Coisas que deixamos para trás
— Adivinhe só? — disse Annemarie quando liguei para a casa dela à noite, para ver se
estava bem. — Alguém deixou uma rosa aqui na porta.
— Para você?
— Não sei... talvez.
Claro que era para ela. Para quem mais seria?
— Havia algo junto? Um cartão?
— Não. Só a rosa. — A voz dela estava aguda e empolgada. — Estranho, né? Imagino
que...
— Ei, posso fazer uma pergunta? Você não pode comer pão?
Ela ficou em silêncio.
— Não é por nada, mas a Julia falou...
— Não — interrompeu-me ela. — É importante. Eu devia ter contado. Tenho epilepsia...
— Ah.
— E não posso comer pão nem amido. É uma dieta maluca sobre a qual meu pai leu,
mas funciona de verdade. Geralmente fico bem. As pessoas nem sabem que tenho essa
doença, porque há anos quase não tenho convulsões.
— Foi isso o que aconteceu hoje?
— Sim. Eu meio que dei um tempo na dieta. Foi legal trabalhar na lanchonete do
Jimmy com vocês, comer o que eu quisesse sem ninguém para me olhar de cara feia ou
dar sermão.
Mas alguém lhe havia passado um sermão: Julia.
— Você ainda pode trabalhar com a gente. É só não comer aquela comida ruim.
Ela riu.
— Eu sei. Na verdade, meu pai faz meu almoço todos os dias. Tenho jogado no lixo no
caminho para a escola. Ele está bastante zangado.
Aquilo era difícil de imaginar.
— Bem, mas minha mãe encontrou a rosa na nossa porta quando chegou do trabalho. É
perfeita. Estranho, não?
Deixei que ela falasse um pouco mais sobre quem poderia ter deixado a rosa lá, e por
quê. Eu sabia que ela queria que eu dissesse que provavelmente teria sido Colin, mas não
consegui pronunciar aquelas palavras.
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amanhã você vai entender
AcakPara Sean, Jack e Eli, campeões de risadas em horas impróprias, de amor intenso e de questões extremamente profundas. A experiência mais bela que podemos ter é o misterioso. — Albert Einstein Como vejo o mundo (1931)