Coisas que não fazem sentido
Marcus e eu chegamos à Broadway sem dizer nada. Eu estava pensando.
— Pensei em uma pergunta para você — falei finalmente.
— Certo.
— Digamos que eu construa uma máquina do tempo. — Esperei para ver se Marcus ia
rir, mas ele fez apenas um gesto positivo com a cabeça e ficou pensativo. — E digamos que
eu decida voltar para a quarta-feira passada. Digamos que eu queira ir ao cinema enquanto
a "outra eu" ainda está na escola.
— Certo.
Expirei uma grande nuvem branca.
— Eu não vou chegar na quarta-feira passada até sair daqui certo? Quer dizer, não vou
saber se realmente chegarei lá até realmente chegar lá.
— Certo. Na sua experiência, você não saberá se realmente chegou lá até sair daqui.
Quer dizer, a não ser que se lembre de ter visto você mesma na rua, ou algo do tipo. Ou
poderíamos perguntar ao bilheteiro do cinema — ele falava sério.
— O quê?
— No cinema. A qual deles você está planejando ir? Porque podemos perguntar ao
bilheteiro se você esteve lá. Então saberemos se chegará ou não.
— Mas eu ainda não saí daqui! Ainda nem construí a máquina do tempo.
— E daí? Não importa quando você sai. Só importa se chegou lá. Espere. Esqueça o que
eu disse. Importa, sim, quando você sai. Porque se você só sair daqui a cinquenta anos,
mesmo que tenha estado lá, o bilheteiro provavelmente não vai reconhecê-la.
— Do que está falando?
— Bem, digamos que você termine de construir sua máquina do tempo daqui a
cinquenta anos. Você estará com...
— Sessenta e dois — falei.
Estávamos em frente à escola, esperando o sinal ficar verde para atravessarmos a rua.
Eu podia ver garotos vindo de todas as direções, agasalhados com gorros e cachecóis.
— Certo, então digamos que você tenha 62 anos, entre na máquina e volte para a
quarta-feira passada, dia tal de dezembro de 1978. Você vai ao cinema. O bilheteiro vai ver
uma mulher de 62 anos, certo?
— Certo — concordei, e até então tudo fazia sentido.
— Então, se passarmos no cinema hoje e perguntarmos a ele se a viu na quarta-feira
passada, ele dirá que não. Porque o bom-senso dirá a ele que você não pode ser aquela
mulher de 62 anos e ela não pode ser você. Entendeu?
Fiz que não com a cabeça.
— Se perguntarmos hoje, ele pode não ter me visto mesmo. Porque eu ainda não estive
lá. Porque ainda não voltei no tempo.
— Ai — disse uma voz atrás de nós. — Não é tão complicado.
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amanhã você vai entender
RandomPara Sean, Jack e Eli, campeões de risadas em horas impróprias, de amor intenso e de questões extremamente profundas. A experiência mais bela que podemos ter é o misterioso. — Albert Einstein Como vejo o mundo (1931)