Untitled Part 27

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Coisas complicadas

Annemarie e eu paramos no banheiro do quarto andar antes de voltarmos para a sala de

aula depois do almoço. Ela disse que queria lavar as mãos de novo depois de mexer com

todo aquele peru.

— Hoje foi divertido — falou, olhando-se no espelho e penteando os cabelos com os

dedos. — Queria que tivéssemos mais de quarenta minutos para o almoço.

— Odeio contar os pães — eu disse. — É chato.

Ela riu.

— Pelo menos suas mãos não ficam cheirando a peru químico.

Pelo menos você pode ficar de brincadeira com Colin atrás do balcão, pensei. Sempre

tenho que sair para comprar algo, que limpar alguma meleca ou que conversar com o Sr.

Manchas Amarelas.

— Vamos — chamei. — Estou faminta.

Julia estava parada do lado de fora da nossa sala, quase como se estivesse nos

esperando.

— Ah, não! — Ela suspirou profundamente e apontou para o braço de Annemarie. —

Ah, Annemarie, seu suéter azul-turquesa. Seu favorito. Pobrezinha!

E mamãe achava que eu era dramática.

Annemarie olhou para a bainha do suéter, suja de mostarda. Eu não tinha ideia de que

aquele era seu suéter favorito.

— Isso sai — disse Annemarie. — Meu pai consegue limpar.

Julia encostou-se à parede e arrumou a faixa no cabelo.

— Não entendo por que está trabalhando. Você não precisa de dinheiro. — E parou

para me olhar. — E, sem querer ofender, mas aquele lugar é meio nojento. Vi uma barata

lá uma vez.

— Eu gosto de lá — disse Annemarie. — Na verdade, é bem divertido.

— Aquele cara que trabalha lá é repugnante.

— Ele não é repugnante! — falei. — E ele não "trabalha lá" — acrescentei, fazendo aspas

no ar. — Ele é o dono.

— Nós não recebemos pagamento — disse Annemarie, com calma. — Ele só nos dá

sanduíches.

— E refrigerantes — completei, mostrando meu Sprite.

— Certo — disse Julia, falando apenas com Annemarie, como se eu não existisse. —

Como se você pudesse ficar comendo sanduíches e tomando refrigerante.

Annemarie fechou um pouco a cara.

— Ah, é bom.

— Tudo bem — disse Julia. — Deixe para lá.

O Sr. Tompkin veio até a porta.

— Por que vocês três não estão aqui dentro? A leitura começou há cinco minutos.

Enquanto entrávamos na sala, falei baixinho a Annemarie:

— Não é de estranhar que você não queira mais ser amiga dela. Ela é tão grossa com

você.

Por um instante, Annemarie não disse nada. Depois sussurrou:

— É, às vezes.

Nós nos separamos e fomos para nossos lugares.

O Sr. Tompkin havia deixado um livro em minha mesa. Ele sempre tentava me fazer

ler algo novo. Esse tinha a figura de uma menina cheia de atitude na capa e uns prédios

atrás dela. Coloquei a menina corajosa de lado, peguei o meu livro e abri em uma página

qualquer para ver onde eu iria começar.

Meg estava no planeta Camazotz, onde vários menininhos, na frente de suas casas

iguais, jogavam com suas bolas iguais. As bolas batiam no chão exatamente ao mesmo

tempo, todas as vezes. Então os meninos se viravam no mesmo instante e entravam nas

casas idênticas. Menos um deles. Ele estava sozinho do lado de fora e a bola corria para a

rua. A mãe dele saía, muito nervosa, e o levava de volta para dentro.

Estava imaginando como o Sr. Tompkin odiaria a ideia de um lugar onde todas as

casas fossem exatamente iguais quando algo me atingiu com força atrás da orelha. Virei a

cabeça e vi Julia rindo em silêncio atrás de seu livro. Olhei para o chão e vi o elástico que

ela havia atirado em mim. Na minha cabeça.

Achei que estivéssemos apenas irritando uma à outra, mas estava enganada. Era guerra

amanhã você vai entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora