, eu estava deitado de bruços e pude notar o quão masculino ele estava.
Faziam um pouco mais de 9 meses que eu tinha voltado para casa, tudo era recente, a morte do Adriano que me deixou muito abalado, a minha aceitação, a minha relação com o meu pai ainda era estranha, ele nunca demonstrou tanto carinho por mim quando eu era mais novo e de uma hora para outra virou o "super pai", tentando de todas as maneiras se aproximar de mim o que nem sempre eu queria, era errado não querer seu carinho, eu sei, mas ainda o via como uma ameaça, por mais que ele se mostrasse totalmente o contrário e fosse carinhoso e até aceitou minha orientação sexual eu ainda tinha medo de ele atirar em mim
Meu irmão Guilherme era 5 anos mais velho do que eu, o filho preferido digamos assim, nunca tivemos uma relação boa de irmãos, lógico que não brigávamos, mas nunca fomos amigos, nunca andamos junto, era cada um na sua, quando ficávamos sozinhos em casa e íamos assistir era cada um no seu canto ou fazendo algo de seu interesse, ele nunca me protegeu dos "meninos grandes", na verdade também nunca precisei, ele nunca me ensinou nada sobre adolescência ou me ensinou a fazer barba e tal, na verdade nem meu pai fez isso, coisas normais entre irmão como me dar algumas dicas para chegar em alguma mulher, muito menos me levou para algum lugar com ele ou com a turma de amigos, disso eu nunca reclamei.
Guilherme era ariano assim como eu, eu era de abril e ele de março, mas tínhamos personalidades totalmente diferentes se tratando do signo. Ele sempre foi estourado, encrenqueiro, por isso mesmo só tinha 3 grandes amigos, Arthur e Júlio, dois patetas que gostavam de me encher o saco, sendo que ele nunca me defendeu ou reclamou com eles e Luciano, irmão do meu melhor amigo até então. Dele eu tinha um pouco de medo, Luciano sempre encarava os outros nos olhos e tinha um olhar frio, lembro que o comparava e mafiosos, justamente pelo seu jeito frio de ser.
- Você está bem mano? – ele me cutucou com seu pé chamando minha atenção.
- Por que não estaria? – Respondi ele com outra pergunta – e por favor, não me cutuque com seus pés, tire – os da minha cama, eles estão suados... – ele se encolheu sem graça, peguei pesado.
- Desculpa, acabei de chegar do trabalho... – justificou ele.
- O que você quer aqui no meu quarto Guilherme? – me ajeitei ficando de frente para ele pois estava incomodado com essa aproximação dele.
- Fabrício... – Ele me encarou um pouco sem graça e então tomou coragem – eu queria me aproximar mais de você, é difícil falar disso... – interrompi ele.
- Você já está próximo de mim...não é nada difícil... – Ele negou.
- É sim, faz mais de 6 meses que você voltou para casa, a mãe pode não perceber, mas tu não fica a vontade perto de mim e do pai... – Então era isso.
- Guilherme, até o ano passado você não se importava, por que vai começar a se importar agora? Não precisa... – Ele me interrompeu.
- Precisa sim! – Exclamou ele alterando a voz e se aproximando de mim.
- Não! – Foi a minha vez de alterar a voz a se afastar dele ficando de pé - quando eu precisei lá atrás, tipo há uns 8, 9 anos você não se importou – ele me olhou espantado.
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Coração Ferido
RomanceEntre encontros e desencontros muita coisa pode acontecer. O amor vem de onde menos se espera, ele pode nos surpreender. A dor, anseios e tudo o que gira a vida de dois amigos, pode mudar o sentimento deles de um para o outro?