Untitled Part 36

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Coisas dadas

Devolvi os pães à mochila de Colin, coloquei o casaco, joguei minha mochila nas costas e

desci as escadas, dois degraus de cada vez. Havia uma multidão de crianças do lado de

fora, como sempre, empurrando, rindo e conversando, mesmo com o tempo ainda

congelante e a chuva que acabava de começar. Tirei um minuto para procurar por Sal,

como sempre faço. Nem sinal dele. Enrolei o cachecol da mamãe nas orelhas, virei para o

norte e comecei a subir a ladeira até a casa da Annemarie.

Aquilo não fazia sentido. Não o fato de Colin ter pegado os pãezinhos. Na verdade,

esse era justamente o tipo de coisa que eu esperaria dele. Mas meu cérebro gritava todo

tipo de perguntas: Como alguém poderia saber que Colin pegaria os pães? Quando o

bilhete fora colocado no bolso do meu casaco? Não me ocorreu que você pudesse tê-lo

deixado ali no mesmo dia em que colocou o primeiro bilhete no livro sobre a vila de

esquilos. Nem cogitei isso. Só fui saber muito tempo depois.

E por que eu? Pulei uma valeta cheia de água da chuva e dei os últimos passos até o

prédio de Annemarie. Por que eu estava recebendo bilhetes? Por que eu tinha que fazer

algo a respeito de seja lá o que fosse de ruim que ia acontecer? Eu nem tinha entendido o

que precisava fazer! Escrever uma carta sobre algo que ainda não aconteceu?

* * *

"Miranda", disse meu cérebro. "Nada vai acontecer. Alguém está brincando com você."

Mas e se meu cérebro estivesse errado? E se a vida de alguém realmente precisasse ser

salva? E se não fosse uma brincadeira?

O porteiro de Annemarie fez um gesto para que eu entrasse. Lá em cima, o pai dela

atendeu à porta com um cigarro apagado na boca e perguntou se eu queria um pouco de

macarrão frio com molho de gergelim.

— Hum, não. Obrigada.

— Limonada espumante então?

Ele me ajudou a tirar o casaco úmido. O forro estava todo grudado em meu suéter.

Fui até o quarto de Annemarie equilibrando minha limonada e uma água gelada para

ela, junto a um pratinho de amêndoas que seu pai havia aquecido. Amêndoas quentes

parecem meio nojentas, mas na verdade têm um sabor muito bom.

Annemarie ainda estava de camisola, mas parecia bem.

— Meu pai não para de me dar comida — disse ela, pegando um punhado de

amêndoas. — E não me deixa trocar de roupa. Diz que pijamas fazem bem à alma. Não é

idiota?

Sentei na beirada da cama.

— Essa é a rosa? — Estava no criado-mudo, em um vasinho prateado, bem o tipo de

coisa que ela teria em casa.

Ela fez que sim com a cabeça e olhou para a flor. A rosa era perfeita, estava se abrindo,

como em uma foto de revista.

amanhã você vai entenderOnde histórias criam vida. Descubra agora