Untitled Part 28

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Coisas às quais nos apegamos

Segundo Jimmy, há uma nota de dois dólares em circulação para cada doze notas de um

dólar.

— Mas as pessoas ficam com elas — disse ele, enquanto eu colocava meu casaco para ir

até a loja. A lâmpada que fica sobre a pia da sala dos fundos havia queimado, e Jimmy não

tinha outra. — As pessoas acham que as notas de dois dólares são especiais. É por isso que

não se vê muitas delas por aí.

É, pensei. Pessoas como você! Mas fiquei quieta, porque eu não deveria saber o que ele

guardava no cofrinho do Fred Flintstone.

— Mas eles odeiam essas notas na A&P. Não há espaço na caixa registradora para as

notas de dois dólares. Eles têm que tirar a bandeja e guardá-las embaixo. E sempre

esquecem que elas estão lá. Por isso você precisa pedi-las.

— Certo — falei. — Vou pedir.

* * *

Annemarie estava atrás do balcão usando seu avental, toda feliz. Algumas crianças da

escola haviam entrado — clientes pagantes — e ela estava escrevendo o nome delas com

maionese nos sanduíches antes de colocar a parte de cima dos pães, cortados em um "V"

perfeito. Colin estava a seu lado, fazendo a mesma coisa. Annemarie fez um gesto me

chamando. Notei que ou ela estava com muito calor, ou estava usando maquiagem.

— Vou perguntar ao Jimmy se podemos comer almôndegas no almoço — cochichou

ela. — Já que amanhã é dia de Ação de Graças.

— Ótimo — respondi, embora não achasse aquelas almôndegas muito melhores que

meu sanduíche de queijo de sempre. Elas ficavam ali na panela dia após dia.

— Volto já — disse a ela. — Se alguém pedir chocolate quente, diga que esperem por

mim.

* * *

Não havia nenhuma nota de dois dólares na A&P, e quando voltei para a lanchonete do

Jimmy com as lâmpadas, as crianças tinham ido embora e Julia estava parada em frente ao

balcão de sanduíches. Annemarie e Colin já haviam começado a preparar seus almoços.

Imaginei que Jimmy tinha negado as almôndegas, porque eles estavam pegando queijo.

Julia, que fingiu não me ver entrar, parecia estar no meio de um longo discurso sobre

queijo processado não ser queijo de verdade, estritamente falando. Vi seus dedos longos

gesticulando na direção do falso queijo e soube instantaneamente que seu corte em V seria

impecável, que segunda-feira ela já estaria atrás do balcão com Annemarie e Colin, e que o

avental, o mesmo que ficava largo e cinza em todo o mundo, de alguma forma ficaria

perfeito nela. Ela acharia uma forma de ajustá-lo para servir, algum truque que uma

garçonete de Paris lhe ensinara.

Então Jimmy veio dos fundos segurando uma pilha de bandejas de plástico molhadas.

— Você — ele apontou para Julia com uma braçada de bandejas. — Fora. Já avisei uma

vez.

Julia tirou a mão da bancada de preparação. Annemarie corou:

— Só estamos conversando — disse. — Não tem nenhum cliente aqui no momento.

— Na verdade, eu sou uma cliente — disse Julia cruzando os braços. — Vim comprar

um sanduíche. Tenho dinheiro. — Ela levantou sua bela bota de forma que a ponta de

couro verde ficou apontada para o teto.

— Fora — disse Jimmy, praticamente rosnando. — Agora.

Depois que ela saiu, fingi concordar com Annemarie sobre ele ser um pouquinho

louco, mas ao voltarmos para a escola com nossos sanduíches de queijo e alface, levei

comigo um sentimento aconchegante. Jimmy podia ser resmungão, mas ele percebera

direitinho quem era Julia, assim como eu.

amanhã você vai entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora