Untitled Part 22

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O segundo bilhete

Os pães de sanduíche são entregues na loja do Jimmy de manhã cedo, antes de ele chegar.

Ainda vejo o grande saco de papel encostado na porta fechada todos os dias quando vou

para a escola. Não coloco os pés na lanchonete desde dezembro, mas adquiri o hábito de

olhar para aquele saco, e quando o vejo, sempre acho que estou sentindo o cheiro do pão

que está ali dentro, mesmo sabendo que não passa de uma lembrança.

Em novembro, eu contava a encomenda de pães de Jimmy todos os dias, tirando os

pães de dois em dois e colocando-os no saco vazio do dia anterior. Lembro-me de ter

encontrado seu segundo bilhete no meio do saco, na segunda-feira.

A mesma letrinha esquisita, o mesmo papel enrugado. Mas esse começava com meu

nome.

Miranda:

Sua carta deve contar uma história — uma história verdadeira. Você não pode

começar agora, pois a maior parte dela ainda não aconteceu. E mesmo depois que

acontecer, não precisa ter pressa. Mas não espere muito, pois suas lembranças

podem se apagar. Exijo o máximo de detalhes que possa dar. A viagem é di􀄰cil, e

preciso pedir meus favores enquanto ainda consigo ouvir minha mente.

Mais uma coisa: sei que você mostrou meu primeiro bilhete a alguém. Peço-lhe

que não mostre os outros. Por favor. Não estou pedindo por mim.

Li e reli o bilhete. Mas preciso dizer que não tinha ideia do que ele significava... até

recentemente. E preciso dizer mais uma coisa: fiquei com medo. Você me assustou de

verdade.

* * *

— Você está contando esses pãezinhos ou memorizando-os?

Jimmy estava atrás do balcão, empurrando um pedação de presunto bem rápido para a

frente e para trás no fatiador elétrico, como ele gostava de fazer.

Enfiei o bilhete no bolso e voltei a contar os pães, mas havia me perdido e tive que

começar tudo de novo.

Alguns minutos depois, um caminhão de entregas parou em frente à loja, e Jimmy foi

falar com o motorista.

— Ei — disse Colin assim que Jimmy fechou a porta —, vamos descobrir o que está no

cofrinho do Fred Flintstone.

— De jeito nenhum — falou Annemarie. — Você enlouqueceu?

— Você fica vigiando — eu disse a ela enquanto seguia Colin até a sala dos fundos. Ele

já estava com o cofre nas mãos, sacudindo-o, mas quase não havia barulho.

— Gente — disse Annemarie. — É melhor não...

— Estamos só olhando! — gritei. — Ande logo — disse a Colin.

Ele estava tentando tirar o tampão de borracha que havia debaixo do cofre.

— Deixe-me tentar — sussurrei.

— Não. Já consegui — disse ele, e o tampão estava em suas mãos.

Batemos as testas tentando olhar dentro do buraco ao mesmo tempo e então juntamos

os rostos, algo que eu não esperava fazer. Quase não dava para ver o rosto de Colin

daquela posição, mas senti que ele sorria.

— Legal — disse ele. — Está cheio de notas de dois dólares!

Ele estava certo. O cofre estava praticamente lotado de notas de dois dólares, dobradas

em pequenos triângulos, com o número "2" aparecendo dos lados.

— Gente, ele está vindo! — Annemarie parecia em pânico.

Afastamos as cabeças, e Colin enfiou o tampão de borracha de volta no lugar. Eu estava

na frente quando Jimmy abriu a porta para o cara da entrega, que carregava uma pilha de

refrigerantes em um carrinho.

— Ei, moça! — gritou Jimmy. — Preciso de você. Isso é trabalho para homem.

— Desculpe. — Colin veio cambaleante, dos fundos, usando seu avental. — Pausa para

ir ao banheiro.

Annemarie sorriu para mim enquanto Colin e Jimmy colocavam os refrigerantes na

geladeira grande perto da porta.

— Vocês são malucos, sabia? — disse ela.

Eu ainda podia sentir o ponto onde a cabeça de Colin ficara colada à minha.

— Eu sei. O que fizemos foi meio estúpido.

Voltamos para a escola com Colin entre nós duas. Ele andava em zigue-zague e batia os

ombros nos nossos, dizendo:

— Boing! Cinco pontos. Boing! Dez pontos.

E nós ríamos como idiotas.

amanhã você vai entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora