Capítulo XXXVIII - A Mascara Caiu

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Os três primeiros dias foram os mais difíceis, quase insuportáveis. Tirando o jet lag e o fuso horário, eu tentava esquecer o que tinha acontecido, mas tudo me vinha a cabeça, absolutamente tudo. Luciano me vinha a cabeça, a cena dele com André fodendo na mesa de trabalho dele e de tudo que ele me disse até chegar a aquele ponto também vinham, eu estava perdido. A minha magoa era grande, principalmente por que em certo ponto eu entendi que o Luciano era machista, prepotente e arrogante, como gay passivo eu podia levar a culpa, ser o "veadinho", a fêmea, ele não seria visto com maus olhos, afinal eu era somente para uma foda, era para isso que ele me procurava, a muito tempo eu deixei de ser seu amigo, entender isso doeu, mais do que a noite em que João me violentou e o "eu te amo" que ele sempre me dizia perdeu a graça.

A ideia de que eu ficaria bem permanecia forte, mas a sensação de impotência e de ser enganado também estavam ali, enraizada no meu subconsciente, era horrível. Então cheguei a conclusão, eu não o conhecia mais, Luciano era uma incógnita e eu passei a me questionar se quer um dia eu o conheci. Será que tudo não foi feito de caso pensado? talvez o monstro que todos falavam e eu não via ou não queria ver sempre esteve ali, talvez agora eu veria tudo com muito mais clareza e aprenderia a não cair em ciladas. Para o meu próprio bem eu tinha que ficar esperto, por isso mesmo decidi aproveitar as oportunidades e não me apegar.

Nesse meio tempo também recebi uma excelente notícia, mas que não me surpreendeu. Recebi os exames de sangue que havia feito em um laboratório dois dias depois que eu cheguei apontavam que eu estava limpo, tanto os da rotina quanto o de HIV que não detectou nada. No fim ia dar tudo certo e eu poderia prosseguir com minha vida, pelo menos era o que eu esperava. Outra coisa que me intrigava é que eu não sabia como aquela foto tinha ido parar na mão dele.

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Voltei a trabalhar numa terça feira, uma semana depois que havia retornado de casa. Era meu primeiro verão, ou melhor, minha primeira alta temporada na Europa e os termômetros no norte do país chegaram fácil aos 33° C enquanto na capital Roma a temperatura estourou os 40° C. Mesmo sendo de um país tropical a temperatura alta me incomodava, eu era do Sul, o ar úmido dos alpes a mais de 100 km longe dali fazia com que a umidade ficasse lá em cima e de repente parecia que eu estava na região norte do Brasil de tão insuportável que o calor podia ficar, o pior é que o mormaço, o cheiro de água e lama podiam piorar a sensação, e o mar longe dali me dava certa inveja dos Genovenhos.

- Tomar esse chá gelado foi uma excelente ideia – comentou Pablo que tomava o terceiro copo. Haviam muitas pessoas ali e Rick olhava atentamente para elas, estávamos na principal praça da cidade, por onde se via haviam pessoas sentadas a beira da fonte e esticadas no gramado tentando de qualquer maneira se refrescar.

- Foi mesmo, fora que não é tão calórico – ele alisou a barriga fazendo Pablo revirar os olhos.

- Vocês são uma graça – sorri para os dois.

- Por que diz isso? – Perguntou Rick, ele me lembrava muito o Luciano.

- Por que só vocês três mesmo para me tirarem de casa em um sábado a tarde para tomar um chá na praça – observei que haviam algumas pessoas tomando banho de fonte e algumas mulheres usavam biquínis.

- O Josh não quis vim? – Perguntou mama Enola que se deliciava com um gelatto de frutas vermelhas e chocolate e observava as mulheres com ar de reprovação – que vergonha – resmungou ela.

- Não... – Pablo ficou pensativo – ele anda meio estranho...quer dizer, ele sempre foi estranho, mas agora está um pouco frio e arrogante – Rick comentou, eles não se davam de jeito nenhum.

Coração FeridoOnde histórias criam vida. Descubra agora